A reta final da campanha presidencial elevou a tensão entre os diversos grupos que orbitam a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Alguns deles já temem pela coesão das alas caso o deputado seja eleito neste domingo (28).
No centro das discórdias está a crescente subida de tom de Bolsonaro, apesar de ele prometer um discurso de união nacional para a eventualidade da vitória.
No domingo passado (21), Bolsonaro fez por meio da internet um discurso incendiário pedindo prisão ou exílio de opositores. No mesmo dia, circulou o vídeo em que seu filho Eduardo, numa palestra em julho, sugere fechar o Supremo Tribunal Federal.
Em ambos os episódios, sob pressão, o candidato recuou. Até a cúpula das Forças Armadas fez chegar a ele um pedido por moderação.
Na campanha, a situação foi vista como desastrosa por integrantes do chamado grupo dos generais, o influente centro de elaboração de propostas de governo.
A confusão contaminou a seara econômica do bolsonarismo. O ministro da Fazenda indicado, Paulo Guedes, comentou a conhecidos que pretende ofertar a permanência de atuais integrantes da área. Disse que quem quiser ficará —um recado claro a nomes como Ilan Goldfajn (Banco Central) e Mansueto Almeida (Tesouro).
Isso contrariou o presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno, que transformou a casa de Bolsonaro na Barra da Tijuca (Rio) em um bunker desde que o candidato teve alta hospitalar das cirurgias que sofreu após a facada levada em Juiz de Fora, em setembro.
Bebianno é incentivador da alta temperatura retórica e vê como negativos acenos à gestão Temer. Os filhos de Bolsonaro por ora têm acompanhado sua posição.
O deputado, por sua vez, assoprou ao dizer ao site Poder360 que há pessoas que “prestam” no atual governo.
Com a alegação de que há risco de novos atentados, o acesso ao candidato vem sendo regulado até a apoiadores próximos, assim como ocorreu quando o deputado esteve internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Integrantes de movimentos que aderiram à candidatura de Bolsonaro, como o Nas Ruas, não foram convidados para eventuais celebrações de vitória.
Os encontros políticos não são desprovidos de arestas. Depois de a Frente Parlamentar da Agropecuária visitar Bolsonaro e insinuar que gostaria de um parlamentar na Agricultura, o até então favorito para o cargo, o ruralista Luiz Antonio Nabhan Garcia, levou produtores rurais para visitar Bolsonaro.
Seu acesso a Bolsonaro, contudo, tem sido restrito. No bunker, além da família, só têm presença constante Bebianno, o vice-presidente do PSL, Julian Lemos e, sempre com um celular gravando vídeos à mão, o senador Magno Malta (PR-ES) —tendo fracassado ao tentar reeleger-se, busca espaço.
Os ruídos também são audíveis na área política. O presidenciável já delegou ao deputado reeleito Onyx Lorenzoni (DEM-RS) a sua eventual Casa Civil e o controle da negociação com o Congresso.
Tanto Bolsonaro quanto Bebianno afastaram a ideia de o PSL ter também a presidência da Câmara, o que irritou o presidente licenciado do partido, o deputado reeleito Luciano Bivar (PE).
Bivar poderá lutar para retomar a cadeira de Bebianno, o que é crise certa caso o interino não vire ministro da Justiça, como é especulado.
Se depender do grupo dos generais e do PRTB do vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, isso não irá acontecer. Eles consideram o currículo de Bebianno insuficiente.
Aliados de Bolsonaro também afirmam que o flerte para sustentar-se no cargo promovido pelo atual presidente da Câmara, o deputado reeleito Rodrigo Maia (DEM-RJ), enfrenta resistência do núcleo familiar de Bolsonaro.
O vaivém de nomes para cargos desagradou o candidato, que deu declarações desautorizando indicações. Salvo uma nomeação em massa rápida, em caso de vitória, é inócua a irritação: as especulações seguirão, como em toda transição.
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