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Ex-árbitro de futebol coordenou campanha digital de ex-juiz no Rio

Gutemberg de Paula, que trabalhou com Wilson Witzel, abandonou o apito apontando corrupção

O ex-árbitro de futebol Gutemberg de Paula Fonseca, que trabalhou na campanha de Wilson Witzel (PSC) para o governo do Rio de Janeiro
O ex-árbitro de futebol Gutemberg de Paula Fonseca, que trabalhou na campanha de Wilson Witzel (PSC) para o Governo do Rio de Janeiro - Rafael Andrade - 10.jan.2012/Folhapress
Italo Nogueira
Rio de Janeiro

A estratégia digital que ajudou o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) a se tornar governador do Rio de Janeiro tem por trás outro ex-juiz que nunca usou uma toga.

O coordenador da campanha digital do candidato, Gutemberg de Paula Fonseca, foi árbitro de futebol até 2012, quando abandonou o apito acusando o chefe da Comissão de Arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Sérgio Corrêa, de manipular escalas dos juízes e sugerir ajuda ao Corinthians numa partida. O caso foi arquivado na Justiça Desportiva por falta de provas.

Guto, como é chamado, foi incorporado à equipe do ex-juiz a 20 dias do primeiro turno. Foi o responsável por intensificar a campanha nas plataformas digitais —entre elas redes sociais— a fim de explorar a associação de Witzel com bandeiras do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

O candidato do PSC que aparecia num quarto pelotão de candidatos nas pesquisas de intenção de voto deu uma arrancada na reta final do primeiro turno e obteve 41,28% dos votos válidos. No segundo, venceu a disputa com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) com 59,87% dos votos válidos.

"Uma das estratégias foi mostrar que ele é da ideologia que o povo busca hoje: família, bons costumes. Ele foi militar, o Jair também. Ele é contra a criminalidade, o Jair também. Tivemos que levar essa informação [ao eleitor]", afirmou ele.

Uma das estratégias foi pagar anúncios no Google indicando o site de Witzel a usuários que fizessem buscas com o termo "Bolsonaro".

De 2007 até janeiro de 2012, Guto acumulava funções públicas, tocava sua agência de publicidade e apitava jogos pelo país. Foi quando, após ser retirado do quadro da Fifa, atacou o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF.

Ele acusou Corrêa de corrupção. Disse que ele pediu, de forma indireta, favorecimento ao Corinthians num jogo do Brasileiro de 2010, e que sua exclusão da Fifa fora uma perseguição motivada pelas críticas que fazia ao comando da arbitragem nacional.

As denúncias de influência nas arbitragens não se confirmaram. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva as considerou "desprovidas de veracidade e lógica". Oito meses depois, ele pediu desculpas numa audiência judicial.

"No dia da audiência, o Edson Rezende [ex-presidente da comissão] pediu para acabar com isso. 'Deixa isso para lá, vamos seguir a vida'. E eu tenho admiração e respeito por ele. Atendi, pedi desculpas e paguei uma cesta básica", disse ele, que reafirma a perseguição sofrida.

Dez anos antes Guto já havia criado sua agência Yxe. Em 2002, atuou na campanha do coronel Heitor José de Souza, do antigo PFL, que acabou não eleito.

Nos anos posteriores, ocupou cargos no estado na gestão Sérgio Cabral (MDB) em pastas destinadas ao PSC. Foi secretário municipal em Japeri, na Baixada Fluminense, e chefe de gabinete do vereador Fernando Moraes, à época no PR, que se tornou seu último contato com o poder público.

Guto se aproximou da família Bolsonaro em 2017 por meio do deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL), amigo de longa data.

Após a eleição de 2016, em que Amorim foi candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Flávio Bolsonaro (PSL), foi procurado para ajudar como voluntário na comunicação e imagem do grupo com vistas a esta eleição.

Neste pleito, estava focado na campanha de Amorim e auxiliava a do senador eleito Flávio. A 20 dias da votação do primeiro turno, foi chamado a integrar a equipe do ex-juiz.

Paes tentou explorar no segundo turno o fato de Witzel ser pouco conhecido do eleitorado, apesar dos 3,1 milhões de votos que havia obtido. Comparou o adversário ao prefeito Marcelo Crivella (PRB), mal avaliado, apontando a necessidade de experiência para governar o estado.

"Esse foi o grande erro dele. O Paes bateu numa tecla que refletia nele. Se fosse uma outra figura, poderia dar certo. O problema é que existem muitos percalços que o Eduardo atravessou que a população naturalmente buscou", afirmou Guto.

"Nessa eleição, quem deu o cartão vermelho foi o eleitor", disse o ex-árbitro.

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