Descrição de chapéu Eleições 2018

Para Janaina Paschoal, Bolsonaro será eleito por 'pluralidade'

Deputada estadual com maior votação na história de SP diz que candidato teve votos de pessoas pobres, negras, homossexuais e mulheres

A candidata a deputada estadual, Janaina Paschoal, vota em São Paulo
A candidata a deputada estadual, Janaina Paschoal, vota em São Paulo - Ana Gabriela Verotti/Folhapress
Ana Gabriela Verotti
São Paulo

​​​No domingo, usando vestido e de cabelo molhado, contrastando a cabeleira cacheada que lhe é mais comum, ​Janaina Paschoal (PSL) votou sem grandes manifestações em seu colégio eleitoral. "Eu desci do carro e veio uma senhora: 'olha, eu acabei de votar em você'. Quem gosta de mim reconhece, quem não gosta também. Mas, graças a Deus, a maioria gosta"​, risos.​

Foi reconhecida e cumprimentada por alguns dos poucos presentes na Universidade Anhembi Morumbi, na avenida Paulista, por volta de 10h. É verdade que no horário não havia muitos eleitores no local, mas provavelmente nem Janaina acreditava que, naquele mesmo dia, chegaria a mais de 2 milhões de votos como deputada estadual por São Paulo.

A fama, com a qual Janaina diz já ter se acostumado, começou com o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016. As duas irmãs da candidata, cujas fisionomias não escondem​ o​ parentesco, marcam essa época como o principal momento de ​mudança. "Desde o impeachment ela já é famosa", dizem as duas, que revelam ser constantemente confundidas com a ​nova deputada estadual.​

Às 10h30min,​ após a votação, Janaina dizia não saber o que aconteceria, mas que ganhar a eleição não era o mais importante para ela. "O mais importante é ter participado disso. Foi muito bom, porque eu não tinha noção do quanto o povo tinha aprovado o impeachment. Não tem preço quando um gari para de varrer a rua para te abraçar e chora", diz, lembrando de sua campanha.

"​É muito legal você constatar que faz uma coisa e que a grande maioria acha aquilo bom"​, complementa, reafirmando sua posição de que o processo tinha sido bom para a "correção jurídica". "​Independentemente do resultado dessa campanha​ quanto a mim​,​ ​isso aqui valeu muito a pen​a. ​A gente aprende ​a l​ógica do eleitor, do voto​. É de uma riqueza ​í​mpar​."​

A então candidata não se lamentou por ter declinado a vice-candidatura na chapa de Jair Bolsonaro (PSL). "​Na cabe​ç​a das pessoas​,​ ele vai ganhar e eu vou me arrepender​. Mas se ele ganhar, eu vou ficar sossegada", afirma.​

Questionada sobre as contestadas declarações do candidato e de se vice, Janaina afirmou que, em regra, não concorda com as frases. "A manifestação do pensamento, por mais dura que seja a ideia, precisa de um treino para a gente expressar da maneira mais respeitosa possível", afirma.

Declarando-se defensora da democracia e da liberdade de expressão, Janaina disse que, por outro lado, passou “anos estudando tolerância e pluralidade”. “Não posso exigir do outro essa capacidade de se policiar o tempo inteiro para expressar sua ideia de maneira muito respeitosa”, afirma, adicionando que um treino seria uma solução para “manter o pensamento e colocá-lo da maneira mais branda possível”.

“O General Mourão [vice de Bolsonaro] nunca teve tanta visibilidade, então acho que é questão de treinar, sensibilizar”, diz.

“Eu escrevi no Twitter e, se tiver oportunidade, vou falar pessoalmente para o candidato Bolsonaro: ele foi votado por uma pluralidade. As pessoas que vinham conversar comigo para dizer, sobretudo, que iam votar nele eram pessoas muito pobres, muito ricas, brancas, negras, homossexuais, mulheres. Os números provavelmente mostrarão, mas acho que preciso dar esse testemunho. É muito importante ele ter isso em mente para, em sendo eleito, governar para essa pluralidade.”

Janaina disse não saber como seria um eventual governo com os dois eleitos, mas afirmou que teve contato com Bolsonaro durante as tratativas de vice e que o capitão reformado lhe pareceu muito aberto.

Ela conta que quando o candidato teve a ideia de adicionar 10 ministros ao Supremo Tribunal Federal, ela lhe disse que isso não era uma questão de opinião. “Ele falou: 'você está dizendo que não concorda?’ E eu disse que não, que aquilo era constitucionalmente errado. Então ele disse: ‘se é errado eu vou retirar’.”

“Recebi isso como um bom sinal, por ele ter se submetido a esse limite constitucional e porque quem levou essa informação para ele foi uma mulher. Em nenhum momento ele ligou para um homem para perguntar se eu estava certa”, afirma.

Perguntada sobre esse fato ser um possível exemplo da falta de preparo de Bolsonaro para a presidência, a candidata disse não ver problema em um líder que não sabe de tudo. “Um bom líder é aquele que escolhe bem com quem vai trabalhar e respeita o conhecimento da sua equipe. É mais perigoso um líder que acha que sabe tudo, a chance de fazer bobagem é maior”.

Janaina afirmou ainda que ficou surpresa por ver, em pesquisas de intenção de voto para deputados, “muita gente desconhecida”. “Acho que é um teste para saber se dinheiro é o que realmente conta mais, porque tem pessoas que ajudaram a organizar movimentos, têm visibilidade na internet, têm uma história de ativismo, e esses nomes não aparecem [nas pesquisas].”

Ela contou que seu primeiro gasto da campanha foi a contratação de um advogado eleitoral, de quem estava “até com pena”. “Ele trabalhou pra caramba. Eu não dou trabalho de fazer nada errado, mas eu pergunto tudo, porque quero fazer o mais correto possível. Por um lado, por estar muito exposta; por outro, porque eu acho que é possível a gente ser eleito da maneira correta. Brasileiro tem muito essa mania de ‘dá-se um jeito’, mas eu acho que a gente tem que aprender a cumprir regra”, diz.

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