Condenados por cartel no Metrô são citados em outros casos de corrupção

Executivos aparecem em escândalos como o do Rodoanel, Belo Monte e ferrovia Norte-Sul

Mario Cesar Carvalho
São Paulo

É como se fosse uma ciranda, que ligasse um escândalo a outro. Cinco dos condenados pelo crime de formação de cartel na linha 5-lilás do Metrô de São Paulo também são citados em outros casos famosos de corrupção, como o do Rodoanel, da usina de Belo Monte e da ferrovia Norte-Sul.

Na última semana, a Justiça de São Paulo condenou 13 executivos por conluio entre empreiteiras na obra dessa linha do Metrô. As penas variam de 3 a 4 anos e meio de prisão mais multa.

Entre os cinco que aparecem em outros escândalos, o campeão em citações é Carlos Armando Paschoal, ex-diretor-superintendente da Odebrecht em São Paulo.

Estação Capão Redondo, da linha 5-lilás do Metrô de São Paulo
Estação Capão Redondo, da linha 5-lilás do Metrô de São Paulo - Marcelo Justo - 10.ago.2008/Folhapress

Conhecido como CAP, o executivo contou em sua delação que participou de crimes que vão da entrega de R$ 10,2 milhões via caixa dois para o então governador, Geraldo Alckmin (PSDB), à reforma do sítio de Atibaia usado pelo ex-presidente Lula (PT).

Também relatou que pagou suborno a mando da Odebrecht na obra do Rodoanel Sul, intermediado pelo diretor da Dersa Paulo Vieira da Silva, o Paulo Preto.

Outra revelação foi de que o PSDB paulista recebeu R$ 24,6 milhões entre 2009 e 2010, depois que o governador José Serra aceitou quitar uma dívida de R$ 191,6 milhões que o governo paulista tinha com empresa do grupo Odebrecht.

CAP se livrou de todas essas condenações por causa do acordo de delação que assinou, mas acabou condenado no cartel da linha 5-lilás a três anos e meio de detenção em regime semiaberto.

A delação de CAP diverge do que a Camargo Corrêa já havia contado sobre a linha 5. Enquanto o ex-executivo da Odebrecht dizia que houve suborno a um ex-diretor do Metrô chamado Sérgio Brasil, mas não cartel, a Camargo Corrêa afirmava desde 2015 que a obra foi dividida pelas grandes empreiteiras, o que caracteriza este acerto.

Quem narrou a formação de cartel da linha 5 segundo a Camargo Corrêa foi Jorge Curi Yazbec Junior. Ele foi condenado no caso do conluio, mas, como era delator, teve a sua pena reduzida para prestação de serviços à comunidade.

Yazbec também é citado no caso do Rodoanel Sul. Ele é réu ao lado de 32 outras pessoas, entre as quais Paulo Preto, apontado pela Polícia Federal como operador do PSDB.

Em seu acordo, Yazbec confirma a narrativa de propina da Odebrecht e diz ter pago R$ 2,5 milhões para o ex-diretor do Metrô Sérgio Brasil.

O ex-funcionário do Metrô teria recebido o suborno para ajudar as empreiteiras. Yazbec também relata que as empreiteiras agiram como um cartel em outras duas obras do Metrô: as linhas 2-verde e 4-amarela.

Ainda segundo ele, as empreiteiras tentaram cartelizar dois projetos de monotrilho, mas o acordo não deu certo.

A Camargo Corrêa foi a segunda empresa das investigadas pela Operação Lava Jato a fechar um acordo com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), em 2015.

No acordo, a empresa diz que o núcleo do cartel era formado pelas cinco grandes empreiteiras do país (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão). Entre 2004 e 2008, o quinteto formou um grupo chamado Tatu Tênis Clube ou G-5 para dissimular os acordos ilícitos que eram fechados entre as empresas.

O clube tinha esse nome porque só essas empresas tinham capacidade para operar o tatuzão, uma máquina que abre túneis de metrô.

Só na obra da linha 5, o prejuízo para os cofres públicos oscilou entre R$ 250 milhões e R$ 500 milhões, segundo a empreiteira.

Dois altos executivos da Tiisa-Triunfo Iesa, Mario Pereira e Ricardo Belon Junior, também são réus por causa de obra em um trecho da ferrovia Norte-Sul. Ambos são acusados de superfaturamento e fraude à licitação. 

A Justiça determinou o bloqueio de R$ 56 milhões da empresa por causa da suspeita de superfaturamento apontada pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

O caso mais incipiente é a menção de que um dos sócios da Cetenco, Domingos Malzoni, condenado a três anos e meio de detenção no caso do cartel da linha 5, teria participado do grupo de empresas que pagou R$ 140 milhões de propina na obra da usina de Belo Monte, no Pará.

Quem citou o nome de Malzoni foi um dos delatores da Odebrecht, Antonio Dahia Blando. Segundo ele, o empresário participou de encontros em Marabá no qual se discutiu o suborno, equivalente a 1% do valor da obra, e como ele seria dividido, entre o PT e o MDB.

O fato de um executivo aparecer em vários escândalos não é fortuito, segundo um procurador da Lava Jato, que falou à Folha sob condição de anonimato.

Segundo ele, as empresas tinham profissionais de propina, que atuavam em várias frentes. Isso ocorreria porque o suborno se tornara o modelo de negócio dominante.

Procurados pela Folha, Malzoni e os demais executivos condenador por cartel não quiseram se pronunciar.

A Camargo diz que "foi a primeira empresa de seu setor a firmar um acordo de leniência e, desde então, mantém o compromisso de colaborar com as autoridades para o esclarecimento de eventuais casos de corrupção". 

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