Empresária diz ter sido enganada para impulsionar candidatos do PT de forma ilegal

Joyce Moreira Falete, da Lajoy, afirma que houve pressão por parte da equipe de Miguel Corrêa (PT)

Carolina Linhares
São Paulo

A empresária Joyce Moreira Falete, dona da Lajoy, agência de marketing digital mineira, afirma que foi enganada pelo deputado Miguel Corrêa (PT-MG) para impulsionar ilegalmente conteúdo favorável a candidatos petistas durante a eleição deste ano. Côrrea foi candidato ao Senado, mas perdeu. 

Falete foi responsável por indicar à empresa de Corrêa, a Fórmula, influenciadores digitais que seriam pagos para fazer elogios aos candidatos em redes sociais. As publicações não informavam que eram pagas nem exibiam qualquer informação sobre a empresa ou político que os contratou. A prática é proibida pela legislação eleitoral.

"Me sacanearam muito", afirmou Falete à Folha nesta segunda-feira (17). A empresária diz que quando o esquema começou a ser noticiado, em agosto, pouco antes da eleição, passou por um período difícil. "Vazaram meu telefone, começaram a me ligar, ameaçando de morte, de estupro. Eu me isolei."

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Miguel Corrêa com a mulher, Letícia, e a presidente do PT-MG, Cida de Jesus, ao se lançar candidato ao Senado - Futura Press/Folhapress

O caso foi denunciado por uma das influenciadoras, que denunciou no Twitter ter sido contratada para divulgar conteúdos, mas que, na verdade, tratava-se de propaganda a favor de candidatos petistas —prática da qual discordava. 

Segundo Falete, a Lajoy foi contratada pela Fórmula em julho para desenvolver uma plataforma de aceleração de influenciadores por R$ 19.700. Durante esse período, cerca de dois meses, Falete se instalou no próprio escritório da Fórmula. 

Embora o contrato fale em contratação de influenciadores segundo nicho e treinamento desses influenciadores, Falete afirmou em depoimento ao Ministério Público que, inicialmente, o trabalho era indicar influenciadores progressistas, ligados a temas do movimento LGBT ou do movimento negro, por exemplo, para a plataforma de nome Beconnected. 

A empresária afirmou que, ao fim do contrato, houve um desvio de função, e ela foi requisitada a indicar influenciadores de esquerda que, por sua vez, foram contratados pela própria Fórmula para fazer as publicações elogiosas a Wellington Dias (Piauí), Gleisi Hoffmann (Paraná) e Luiz Marinho (São Paulo).

Segundo ela informou ao Ministério Público, em depoimento tomado em 14 de setembro, o pagamento aos influenciadores variava de R$ 1.500 a R$ 6.000 segundo seu alcance. A equipe de Corrêa queria indicação de 200 pessoas, mas ela indicou somente 70. 

"A minha plataforma não tinha nada a ver com o serviço", disse Falete à Folha. "Foi ameaça, abuso de poder, muita pressão, querendo colocar outra função."

A empresária estuda mover uma ação por danos morais. Sua empresa chegou a ter o sigilo fiscal quebrado em investigações do Ministério Público que resultaram em uma ação de investigação judicial eleitoral proposta na semana passada por abuso de poder econômico. Além de Corrêa, sua sobrinha Lídia Corrêa Alves Martins também é acusada. 

"A gente só foi usado na tentativa de acobertar o que estava sendo feito. Eu sou microempreendedora individual, não sou uma laranja recebendo milhões", afirmou. "Houve uma reunião com vários advogados, inclusive a Lídia, e me afirmaram categoricamente que não havia ilegalidade."

"Foi um prejuízo de imagem, mas meu coração agora está tranquilo, não estou com raiva de ninguém", resume. 

No depoimento ao Ministério Público, ela também relata ameaças. "Se sentiu usada e enganada pelo pessoal da Fórmula e, depois que os fatos foram divulgados na imprensa, ela tem sofrido ameaças por telefone, por Twitter, por Instagram, por email", diz o documento.

Falete afirma ter tido que acionar a Fórmula extrajudicialmente para receber seu pagamento. Ela diz, porém, que influenciadores contratados ainda não chegaram a ser remunerados pelo trabalho. 

A empresária conta que a equipe de Corrêa pediu uma ação para testar o alcance dos seus influenciadores. Falete, então, intermediou a ordem para que eles divulgassem a hashtag Lulazord, a favor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A hashtag ficou entre os assuntos mais relevantes no Twitter, alcançando 10 milhões de visualizações. 

"[Falete] Entendeu como ordens as pautas e conteúdos para o #lulazord e para os conteúdos em favor dos candidatos pela forma impositiva e ameaçadora de rompimento de contrato com que a equipe da Fórmula se dirigia a ela", afirma seu depoimento ao Ministério Público. 

O restante dos assuntos a serem divulgados pelos influenciadores, assim como a estratégia de comunicação, segundo ela, passaram a ser definidos pela própria equipe de produção de conteúdo das empresas de Corrêa. Todos os conteúdos tinham que passar por ele, segundo o relato da empresária. 

As demandas eram passadas via WhatsApp ou email para os influenciadores. 

Na época, Corrêa e os demais políticos mencionados negaram fazer uso de métodos ilegais de propaganda. O conteúdo da ação movida pelo Ministério Público Federal em Minas foi compartilhado com os demais estados.

O advogado de Corrêa, Sérgio Santos Rodrigues, afirmou que ainda não foi intimado e que se manifestará quando tiver acesso ao teor da ação. ​

A assessoria de Gleisi Hoffman rebateu a informação. "É falsa a afirmação que consta da denúncia da procuradoria: a senadora Gleisi Hoffmann não recebeu nenhum tipo de serviço por parte das empresas citadas na ação e fez sua campanha para deputada dentro da legalidade". 


 

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