Cerimônia de diplomação em Minas tem agressão entre deputados do PT e do PSL

Deputados federais eleitos trocaram tapa e soco por conta de placa 'Lula Livre'

Carolina Linhares
São Paulo

A cerimônia de diplomação dos candidatos eleitos em Minas Gerais, nesta quarta-feira (19), teve agressão física entre os deputados federais eleitos Rogério Correia (PT) e Cabo Junio Amaral (PSL).

Correia, que é deputado estadual e foi eleito para a Câmara, segurava no palco um cartaz vermelho com os dizeres "Lula Livre"

Amaral, então, se aproxima e tenta arrancar o cartaz das mãos do petista, que revida dando um tapa na cara do deputado eleito do PSL.

Amaral ensaia um soco em Correia, mas não acerta. Logo a briga é apartada pelos demais no palco. A cerimônia chegou a ser suspensa. 

Em São Paulo, a diplomação também foi interrompida por uma confusão envolvendo o militante do PSOL Jesus dos Santos —membro da bancada ativista, mandato coletivo da legenda para deputado estadual — e o deputado federal eleito Alexandre Frota (PSL). Houve empurra-empurra, polícia no palco e guerra de vaias entre partidos de esquerda, que gritaram "Lula Livre" e bolsonaristas. 

Amaral, além de deputado eleito do PSL, é policial militar e coordenador do grupo Direita Minas, que apoia Jair Bolsonaro (PSL). 

Correia afirmou que vai processar seu futuro colega na Câmara. "O deputado Cabo Junio Amaral tentou arrancar uma placa Lula Livre de minhas mãos e, para não permitir, eu reagi", disse.

"Ele tentou me dar um soco, vou analisar medidas judiciais, inclusive levando em conta o estatuto do idoso, por tentativa de agressão", disse Correia, que tem 60 anos. 

Amaral, por sua vez, criticou a exibição de placas. "O pessoal pediu muitas vezes [para não exibi-las], então, se não tem ordem, a gente vai lá e resolve ", disse.  

"Isso aqui é uma festa de todo mundo, comemoração da diplomação de todos. Eles dizem tanto de democracia, eles não conseguem entender o que é democracia", afirmou.

"O espaço que eles falam plural é isso aqui. Então, a partir do momento que eles trazem essa manifestação que, pior, foi fora da vez dele, levanta e fica exibindo...", continuou o deputado eleito do PSL.

Ele afirmou que "outra integrante do Comando Vermelho" também exibiu placas. As deputadas eleitas Beatriz Cerqueira (PT) e Áurea Carolina (PSOL) exibiram placas de "Lula Livre" e em homenagem a Marielle Franco, respectivamente. Houve vaias contra Áurea. 

A confusão começou quando a cerimonialista do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais foi até a cadeira de Cerqueira, que levava consigo a placa "Lula Livre", e pediu que ela lhe entregasse o objeto. A deputada se recusou e, enquanto a plateia se manifestava contra Cerqueira, a cerimonialista arrancou a placa das mãos da deputada.

A deputada, então, se levantou para reclamar junto à mesa. Foi quando Correia se levantou para exibir outra placa semelhante à de Cerqueira, que estava com ele. E Amaral buscou arrancá-la também. 

Cerqueira publicou uma nota afirmando que acompanhou com respeito a diplomação de todos, mesmo daqueles dos quais discorda das ideias, e reclamando por ter tido sua placa retirada pelo cerimonial. 

"Vi gente batendo continência num ambiente que não caberia tal gesto. E nem por isso saí gritando para que não o fizesse. [...] Quando a deputada federal eleita Aurea Carolina foi anunciada para ser diplomada, parte do público presente agiu com extrema hostilidade. Isso não incomodou o cerimonial do TRE", escreveu.

"Eu ouvi, sem agredir ninguém, inúmeros insultos, piadas, ironias durante o período da cerimônia. Isso também parece não ter incomodado o cerimonial. Os gestos simulando metralhadora também não significaram um problema para o cerimonial", continuou. 

"Após manifestações de parte do público presente para eu escondesse a placa que levava junto a bolsa onde estava escrito 'Lula Livre', a moça do cerimonial (não sei o seu nome), pela segunda vez, me solicitou que retirasse a placa. Respondi que não faria. Ela me disse que meu comportamento estava tumultuando a cerimônia. Discordei. Eu estava apenas com a placa. Não tinha feito, até aquele momento,  nenhum gesto com ela além de carregá-la comigo. Era a hostilidade de parte do público que estava atrapalhando, incapaz de conviver com pensamentos divergente do seu", conclui a deputada. 

O deputado do PSL afirmou que foi normal reagir ao tapa de Correia. "Ele achou o quê? Onze anos na polícia, nunca tive medo de vagabundo, não vai ser agora."

O deputado petista, por sua vez, defendeu seu direito à manifestação e chamou Amaral de neofascista. 

"Ele é militar e já prometeu morte aos outros, então vou me resguardar, porque me sinto inclusive coagido por deputados desse tipo que não aceitam a democracia", disse. 

"Ele podia trazer a placa que quisesse, não vaiamos ninguém. Eles procuraram vaiar e agredir."

Em nota, o  Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais afirmou que " fatos inesperados e contrastantes com a tradição de Minas Gerais constrangeram a todos" na cerimônia. 

" Diante disso, o Tribunal lamenta os incidentes ocorridos durante a Sessão, a partir de ações ou posturas inadequadas por parte dos envolvidos nos episódios, que agiram sem maior reflexão", diz a nota. 

A diplomação ocorreu no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Na cerimônia foram diplomados 138 candidatos eleitos —53 deputados federais, 77 deputados estaduais, além do governador eleito, Romeu Zema (Novo), de seu vice, Paulo Brant (Novo) e dos senadores eleitos Rodrigo Pacheco (DEM) e Carlos Viana (PHS). 

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