Filho de governadora de Roraima e ex-secretários são presos pela PF

PF suspeita que detidos estariam envolvidos em desvios de recursos públicos desde 2015

Marcelo Toledo
Ribeirão Preto (SP)

Filho de Suely Campos (PP), governadora de Roraima, o empresário Guilherme Campos foi preso nesta quinta-feira (29) na operação Escuridão, da PF (Polícia Federal). A PF suspeita que ele esteja envolvido em desvios de recursos públicos do sistema penitenciário de Roraima.

Além de Guilherme Campos, também foram presos os ex-secretários de Justiça e Cidadania do estado Ronan Marinho e Josué Filho.

Polícia Federal apreende documentos durante Operação Escuridão, em Boa Vista (RR)
Polícia Federal apreende documentos durante Operação Escuridão, em Boa Vista (RR) - Divulgação - 29.nov.2018/PF

Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido às 6h (8h de Brasília) na empresa RC Empreendimentos, que fica num imóvel anexo à casa da governadora. Ela não foi alvo da operação. O estado nega irregularidades.

As investigações da PF supõem que uma organização criminosa, com relações com empresários e políticos, tenha desviado recursos públicos —algo próximo a R$ 70 milhões— entre 2015 e 2018. 

A PF está cumprindo 11 mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão em Boa Vista, capital de Roraima, e em Brasília. Todos os mandados foram expedidos pelo Tribunal de Justiça de Roraima.

Foram apreendidos veículos de luxo, smartphones, documentos, notebooks e dinheiro. Os detidos devem ser indiciados pelos crimes de organização criminosa, fraude em licitação, peculato e lavagem de dinheiro.

Segundo relato da PF, o esquema teve início em 2015 –primeiro ano do mandato de Suely Campos (PP)– com a contratação emergencial de uma empresa que tinha sido criada havia oito dias para fornecer alimentação aos presos no estado.

A investigação mostrou que a empresa superfaturava o valor da alimentação e informava entregar mais refeições que o efetivamente entregue. Além disso, a avaliação é que eram fornecidos alimentos de baixa qualidade.

Galpão com comida, objeto dos desvios de recursos investigados pela PF em Boa Vista (RR) Divulgação - 29.nov.2018/PF
Galpão com comida, objeto dos desvios de recursos investigados pela PF em Boa Vista (RR) - Divulgação - 29.nov.2018/PF

Filmagens feitas durante a investigação e quebras de sigilo bancário e telefônico mostraram que os responsáveis pela empresa –que está em nome de laranjas– fizeram saques de cerca de 30% do valor dos contratos para o pagamento de propinas e enriquecimento ilícito dos reais donos do negócio.

O inquérito foi instaurado no ano passado. O nome da operação foi dado devido a uma das pragas bíblicas do Egito, que surgiu após os gafanhotos “na qual o povo foi colocado sob trevas em razão das ações do faraó”.

O sistema prisional de Roraima vive uma forte crise desde o ano passado, quando mais de 30 presos foram assassinados na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior do estado.

Com o agravamento da crise migratória até o final do ano as gestões administrativa, financeira e orçamentária dos sistemas prisional e socioeducativo de Roraima.

OUTRO LADO

Por meio de nota, o governo de Roraima informou que sempre contribuiu com as investigações e que a Secretaria de Justiça e Cidadania prestou os esclarecimentos sobre os contratos de fornecimento de alimentos no sistema prisional.

Segundo o comunicado, a empresa que fornecia alimentação às prisões abandonou o contrato no início da gestão de Suely e o governo teve de decretar situação de emergência no sistema prisional, com a contratação de outra empresa para o serviço.

Uma licitação foi aberta pela secretaria, mas a conclusão demorou mais do que o previsto devido a “interferências externas e recursos”, o que obrigou o governo a prorrogar o contrato emergencial para a alimentação dos mais de 1.200 presos.

“Todas as informações relativas ao processo, contrato, fornecimento da alimentação e pagamentos foram repassadas aos órgãos de controle e esclarecidas na CPI no âmbito da Assembleia Legislativa, ficando demonstrado pela Sejuc que foram obedecidos todos os preceitos legais”, diz trecho do comunicado.

A RC Empreendimentos informou que colaborará com as investigações e que jamais manteve relação comercial com empresas investigadas pela operação Escuridão.

Já a defesa de Guilherme Campos informou que as acusações não são verdadeiras e “carecem do mínimo de prova”.

A prisão, segundo a defesa, “causou estranheza e perplexidade”. “Apesar de ter apresentado petição se colocando à disposição desde 2017, jamais foi ouvido pela autoridade policial sobre qualquer dos fatos em apuração”, diz trecho da nota assinada pelo advogado Frederico Leite.

A Folha não obteve contato com a defesa dos ex-secretários.

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