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Propina da JBS pagou reforma de casa de filha de Temer, indica PF

Obra pode ter custado até R$ 2 milhões, segundo relatório

Filha de Michel Temer, Maristela Temer participa de jantar
Filha de Michel Temer, Maristela Temer participa de jantar para seu pai - Mastrangelo Reino - 23.set.2010/Folhapress
Camila Mattoso Letícia Casado
Brasília

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No relatório final sobre corrupção no setor portuário, a Polícia Federal afirmou que há “indícios concretos” de que dinheiro de propina da JBS a Michel Temer pagou a reforma da casa de uma de suas filhas, Maristela Temer

Segundo o delegado Cleyber Malta Lopes, o emedebista acompanhou detalhes da obra, inclusive financeiros, contradizendo depoimentos da família.

De acordo com o texto enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (16), o presidente era copiado em emails.

A reforma foi realizada entre 2013 e 2015 e, segundo a investigação, pode ter custado até R$ 2 milhões. Grande parte foi paga com dinheiro vivo.

A casa de Maristela fica no bairro Alto de Pinheiros, região nobre de São Paulo.

Quem comandou a obra foi o coronel amigo de Temer, João Baptista Lima Filho, e sua esposa, Maria Rita Fratezi, que é arquiteta.

A Folha revelou em abril que Fratezi foi pessoalmente em um dos fornecedores entregar valores em espécie

Em delação premiada, executivos da JBS disseram ao Ministério Público que repassaram como propina R$ 1 milhão ao coronel Lima, a pedido de Temer.

Os recursos seriam parte de um total de R$ 15 milhões em doações de campanha, supostamente acertados com o político.

A data de entrega do valor coincide com o período das obras, o que chamou a atenção da polícia. 
Florisvaldo Oliveira, ex-funcionário da JBS, disse que levou R$ 1 milhão ao coronel, na sede de uma de suas empresas, a Argeplan, em 2 de setembro de 2014. 

“R$ 1 milhão repassado para Lima, sob o qual recai indícios concretos de utilização direta em reforma de imóvel de  Maristela, configurado também o crime de lavagem de dinheiro”, escreveu o delegado. 

A polícia anexou uma troca de mensagens no relatório entre a mulher do coronel e a filha do presidente como prova de que Temer sabia detalhes da obra.

“Olá Maristela te enviei por mail, os descontos da Indusparquet. Bj. Rita”, escreveu Fratezi. “Ok. Passo para o papai?”, perguntou Maristela.

“Passei os preços para João [Baptista], que disse que vai aprovar com ele”, respondeu a arquiteta.
Para a PF, o diálogo “não deixa dúvidas de que Temer de fato estava acompanhando as obras do imóvel de Maristela, inclusive os custos.” 

Segundo o delegado Cleyber Malta Lopes, as mensagens expõem uma contradição do depoimento da filha do emedebista, que disse que seu pai “não auxiliou com nenhuma parte dos recursos que a depoente utilizou”.

A polícia também acha que há contradição nas respostas dadas por Temer no inquérito. Ele disse que “nunca” realizou “negócios comerciais ou de qualquer outra natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros para o sr. João Baptista Lima Filho”.

Outro ponto apontado pela PF é que Maristela Temer disse em depoimento que gastou cerca de R$ 700 mil com a obra, mas a investigação conseguiu juntar provas que mostram que o valor é superior, podendo chegar a R$ 2 milhões. 

A declaração da filha do presidente fez a "situação se agravar", segundo a polícia. 

"Maristela não apresentou qualquer recibo que comprovasse em definitivo que os gastos foram suportados de fato por ela", diz o relatório. 

A PF pediu a prisão de Lima e outros quatro investigados. O Ministério Público ainda terá de se manifestar e o ministro Luís Roberto Barroso é quem vai decidir. 

Os indiciados pela PF foram: Michel Temer, sua filha, Maristela Temer, Rodrigo Rocha Loures, seu ex-assessor, Antonio Greco, ex-diretor da Rodrimar, Ricardo Mesquista, também da Rodrimar, Gonçalo Torrealba, diretor do grupo Libra, o coronel João Baptista Lima Filho e sua mulher, Maria Rita Fratezi, amigos de Temer, Carlos Alberto Costa e seu filho, diretor da Argeplan, e Almir Ferreira, contador da Argeplan.

Os crimes apontados são: corrupção passiva, ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

OUTRAS OBRAS

A PF afirma no relatório que o coronel Lima já tinha um histórico de realização de obras para o presidente Temer.

Além da residência de Maristela, a polícia aponta três outros serviços prestados, em 1988, 1993 e 1999.

As reformas foram feitas, segundo o delegado, em residências do emedebista e em seu comitê eleitoral. 

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