Descrição de chapéu Eleições 2018

Bolsonaro dribla vizinhos festeiros, nomeia ministro e comemora com núcleo duro

O astronauta Marcos Pontes diz ter aceito ministério da Ciência e Tecnologia

Sérgio Rangel
Rio de Janeiro

Vivendas da Barra, casa 58, rua C. Ali, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) montou o seu quartel general desde o início da campanha e celebrou a vitória com vizinhos, políticos emergentes e dezenas de policiais federais que participaram do esquema de segurança do condomínio.

 A festa chegou ao ápice às 19h18, quando a vitória nas urnas de Bolsonaro foi confirmada. Moradores, quase todos vestidos de verde e amarelo, começaram a soltar rojões e gritar “mito”. Dezenas de acotovelavam em grades instaladas pelos agentes de segurança na frente da casa do novo presidente e celebravam o resultado. Algumas mulheres abraçadas aos filhos choravam.

“ Lula Ladrão, seu lugar é na prisão”, gritavam os vizinhos do presidente, enquanto o foguetório deixavam os cachorros do condomínio assustados..

“A geração desses porrinhas está garantido com o nosso voto. Essa é a herança que vamos deixar para eles”, berrou um pai, apontando para o filho no colo da mãe.

Na primeira fila da grade, uma avó beijava o neto de 11 meses e dizia: “Você vai para a escola sem ter que ver o kit-gay”

Policiais comemoravam também de forma discreta.

Dentro da casa, Bolsonaro recebia familiares, políticos próximos, do chamado “núcleo duro”,  e fazia pronunciamentos para as TVs e a sua rede social.

Os futuros ministros da Defesa, general Augusto Heleno, da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Fazenda, Paulo Guedes, foram festejar a vitória na casa do presidente.

Hélio Bolsonaro, eleito deputado federal, e o empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro no Senado, e o senador Magno Malta também passaram celebrando o resultado das urnas na residência do candidato do PSL.. 

 Apesar de cercado de vizinhos na porta da frente, Bolsonaro os evitou. Por volta das 21h, ele deixou a sua casa pelos fundos e seguiu para a residência de um dos filhos na rua paralela do condomínio.

Os Bolsonaros moram lá há dez anos. A caminhada é de menos de 100 metros entre as duas casas. Mesmo assim, ele usou colete à prova de balas.

De lá, o candidato do PSL fez uma rápido pronunciamento exibido num telão para os eleitores, que estavam na avenida Lúcio Costa.

Na casa do filho, ele encontrou Alexandre Frota, eleito deputado federal por São Paulo, o lutador José Aldo e o astronauta Marcos Pontes. A residência tinha policiais até no telhado.

Ao deixar a casa, Pontes contou que havia acabado de aceitar o convite para ser ministro da Ciência e Tecnologia. Ele fez um discurso de unir os acadêmicos e pesquisadores e disse que Bolsonaro prometeu crescer o orçamento da pasta de R$ 2,7 bilhões no próximo ano para cerca de R$ 15 bilhões em 2020.

Confirmado no Ministério da Defesa, o general Augusto Heleno era um dos mais empolgados..

“Tenho que sair daqui. A Michelle [mulher do presidente] é evangélica e o Bolsonaro não bebe nada. Vou tomar alguma coisa para relaxar”, disse o futuro ministro, enquanto era cercado por moradores. Ele foi um dos mais fotografados no condomínio.

Ao ser questionado se chegou a temer a derrota, ele brincou: “Medo tenho do Flamengo não ser campeão do Brasileiro”.

Ele disse que embarcaria nesta segunda (29) para Brasília, onde começará a trabalhar na transição com o governo de Michel Temer.

“Temos muitos desafios. Estamos na beira do abismo depois de quase 15 anos de má gestão, desvio de dinheiro, muita corrupção. A primeira preocupação será colocar a casa em ordem. Agora é que vai começar o governo. Até então, era um ensaio”, disse Heleno, que não quis declarar se manterá a intervenção federal na segurança pública do Rio.

Neste domingo (28), Bolsonaro só deixou o condomínio para votar e ficou acompanhando o pleito cercado de amigos e do clima de “já ganhou”.

Desde cedo, o clima no condomínio era de festa. Em várias casas, os moradores  arrumavam as chopeiras e as churrasqueiras. A rua c era a mais animada. 

“Vamos ganhar a eleição de lavada", comemorava uma das vizinhas do presidente eleito, vestida de camisa verde amarela e segurando uma bandeira do Brasil pouco depois do meio-dia.

O condomínio tem um esquema de segurança especial, que conta com dezenas de policiais federais e grupos de elite das polícias do Rio. Até atiradores foram colocados em prédios nos arredores. 

Desde sexta, a Polícia Federal colocou grades cercando a casa. Uma cortina camuflada também foi colocada na varanda para afastar os curiosos.

Dois furgões (um da Globo e outro de uma produtora) com antenas para transmitir imagens de lá estavam estacionados na frente da residência. As vans das outras emissoras ficaram do lado de fora do condomínio. 

Policiais do Core, grupamento de elite da Polícia Civil, vigiavam os arredores da casa.

Depois das 14h, o clima de festa aumentou com os moradores fazendo churrasco e dançando ao som do "mito chegou", música que embala os apoiadores do candidato do PSL desde início da campanha. 

Na frente da casa, a filha de Bolsonaro, Laura, 8, jogava vôlei com amigas. Ele permanecia dentro de casa com os familiares e amigos. 

Na rua ao lado, mais de uma dezena de moradores com camisas do candidato conversavam sobre a eleição enquanto crianças batiam bola. Lá, policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM viraram atração para os moradores. Eles tiravam fotos com os policiais armados de metralhadoras. 

Dois furgões do batalhão ficaram estacionados na frente da casa de um dos filhos de Bolsonaro. 

Os moradores do condomínio de alto padrão já discutiam o futuro governo. "Quero ver esse pessoal [em referência aos opositores] voltando a trabalhar a partir de amanhã" , disse um dos moradores, seguindo com um grupo de amigos para a portaria, local de concentração dos apoiadores de Bolsonaro. 

Lá, centenas de eleitores cantavam e festejavam a eleição do capitão reformado mesmo antes da abertura das urnas. 

"Todos me olharam muito desconfiados, mas não teve agressão. Apenas uma mulher disse que era uma afronta estar vestida assim", afirmou a universitária Mariana Loureiro, 21, ao entrar no condomínio, com uma camisa vermelha e adesivos de apoio a Fernando Haddad.

REDUTO BOLSONARISTA 

O condomínio de 150 casas é um reduto de aliados do candidato do PSL. Apenas uma tinha uma bandeira em apoio ao petista.

Apesar de ter casas confortáveis e ficar numa área segura da Barra da TIjuca, zona oeste, o condomínio é considerado vulnerável pelos especialistas em segurança. 

As residências são muito próximas e sem grades. A preocupação maior dos policiais era a comemoração após a abertura das urnas. Milhares de pessoas se aglomeravam na portaria do condomínio. 

O general Augusto Heleno disse que Bolsonaro também deverá deixar a casa nos próximos dias por questão de segurança.

Ele contou que “há informes consistentes” de ameaças a vida do presidentes eleito. Ele citou um vídeo feito na avenida em frente ao condomínio que captou uma mulher com uma faca.

“Ela vai dizer que era para cortar queijo, mas sempre nos preocupa. Essa aversão vai continuar, mas esperamos que esse clima seja superado. O país exige conciliação e precisamos sair dessa crise juntos”, disse o futuro ministro da Defesa, cercado por eleitores de Bolsonaro.

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