Eduardo Bolsonaro se divide entre polêmicas e pose de chanceler

Com a maior votação da história da Câmara, deputado eleito foi desautorizado pelo pai

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São Paulo

Mesmo numa família que não economiza nas polêmicas, Eduardo Bolsonaro (PSL), 34, se destaca. Até seu irmão mais velho Flávio ter o nome tragado para o escândalo envolvendo um ex-assessor, era o caçula dos três filhos políticos de Jair Bolsonaro que em geral abastecia o estoque de controvérsias do clã.

O pai foi a público para desautorizá-lo pelo menos três vezes nos últimos meses. 

Em outubro, reta final da campanha, emergiu da internet um vídeo em que Eduardo diz que o Supremo Tribunal Federal poderia ser fechado por militares se a candidatura do pai fosse barrada (“você não manda nem um jipe, manda um soldado e um cabo”).

O patriarca rebateu dizendo que alguém havia tirado a fala do contexto, pois, “se alguém falou em fechar o STF, precisa consultar um psiquiatra”.

Com o pai já eleito presidente do país, Eduardo disse a investidores nos EUA que o novo governo talvez não consiga aprovar a reforma da Previdência. Jair enquadrou-o de novo: “Pode ser que ele tenha se equivocado, o garoto, né?”.

E teve a entrevista ao jornal O Globo em que “03” (Eduardo, o terceiro de cinco filhos) defendeu um plebiscito para a pena de morte em crimes hediondos e tráfico de drogas. “Se o povo aprovar, já vira lei.”

Novo pito do pai, agora por Twitter: ninguém vai mexer em cláusula pétrea da Constituição, e  “assunto encerrado antes que tornem isso um dos escarcéus propositais diários”.

Nos bastidores, auxiliares do presidente eleito já reclamaram que Eduardo fala demais, o que geraria ruídos desnecessários na candidatura e agora no governo de Jair.

Aos 34 anos, os últimos quatro como deputado federal ao lado do pai em Brasília, Eduardo gosta de falar, e não só em português. 

Versado em inglês e espanhol, tomou gosto por política internacional, o que lhe valeu o apelido de chanceler informal na nova gestão.

Os Estados Unidos sob a guarda de Donald Trump são sua coqueluche e lhe sobem à cabeça —seja com o boné “Trump 2020” que usou em Washington, seja com o esforço para se aproximar do entorno do presidente americano. 

“Thanks Royce Gracie for introducing me to @DonaldJTrumpJr [obrigado, Royce Gracie, por me apresentar a @DonaldJTrumpJr]”, tuitou em janeiro de 2018. 

Em anexo, uma foto ao lado do filho de Trump e do lutador brasileiro do clã Gracie, numa feira de armas em Las Vegas, a Shot Show, “a place to meet important people [lugar para conhecer gente importante]”.

Chama Steve Bannon, que foi estrategista na campanha de Trump, de “ícone do combate ao marxismo cultural”. Foi a seu aniversário, em novembro, e fez um apelo para “somar forças”. Antes deu uma passada no Senado americano e se encontrou com dois republicanos de peso na Casa, Ted Cruz e Marco Rubio. 

Eduardo publicou sua primeira foto com Bannon em agosto, os dois em Manhattan. Num tuíte (de novo em inglês), disse que o homem na proa da extrema-direita contemporânea era “entusiasta” da campanha bolsonarista.

Em novembro, o jornal britânico The Guardian divulgou uma reportagem em que Bannon confirmou aconselhar o então candidato brasileiro, a quem se referia apenas como o “paraquedista do Exército”. 
Não conseguiu acertar o nome de Bolsonaro quando indagado. Chamou-o de Botolini.

O interesse por relações internacionais levou Eduardo a organizar, no começo do mês, a primeira Cúpula Conservadora das Américas, da qual participaram, pessoalmente ou por vídeo, do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe a Miguel Ángel Martin, que presidia o Supremo venezuelano e hoje está exilado nos EUA.

Foi no evento, em Foz do Iguaçu (PR), que Eduardo pediu a mão da namorada Heloisa Wolf em casamento. 

Nas rede sociais, ela se apresenta como “psicóloga, coach e pós-graduanda em psicologia positiva” e reproduz imagens como a de um quadro em que médicos operavam Bolsonaro com auxílio de Cristo.
“E esse ‘anel patriota’?”, ela postou no Instagram, ela e a joia com esmeralda, ouro e designer nacionais.

Tal qual o futuro marido, esta adepta do tiro esportivo compartilha fotos armada, em postagens salpicadas com hashtags como #gunsforgirls e #nossabandeirajamaisserávermelha. 

A paixão de Eduardo por armas já ocupou espaço no noticiário. Ele frequentava o mesmo clube de tiro catarinense onde Adelio Bispo, o homem que esfaquearia seu pai, chegou a treinar por um dia. 

Em 2014, apareceu armado numa manifestação contra o PT na avenida Paulista: a pistola Glock 17, calibre 9 mm, enganchada no cós de seu jeans, ficou à mostra quando ele gesticulou até a camisa subir.
Imagens do momento se espalharam pela internet. Sair desarmado seria “como deixar a carteira em casa”, disse. 

Pouco mais de um ano depois, levou uma bronca de seu pai pelo WhatsApp após faltar à eleição para a presidência da Câmara que consagraria Rodrigo Maia (DEM). Jair Bolsonaro, então candidato, teve apenas quatro votos.

Cobrou do filho: “Não vou te visitar na Papuda. Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu”. Questionado sobre o episódio pela Folha em Foz do Iguaçu, Eduardo disse que fora à Austrália após a feira Shot Show, onde havia prometido comprar um fuzil para o pai, e “não deu tempo de pegar avião”. 

Teve uma infância típica de classe média carioca: fazia curso de inglês, estudava em escolas particulares e, como contou uma ex-vizinha do prédio onde o jovem “Duda” morou na Tijuca (zona norte do Rio), tinha “o cabelo do Nick Carter [do Backstreet Boys], loirinho, de tijela”. Fazia sucesso com as meninas.

O surfista que pegava onda com membros da banda de rock Forfun acabou se formando em direito pela UFRJ. Em 2010, foi aprovado num concurso público para ser escrivão da Polícia Federal, carreira que trocou pela política.

Há três anos, começou uma pós-graduação em economia liberal no Instituto Mises e declarou: “Sempre é bom aprender como o socialismo intervém em nossa economia destruindo-a”. O pai, que no Congresso tem um histórico de votações pró-intervencionismo, deve em parte ao filho a guinada liberal que o aproximou do economista Paulo Guedes.

Em 2019, Eduardo voltará à Câmara com a maior votação da história da Casa —1,8 milhão de votos. Se começou como oposição ao governo Dilma Rousseff (PT), agora chega como filho do novo presidente.

O tom não deve destoar daquele de seu primeiro discurso no plenário, no dia 1º de abril de 2015 —uma crítica a políticas de igualdade de gênero no governo da petista.

“O povo não aguenta mais tanta balela, quer um governo sério, políticas sérias, e não essa hipocrisia de agenda de educação ditada por grupo LGBT”, disse o deputado que tem, no círculo de aliados nomes como Gil Carteiro Reaça, seu ex-assessor que virou deputado estadual pelo PSL-SP.

 

CONHEÇA OS FILHOS DE BOLSONARO

Flávio Bolsonaro, 37
Advogado, se elegeu senador e é visto como o mais articulado politicamente e independente da família. Buscou formar um grupo político próprio no Rio, e embarcou na campanha do governador eleito Wilson Witzel (PSC) mesmo com a neutralidade do pai na disputa. Seu ex-assessor Fabrício Queiroz aparece com movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em relatório do Coaf

Carlos Bolsonaro, 36
Vereador há 18 anos e menos articulado politicamente, foi o único dos filhos de Bolsonaro que não disputou a eleição este ano. Mesmo sem mandato em Brasília a partir de 2019, tem papel central no círculo político-familiar, já que é  o responsável pela administração das redes sociais de Jair Bolsonaro desde 2014, meio ao qual se atribui o sucesso do deputado 

Eduardo Bolsonaro, 34
Policial federal e eleito deputado por São Paulo com a maior votação da história, é visto como distante das decisões políticas de Bolsonaro. Chegou a articular uma candidatura à presidência da Câmara, o que foi vetado pelo pai. Na reta final da campanha, foi divulgado um polêmico vídeo em que Eduardo afirma que é possível fechar o STF “só com um cabo e um soldado”

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