Lula depõe pela terceira vez em Curitiba, agora para substituta de Moro

Réu na Operação Lava Jato, Lula será interrogado na ação sobre o sítio de Atibaia

Estelita Hass Carazzai
Curitiba

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva presta depoimento pela terceira vez na Justiça Federal do Paraná nesta quarta-feira (14) –só que, agora, à substituta do juiz Sergio Moro, Gabriela Hardt.

É a primeira vez que Lula depõe depois de ser preso e também a primeira vez que irá encontrar Hardt, que assumiu os processos da 13ª Vara Federal de Curitiba na semana passada, depois que Moro aceitou o convite de Jair Bolsonaro (PSL) para ser ministro da Justiça.

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Manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula se concentram em frente à Justiça Federal do Paraná, onde ele prestará depoimento nesta quarta (14) - Estelita Hass Carazzai - 14.nov.2018/Folhapress

O depoimento estava marcado para as 14h. Lula chegou à Justiça Federal cerca de 15 minutos antes. Ele começou a ser interrogado por volta das 15h10.

Aliados esperam que o ex-presidente aproveite o momento para se manifestar sobre a indicação de Moro ao ministério e questione a imparcialidade do juiz, que deve pedir exoneração até o fim do ano.

“De alguma forma, ele vai passar uma mensagem ao país”, afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que viajou a Curitiba para acompanhar o depoimento. Para ele, o processo está “desmoralizado” depois que Moro aceitou o convite de Bolsonaro para o ministério. 

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Os parlamentares do PT Lindbergh Farias, Paulo Pimenta e Ênio Verri, que viajaram a Curitiba para acompanhar o depoimento do ex-presidente Lula, dão entrevista em frente à Polícia Federal, nesta quarta (14), onde o ex-presidente está detido. - Estelita Hass Carazzai - 14.nov.2018/Folhapress

Bolsonaro já declarou que Lula irá apodrecer na cadeia e afirmou ser favorável ao fim da progressão de pena –medida que afetaria o ex-presidente, detido desde abril. 

Réu na Operação Lava Jato, Lula será interrogado na ação sobre o sítio de Atibaia (SP), que era frequentado pelo petista e sua família e que, segundo o Ministério Público Federal, pertencia de fato ao ex-presidente.

Ele é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro nas obras do sítio, que foram feitas a seu pedido e pagas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht, segundo a denúncia. Os valores teriam sido custeados com dinheiro desviado de contratos na Petrobras.

Lula nega a acusação, diz ser perseguido juridicamente e afirma nunca ter sido proprietário do sítio, que está em nome dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna.

Militantes que pedem a libertação do ex-presidente devem se concentrar em frente à Polícia Federal, onde Lula está detido depois de ter sido condenado em segunda instância, por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá. 

Depois, o grupo segue à Justiça Federal, onde ele será interrogado. Alguns deputados petistas, assim como o ex-presidenciável Fernando Haddad, que irá visitá-lo pela manhã, também devem viajar a Curitiba.

Mas, ao contrário dos depoimentos anteriores, não está prevista a realização de grandes atos, nem são esperadas numerosas caravanas de outros estados.  Cerca de 150 pessoas se concentraram em frente à Justiça Federal, com cartazes e faixas pedindo “Lula livre”. 

“Não é fácil ficar mobilizando a toda hora; a gente vem de um processo de eleição”, disse Lindbergh. 

O esquema de segurança em torno da sede da Justiça Federal também foi reduzido: apenas a praça em frente ao prédio foi cercada pela PM. Ruas no entorno foram bloqueadas somente durante a passagem da escolta da PF. Policiais militares monitoram a movimentação, mas não houve registro de tensões ou confrontos.   

Apoiadores de Lula se acumulam no entorno do prédio da Justiça Federal - Heuler Andrey - 14.nov.2018/AFP

Além de Lula, presta depoimento nesta quarta o pecuarista José Carlos Bumlai, que também é réu, acusado de pagar parte das obras iniciais no sítio.

O ex-presidente ainda responde a outro processo na Justiça Federal do Paraná, sobre a compra de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula –além da ação do tríplex, na qual foi condenado em segunda instância e contra a qual recorreu aos tribunais superiores.

Aliados de Lula aproveitaram a ocasião para criticar Hardt, que irá conduzir os processos da Lava Jato até a escolha de um novo juiz titular. “O chefe dela é ele [Moro]”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

“Não tem nenhuma diferença. É amiga dele [de Moro]”, disse a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT. “Ele tirou férias para que a juíza substituta pudesse continuar o julgamento e seguisse o seu roteiro, que é condenar Lula.”

Hardt assumiria as ações mesmo que Moro tivesse pedido exoneração, enquanto durasse o processo de escolha do novo juiz titular —mas, nesse caso, por menos tempo. Com as férias de Moro, a escolha só será iniciada no final do ano. 

 


 

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