Descrição de chapéu Eleições 2018

Vice, Hamilton Mourão teve o presidente como calouro na academia

Condição de militar pesou para sua escolha para compor chapa vitoriosa

Vice de Mourão, general Hamilton Mourão, faz selfie com eleitora - Mateus Bonomi/Folhapress
São Paulo

Eleito vice-presidente da República, Antonio Hamilton Mourão, 65, viu subvertida a hierarquia militar neste processo eleitoral.

Mourão é general de quatro estrelas —a patente máxima do Exército— e foi veterano do capitão Jair Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). 

O vice se diz zeloso à hierarquia: “Canso de dizer, decisão de comandante não se discute”. E foi com resignação que aceitou a remoção do cargo de chefe de Finanças do Exército. 

Em dezembro de 2017, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, decidiu o retirar do cargo após críticas públicas ao governo Michel Temer, numa palestra no Clube do Exército, a convite do grupo Ternuma (Terrorismo Nunca Mais). “Foi considerado uma ofensa, fui exonerado, uma coisa normal”, diz.

Sobre o regime militar brasileiro, o vice afirma que não era esse bicho-papão que a esquerda, por “desonestidade intelectual”, tenta vender.

Diz não aprovar a tortura. “Não é um método interrogatório válido, mas foi aquilo utilizado naquele momento”, diz ele, que chancelou uma homenagem a Brilhante Ustra, chefe da repressão na ditadura.
A condição de militar pesou para a escolha de Mourão como vice de seu calouro —uma vacina anti-impeachment.

Deputado federal mais votado da história em números absolutos, Eduardo Bolsonaro afirmou que, no início do processo, aconselhou o presidente eleito a escolher um “faca na caveira” como vice para que não compensasse “correr atrás de um impeachment”.

Desde a redemocratização, três vice-presidentes ascenderam ao cargo: José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer.

Mourão entrou na chapa vitoriosa depois de fracassarem outras negociações.
Antes dele, vieram Augusto Heleno (também general), Marcos Pontes (astronauta), Janaina Paschoal (uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma e eleita deputada estadual em São Paulo com votação recorde) e Luiz Philippe de Orléans e Bragança (herdeiro da família real). 

Maçom há 20 anos, Mourão defendeu no ano passado, diante de “irmãos” da maçonaria, a intervenção militar se o Judiciário “não solucionar o problema político” e colecionou polêmicas.

Defendeu também uma nova Constituição, formulada por uma comissão de notáveis. “Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo”, afirmou.

Declarou que famílias pobres “sem pai e avô, mas com mãe e avó” são “fábricas de desajustados” e chamou de “mulambada” os países latino-americanos e africanos com os quais o Brasil manteve relações comerciais. Disse também que o 13º salário é uma “jabuticaba brasileira”.

Filho de militar e de uma professora universitária, Mourão se descreve como “liberal na economia e conservador nos costumes” e à Justiça Eleitoral se declarou indígena.

Do pai herdou o horror ao comunismo e da mãe, a tradição de ler —mais de um livro ao mesmo tempo, se possível.

Durante a campanha, leu “A Ascensão do Dinheiro”, de Niall Ferguson, e uma biografia de Thomas “Stonewall” Jackson, general que lutou do lado confederado, que defendia a continuidade da escravidão, na guerra civil americana.

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