Descrição de chapéu Eleições 2018

Grupo de generais monta QG em Brasília para discutir governo Bolsonaro

Maioria dos participantes é militar da reserva liderada pelos generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira

Mariana Carneiro
Brasília

Nesta quinta-feira (11), um grupo de cerca de 20 homens, a maioria vestida de terno e gravata e com mais de 45 anos, participava de uma reunião no local que se converteu em quartel-general de Jair Bolsonaro (PSL) em Brasília. 

Hall de entrada para salas de reunião onde parte da equipe de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) se encontra no Hotel Brasília Imperial
Hall de entrada para salas de reunião onde parte da equipe de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) se encontra no Hotel Brasília Imperial - Pedro Ladeira/Folhapress

O tema em discussão era segurança pública. Na sala, mesas foram deslocadas para o centro, e os participantes, sentados à volta, formavam uma espécie de arena. 

A maioria dos participantes era militar da reserva, todos liderados pelos generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira, oficiais de quatro estrelas —o que no jargão militar representa a mais alta patente do Exército. 

Civis também integravam o grupo. Eles foram convidados para apresentar ideias ao time que tem como missão elaborar propostas para um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL).

O time passou esta quinta-feira reunido em dois turnos, de manhã e à tarde, com uma pausa para o almoço, por volta das 14h, em um restaurante no andar de cima. 

Desde meados de setembro, o chamado “grupo de Brasília” de aliados de Bolsonaro se reúne no subsolo do Hotel Brasília Imperial, no Setor Hoteleiro Sul —um edifício de três andares e que tem como principal atrativo o preço (barato), segundo um dos participantes da equipe. 

A diária de uma sala no hotel sai por R$ 700, mas um integrante do grupo diz que conseguiu negociar um desconto graças à proximidade com os donos do Imperial, da família Bittar, proprietária de outros hotéis na capital.

A reportagem procurou a administração do hotel para saber qual o preço pago pela equipe de Bolsonaro, mas a gerência negou que haja reuniões partidárias no Imperial. 

Na área dedicada a eventos, no subsolo, algumas obras de arte e fotos penduradas nas paredes compõem a decoração, formada também por duas cadeiras antigas com o estofado gasto e vasos com plantas de plástico. 

As pequenas salas de reuniões dividem espaço com a academia de ginástica, que nenhum hóspede usava no momento em que os aliados de Bolsonaro se reuniam no cômodo ao lado.

Até se mudar para o subsolo do Hotel Brasília Imperial, o grupo se encontrava uma vez por semana no apartamento de Ferreira, uma cobertura na Asa Norte. O núcleo é composto por cerca de 12 pessoas —entre os quais Heleno e Ferreira, o também general Aléssio Ribeiro Souto, dois brigadeiros da reserva da Aeronáutica e oficiais de patente intermediária do Exército e do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. 

Heleno foi o primeiro a aderir a Bolsonaro e recebeu a notícia de que o capitão reformado sairia candidato antes do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. 

O grupo de Brasília começou a se formar em setembro de 2017, quando Ferreira foi convidado por Bolsonaro a participar da elaboração de um plano de governo.

As reuniões no apartamento da Asa Norte começaram em março deste ano e ocorriam às quartas-feiras para que Bolsonaro, em Brasília para cumprir a agenda parlamentar, pudesse participar. O formato era sempre o mesmo: um especialista convidado dava uma palestra, todos debatiam e Ferreira tomava nota.

Às vésperas da apresentação obrigatória do plano de governo à Justiça Eleitoral, em agosto, o programa do grupo estava pronto. Bolsonaro optou, porém, por entregar um documento mais superficial, elaborado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para assumir a Casa Civil caso o capitão reformado seja eleito. 

O grupo de Brasília continuou a se reunir, com o objetivo de depurar as ideias, que poderão começar a ser colocadas em prática ainda durante uma eventual transição.

Eles decidiram mudar o endereço do QG da cobertura de Ferreira para o Hotel Brasília Imperial após a fusão com o time liderado pelo economista Paulo Guedes. A unificação, selada em 17 de setembro, traria mais colaboradores, o que faria explodir o consumo de pão de queijo e biscoitos, servidos pela mulher do militar, Cilma, técnica aposentada do TCU (Tribunal de Contas da União) e braço direito de Ferreira. 

Hotel Brasília Imperial, onde parte da equipe de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) se encontra para planejamento
Hotel Brasília Imperial, onde parte da equipe de campanha de Jair Bolsonaro (PSL) se encontra para planejamento - Pedro Ladeira/Folhapress

O elo entre o grupo de Brasília e o de Guedes é o economista Adolfo Sachsida, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que colabora com Bolsonaro desde o fim de 2017. 

Ele recrutou especialistas para a maior parte dos 27 grupos temáticos que estão sob o guarda-chuva de Guedes. Tanto militares quanto civis dizem trabalhar sem remuneração, e a falta de verba limitou o convívio com especialistas de outros estados, uma vez que não há orçamento para pagar viagens. O próprio Guedes viajou com recursos próprios para compromissos em Brasília.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.