Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

'No que depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena', diz Bolsonaro a TV

Presidente eleito falou em entrevista ao 'Brasil Urgente', da Band

Sarah Mota Resende
São Paulo

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), voltou a dizer, em entrevista ao Brasil Urgente, da TV Bandeirantes, que, se depender dele, não haverá mais demarcação de terras indígenas no país. 

"Eu tenho falado que, no que depender de mim, não tem mais demarcação de terra indígena", disse Bolsonaro nesta segunda-feira (5) ao apresentador José Luiz Datena .

"Afinal de contas, temos uma área mais que a região Sudeste demarcada como terra indígena. E qual a segurança para o campo? Um fazendeiro não pode acordar hoje e, de repente, tomar conhecimento, via portaria, que ele vai perder sua fazenda para uma nova terra indígena", disse.

Jair Bolsonaro concede entrevista exclusiva ao apresentador José Luiz Datena, da Band - Reprodução

Segundo Bolsonaro, as reservas existentes foram "superdimensionadas" e "não tem como mexer", mas afirmou que o que vier a fazer é "com o aparato da lei". "Índio é um ser humano como nós. Ele quer empreender, quer luz elétrica, quer médico, quer dentista, quer um carro, quer viajar de avião", disse.  

Não é a primeira vez que Bolsonaro indica sua posição neste sentido. Em outra entrevista, antes da eleição, o capitão reformado criticou o que chamou de "indústria da demarcação de terras" e disse que os índios "não querem ser latifundiários". "Índio quer poder arrendar a terra, quer poder fazer negócio (...) Não quer ser usado para políticas", declarou, na época.

Em 2017, em visita a Mato Grosso, Bolsonaro também se disse contra o reconhecimento de novas terras indígenas no país. "Não terá um centímetro quadrado demarcado", afirmou. 

Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), cancelar novas demarcações de terra indígena acabaria com 129 processos que hoje estão em andamento, em diferentes etapas. Existem atualmente 11,3 milhões de hectares em estudo para demarcação, abrigando cerca de 120 mil indígenas.

FHC

Durante a entrevista desta segunda, Bolsonaro também voltou a classificar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como socialista

"O socialismo não deu certo em lugar nenhum. E o FHC fazia aquele joguinho com o PT como se ele fosse oposição. E essa máscara caiu com a minha chegada", disse Bolsonaro após ser perguntado por Datena "sobre uma coisa engraçada que havia feito hoje". 

Bolsonaro e FHC trocaram farpas pelas redes sociais após uma declaração do tucano de que retórica do novo governo pode prejudicar a imagem do Brasil, principalmente em relação à China, maior parceiro comercial do país.

Bolsonaro, em resposta, publicou em sua página no Twitter uma foto do ex-presidente deitado numa poltrona, com as pernas erguidas, segurando um livro, legendado apenas com o nome do tucano.

Após a repercussão, FHC respondeu ao tuíte do presidente eleito: "A desinformação é péssima conselheira. Na foto do Twitter do presidente eleito, eu apareço lendo um livro de ex-premiê da China, deposto e preso, que critica o regime. Isso aparece como 'prova' de que sou comunista. Só faltava essa. Cruz, credo!"

Bolsonaro também afirmou que "não acha que o PSDB acabou". "O partido perdeu muito, alguns dizem que acabou. Eu acho que não acabou, não", disse Bolsonaro, que lembrou que João Doria, governador eleito pelo PSDB em São Paulo, o apoiou durante o segundo turno.

O presidente eleito, entretanto, classificou como "um mal-entendido" o fato de não ter recebido Doria em sua residência, no Rio de Janeiro, durante campanha no segundo turno. 

"Não estava previsto [o encontro] e eu estava num momento que, por vezes, não podia sair de casa. Mas o encontro, se tivesse ocorrido, prejudicaria nós dois. Não era o momento", disse. "O [Geraldo] Alckmin bateu muito em mim", afirmou sobre o candidato do PSDB à Presidência, que terminou o primeiro turno em quarto lugar. 

Bolsonaro ainda afirmou que deve estar com ele [Doria] "daqui a dois dias" em Brasília, e que com certeza terão uma conversa "bastante amigável". 

CASO BATTISTI

O presidente eleito também afirmou que pretende extraditar o ex-ativista italiano Cesare Battisti. Bolsonaro se encontrou, nesta manhã, com o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini. 

"O que disse [no encontro com o embaixador italiano que ocorreu hoje pela manhã] é que tudo o que for legal da minha parte nós faremos para devolver este terrorista para a Itália", disse. "Volta para a Itália, sim, imediatamente. Volta para lá. Vai depender do Supremo Tribunal Federal esta decisão", completou. 

Nesta segunda, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu urgência no andamento do caso do italiano no STF.  Uma liminar do ministro Luiz Fux de outubro de 2017 impede a repatriação até que um pedido de habeas corpus feito pelos advogados de Battisti seja analisado pela Primeira Turma do Supremo.

O caso não foi julgado pelo colegiado desde então, e o entendimento de Fux, portanto, é o que está valendo. A manifestação da PGR foi para pedir que o Supremo acelere essa avaliação.

Battisti foi condenado à prisão perpétua na Justiça italiana pela morte de quatro pessoas na década de 1970, quando integrava o Proletários Armados para o Comunismo, grupo de extrema esquerda.

Ele, que hoje vive em Cananeia (SP), nega ter cometido os crimes no país europeu e se diz vítima de perseguição.

Wal do açaí 

Questionado pelo apresentador sobre "perder muito tempo brigando com a imprensa", Bolsonaro negou. "Eu não brigo com a imprensa, é a imprensa que briga comigo". "Eu estou aguardando até hoje, daquele caso da funcionária fantasma que vendia açaí em Angra, a Folha se retratar. 

Bolsonaro ainda afirmou que gostaria que o jornal se retratasse, já que "não tem como exigir." 

Como mostram reportagens da Folha, como deputado federal, Bolsonaro usou dinheiro da Câmara dos Deputados para pagar o salário da assessora Walderice Santos da Conceição, que vendia açaí na praia e prestava serviços particulares a ele em Angra dos Reis (RJ), onde tem casa de veraneio.

Desde a primeira reportagem, publicada em 11 de janeiro, Bolsonaro vem dando diferentes e conflitantes versões sobre a assessora para tentar negar, todas elas não condizentes com a realidade.

Ao Brasil Urgente, Bolsonaro disse que a assessora estava em férias quando o jornal visitou o local pela primeira vez, em janeiro, e não disse, porém, que a Folha retornou ao local em agosto e comprou das mãos da funcionária um açaí e um cupuaçu durante horário de expediente da Câmara.

Minutos depois de os repórteres se identificarem e deixar a cidade, ela ligou para a Sucursal da Folha em Brasília afirmando que iria se demitir do cargo.

O então candidato confirmou sua demissão e disse que o "crime dela foi dar água para os cachorros". 

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