Descrição de chapéu Eleições 2018

Pivô da queda de Geddel, Calero volta a Brasília para 'tirar Rio da crise'

Ex-ministro da Cultura, eleito deputado federal pelo PPS, quer maior articulação com Planalto

Joelmir Tavares
São Paulo

Pouco mais de 50.500 votos levarão de volta a Brasília o carioca Marcelo Calero, 36.

Dois anos após deixar o Ministério da Cultura do governo Michel Temer, detonando a bomba que derrubou o então colega de Esplanada Geddel Vieira Lima, o ex-ministro foi eleito neste domingo (7) deputado federal pelo PPS.

"Vou defender a união da bancada do estado, que tem que trabalhar para tirar o Rio de Janeiro da maior crise da sua história", diz ele.

A prioridade, segundo Calero, será ampliar a articulação do estado com o governo federal. "O pacto federativo concentra os recursos na União. Temos que tentar alternativas, atrair investimentos, para nos tirar dessa espiral tão negativa, para gerar emprego, renda, fazer o estado voltar a crescer."

O advogado e diplomata foi o pivô de uma das piores crises do início do governo Temer. Denunciou ter sofrido pressão de Geddel, então titular da Secretaria de Governo, para liberar uma obra em Salvador. Com o escândalo, o baiano pediu demissão.

"Fui confrontado com o que há de pior na política brasileira: a corrupção", escreveu Calero na página de sua campanha a deputado, buscando reforçar a imagem de combativo e independente que passou a ser associada a ele. A fama serviu de impulso para sua eleição.

"Da minha fortaleza espiritual, tirei força e coragem para enfrentar um ministro poderoso —o Geddel das malas de R$ 51 milhões— e um presidente já denunciado duas vezes, por corrupção e formação de quadrilha", continuou no texto, mencionando o ex-ministro e o atual ocupante do Planalto.

O carioca diz que eleitores sempre lembravam o episódio ao vê-lo pedindo voto, "panfletando no sinal, fazendo esse trabalho de formiguinha", e que ficou "muito lisonjeado com as manifestações".

"Quando eu saí do ministério, muita gente me perguntou por que eu não tinha liberado a construção do edifício [de Geddel]. Falavam: 'Ninguém ia saber'. Mas eu ia saber! Era uma questão de valores, de ter consciência de qual era o lado certo e o errado."

Para Calero, a volta à capital federal é diferente porque desta vez ele tem mandato popular. "Retorno com o voto dos cariocas."

Cariocas que, de acordo com ele, o elegeram para trabalhar, é claro, pelo combate à corrupção, mas também para defender "o Estado eficiente, a pauta de educação e cultura".

O ex-ministro contou com o apoio de artistas —o imortal Arnaldo Niskier e o sambista Haroldo Costa estavam no lançamento da candidatura— e recebeu R$ 50 mil de doação do apresentador Luciano Huck.

Ele arrecadou, até o momento, R$ 1,1 milhão. Huck deu a quarta maior contribuição. O principal financiador foi o próprio PPS, que repassou R$ 338 mil por meio da direção nacional.

Calero foi ainda um dos participantes do RenovaBR, entidade privada que propõe renovação e oferece formação para lideranças políticas, além de fornecer uma bolsa de ajuda de custo.

O futuro parlamentar já havia tentado ser deputado federal em 2010, pelo PSDB. Não se elegeu. Foi filiado ao MDB e ocupou a Secretaria Municipal de Cultura do Rio na gestão do prefeito Eduardo Paes (MDB). Também presidiu o Comitê Rio 450, que organizou as comemorações do aniversário da capital carioca.

Segundo o recém-eleito, o desejo por renovação nesta eleição estava "muito contundente" e o morador do Rio, apesar de decepcionado, transformou a crise em "fator de entusiasmo" e passou a discutir política como nunca antes.​

"Todas as pessoas com quem eu conversava falavam que queriam mudar, que queriam rostos novos, para nos livrar dos escândalos, dessas pessoas que representam a velha política", afirma.

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