Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro escolhe general para pasta responsável por articulação com Congresso

Carlos Alberto dos Santos Cruz vai chefiar a Secretaria de Governo; iniciativa é vista como esvaziamento do poder de Onyx Lorenzoni

Brasília

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou nesta segunda-feira (26) o nome do general Carlos Alberto dos Santos Cruz para a chefia da Secretaria de Governo. Com a nomeação, e se somada ainda ao general Hamilton Mourão, vice-presidente, os militares ocuparão três cargos-chave no Planalto, tornando-se o grupo com maior densidade política na Presidência.

Ainda não há uma definição sobre quais atividades o militar vai assumir à frente do cargo. Pela estrutura atual, a Secretaria de Governo é responsável pela articulação política com o Congresso, como a votação de pautas de interesse do Executivo.

De acordo com pessoas próximas a Bolsonaro, a próxima gestão pode modificar as atribuições da pasta.

O general brasileiro Carlos Alberto Dos Santos Cruz - 25.abr.2013/AFP

Uma possibilidade é retirar da Casa Civil a coordenação do governo, e passar a tarefa para a Secretaria de Governo. Por outro lado, a articulação ficaria com a primeira pasta, que será chefiada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que até o momento acumularia as duas funções.

O gesto do eleito é visto como um esvaziamento de poder de Onyx, alvo de críticas por parte de deputados aliados tanto do PSL de Bolsonaro quando do próprio DEM, ao qual é filiado.

A escolha de um general para o cargo, caso a pasta mantenha o status e o modo de atuação clássico, porém, foi vista como arriscada. Na avaliação de congressistas ouvidos pela Folha, a Secretaria de Governo exige um perfil moderado e diplomático.

Santos Cruz e Bolsonaro são amigos desde os tempos em que ambos eram do Exército. Eles foram pentatetlas juntos e, segundo pessoas próximas, desenvolveram uma relação de amizade e confiança, por isso a decisão de trazê-lo para perto, em um cargo no Palácio do Planalto.

O presidente eleito é capitão reformado do Exército e abrigará no Planalto, além de Mourão e Santos Cruz, o general Augusto Heleno, que ocupará o Gabinete de Segurança Institucional.

Para a Esplanada, Bolsonaro chamou ainda o general Fernando Azevedo e Silva (Defesa) e o tenente-coronel Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia).

O futuro ministro da Secretaria de Governo não tem experiência na política. Como militar, já atuou como comandante das forças da ONU no Haiti e no Congo.

Até a semana passada, ele era um dos cotados para a Secretaria Nacional de Segurança Pública, estrutura subordinada ao Ministério da Justiça do ex-juiz Sergio Moro.

Sua indicação para o cargo chegou ser mencionada por um dos filhos de Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), no Twitter. Em entrevista, Moro minimizou a mudança de planos, elogiou o general e disse que a escolha foi do presidente.

Ao desembarcar nesta terça-feira (27) em Brasília, o presidente eleito terá como função redefinir os papéis que serão assumidos pelos auxiliares que escolheu para ocuparem cargos do primeiro escalão no Palácio do Planalto.

Pelo desenho atual, há uma superposição de atividades em pelo menos quatro dos cinco nomes anunciados: Onyx, Mourão, Santos Cruz e o advogado e ex-presidente do PSL Gustavo Bebianno, que foi indicado para a Secretaria-Geral da Presidência.

Os trabalhos de coordenação de governo e acompanhamento das atividades do Executivo já foram anunciados como possíveis atribuições dos quatro futuros ministros. À Folha Onyx disse que isso ainda está em discussão.

"Nós estamos trabalhando na definição das funções de cada ministério, analisando as secretarias de cada ministério, as especiais, as chefias e subchefias, está tudo sendo organizado. O presidente vai chegar aqui amanhã e ele deve entre amanhã e quarta-feira tomar as definições e aí estabelecer as atribuições", disse.

Segundo ele, contudo, a articulação política até agora fica sob os cuidados da Casa Civil.

"Agora, quem decide é o presidente. Eu estou aqui para ajudar. Nós vamos ter que aguardar até amanhã", explicou.

Onyx disse ter sido informado sobre a escolha do general e nega que o recuo sobre a manutenção de status de ministério da Secretaria de Governo seja um problema.

Talita Fernandes, Camila Mattoso , Letícia Casado e José Marques
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