Após divergências, PT muda documento e deve eliminar críticas a Dilma

Ordem do comando da sigla é ater debate à avaliação eleitoral e atuação futura do partido

Marina Dias
Brasília

Após divergências entre seus principais dirigentes, a cúpula do PT decidiu amenizar a autocrítica em relação ao governo Dilma Rousseff e restringir o discurso à avaliação eleitoral e ao papel do partido como oposição a Jair Bolsonaro (PSL).

Uma comissão de nove petistas —egressos de diferentes correntes partidárias— havia sido escalada para elaborar um texto que serviria de roteiro para o encontro do Diretório Nacional da sigla, nesta sexta-feira (30) e sábado (1º), em Brasília. O documento, porém, gerou desconforto e deve ser substituído.

Diretório do PT, em São Paulo
Diretório do PT, em São Paulo - Zanone Fraissat - 24.jan.2018/Folhapress

No texto inicial, ao qual a Folha teve acesso, a condução da economia durante o segundo mandato de Dilma, com medidas de ajuste fiscal, é apresentada como um dos principais erros da legenda, combinada à dificuldade do partido em combater a pecha de "corrupto" e a onda conservadora que culminou com a eleição de Bolsonaro.

Durante a reunião, porém, integrantes da CNB (Construindo um Novo Brasil), tendência majoritária da sigla, criticaram o excesso de menções pejorativas ao governo Dilma e defenderam a elaboração de um novo texto, mais enxuto e ameno.

Segundo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), a comissão produziu um documento "com vários temas" e "longo demais". 

"Queremos um texto que se situe mais na avaliação do processo eleitoral e nas características do governo Bolsonaro e na nossa posição, no que vamos fazer. Não queremos um texto que analise os governos anteriores", afirmou Gleisi a jornalistas antes do fim da reunião.

Dilma, por sua vez, estava no encontro e fez um discurso defensivo, no qual citou realizações de seu governo, disse que não teve problemas fiscais e que foi vítima de um "golpe" que culminou no seu impeachment.

A resolução final do partido deve ser divulgada até a manhã deste sábado (1º), mas não será consenso entre os dirigentes.

Como mostrou a Folha, a cúpula do PT chegou à reunião desta sexta dividida, entre temas que iam desde a data do encontro —considerada prematura, somente um mês após o segundo turno— até o prognóstico que deveria ser adotado pela sigla frente ao governo Bolsonaro. 

Desde cedo, petistas ouvidos pela Folha avaliavam que a resolução desta semana seria incipiente e bastante tímida.

Na opinião deles, era preciso mais tempo para decantar resultados e fazer um diagnóstico claro do novo cenário político e, principalmente, sobre o papel que o PT vai ter na oposição daqui para frente.

O comando da legenda tem sido cobrado por correntes mais à esquerda e também por aliados a fazer uma autocrítica alentada sobre os erros dos últimos anos, mas resiste em executá-la de forma pública.

Ainda segundo Gleisi, as medidas práticas que sairão do encontro em Brasília será a manutenção da campanha em defesa da liberdade do ex-presidente Lula, preso desde abril em Curitiba, e a construção de uma frente democrática em defesa dos direitos sociais e civis.

Para ela, o candidato derrotado do PT ao Planalto, Fernando Haddad, tem as "credenciais eleitorais" para liderar esse movimento.

Haddad, porém, não estava na reunião. O petista viajou aos Estados Unidos esta semana para discutir o cenário político do país.

A presidente petista afirmou que vai se reunir nesta terça-feira (4) em um jantar com dirigentes do PDT, PC do B e PSB e que eles avaliam que uma frente de oposição sem o PT "não teria sustentabilidade".

"Estamos conversando para ver qual melhor papel para o PT ocupar esse espaço, se ficar sozinho, se constituir um bloco, mas isso não quer dizer que não atuemos em conjunto no bloco de oposição", declarou Gleisi.

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