Descrição de chapéu Eleições 2018

Surpresa no 2º turno de MG, Zema surfa em Bolsonaro e já ameaça deputados

Estreante em eleições, empresário do Novo encara agora o tucano Anastasia

Carolina Linhares Daniel Carvalho
Belo Horizonte

Por mais que diga que se expressou mal, foi a partir do momento em que pediu votos para o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), no debate da TV Globo, na terça-feira da semana passada (2), que o empresário Romeu Zema (Novo), 53, começou a disparar nas pesquisas de intenção de voto para o Governo de Minas Gerais.

No último domingo (7), obteve 42,73% dos votos válidos e não só tirou da disputa o atual governador, Fernando Pimentel (PT), como também chega ao segundo turno à frente do então favorito, Antonio Anastasia (PSDB), que atingiu 29,06%.

O candidato ao governo de Minas Gerais, Romeu Zema, antes de registrar seu voto
O candidato ao governo de Minas Gerais, Romeu Zema, antes de registrar seu voto - William Álvaro/Divulgação/Folhapress

Apesar de ainda não expor qual presidenciável abraçará na nova fase da eleição, Zema faz críticas ao PT e diz que candidatos a deputado estadual e federal apoiadores de Bolsonaro se identificam com o seu partido, o Novo.

“Conversei com muitos deles porque eles viram no partido Novo o que mais se aproximava dos ideais que eles querem. Me apoiaram de livre e espontânea vontade”, disse à Folha nesta segunda-feira (8) menos de 24 horas após ter se tornado uma das maiores surpresas da eleição nacional.

Estreante na política, defende livre mercado e menos intervencionismo do Estado.

Para administrar o déficit de R$ 11,4 bilhões nas contas do estado previsto para 2019, caso seja eleito, acena com propostas como reduzir o número de secretarias de 21 para 9, eliminar 80% dos cargos de indicação política, renegociar a dívida federal e promover uma reforma da Previdência.

Nos costumes, defende a “total tolerância a homossexual”, mas pondera: “Não queremos é que alguém imponha o modo de vida aos outros”.

O candidato diz que “escola tem que ensinar português e matemática” e que é contra levar para o ensino “questões de esquerda” porque “muitas vezes o professor tem um viés”. “Sou favorável a ter moral e cívica, coisa que tem faltado em Minas e no Brasil.”

Ele também é crítico da “ideologia de gênero”. “Falar para alguém que ele ainda não é nem homem nem mulher, isso eu discordo. Todos nós nascemos biologicamente determinados. Podemos até não seguir essa determinação biológica, que eu respeito. Agora, ficar numa idade prematura, criando nas crianças uma confusão mental, com isso eu não concordo”, afirma.

Crítico da “velha política”, Zema diz que, vencendo no segundo turno, espera conseguir governar com uma Assembleia Legislativa composta por 26 partidos baseado no diálogo e na ameaça de expor deputados. “Se alguém se negar a contribuir com o futuro de Minas, ele vai estar se condenando para a próxima eleição, porque eu vou deixar muito claro que aquela pessoa está ali por interesse próprio e não para representar o povo que o elegeu”, afirmou.

Empresário de MG se afastou de negócios

“Um dia, estava chegando numa prefeitura e tinha duas entradas. Eu já ia pela rampa que não tinha ninguém, muito mais fácil e rápido de subir. Quem me acompanhava disse: ‘Você tem que passar pelo meio das pessoas para cumprimentá-las’. Sempre fui pelo caminho mais rápido. Agora, tenho que ir pelo caminho em que fico mais visível."

Mais velho de três irmãos, Romeu Zema Neto nasceu em Araxá (a 366 km de Belo Horizonte), tenta sua primeira eleição na vida e procura passar a imagem de quem ainda está aprendendo a ser político.

“Na vida empresarial, você preza muito pela eficiência. Eu vou encontrar com você com um objetivo. Na vida política, você tem muitos encontros que não têm nenhum objetivo a não ser conhecer a pessoa.”

Zema é dono de um conglomerado empresarial familiar que fatura mais de R$ 4 bilhões ao ano e está presente em 10 estados. O Grupo Zema foi fundado em 1923 e atua na revenda e distribuição de combustíveis, lojas de varejo, com móveis, eletrodomésticos e vestuário, concessionárias de veículos e serviços financeiros. Ao todo, são mais de 800 pontos de vendas.

Em 2016, se afastou da presidência do grupo, cargo que passou a ser ocupado por César Chaves, primeira pessoa de fora da família a assumir o posto. Do comando do conselho de administração, Zema saiu no início deste ano, passando o bastão para o irmão, Romero, dono de concessionárias de carros. O candidato tem ainda uma irmã, Luciana, dona de loja de roupas.

A empresa da família tem cerca de 5.300 funcionários, mas o candidato nega qualquer pressão por apoio à sua candidatura, hipótese investigada pelo Ministério Público.

Na intenção de assumir um estado endividado, Zema procura passar sinais de austeridade na campanha. Durante o primeiro turno, ele e uma assessora dirigiram para a maioria das agendas em 170 cidades ou, no máximo, usaram carro de aplicativo, diz uma auxiliar. Jatinho, ela afirma, só na reta final, para grandes deslocamentos.

Dono de um patrimônio declarado de quase R$ 70 milhões, Zema informou à Justiça Eleitoral ter gastado no primeiro turno cerca de R$ 250 mil a menos do que arrecadou.

Formado em administração, o candidato é divorciado e pai de dois filhos, um estudante de engenharia de 22 anos, que mora em São Paulo, e uma estudante de cinema de 25, que vive em Londres.

Na correria de campanha, teve que se afastar da casa em Araxá para viver em hotéis pelo estado e se viu obrigado a abrir mão de dois hobbies: a corrida e a leitura.
 

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