Escolas de Cidadania oferecem formação social e política em São Paulo

Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira, parceria da Unifesp, quer desenvolver senso crítico

Rafael Carneiro
São Paulo

Um texto dissertativo sobre a percepção de si mesma como cidadã diante da atual conjuntura política brasileira. Esse foi o trabalho final desenvolvido por Maria do Céu Magalhães, 52, para a Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira (ECCAP), que oferece formação social e política na zona sul de São Paulo.

Agora, a escrevente aguarda ansiosa pelo certificado emitido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que é parceira do projeto há dois anos.

A escrevente Maria do Céu Magalhães (no centro) participou da Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira em 2018 - Arquivo Pessoal

"A coordenação da Escola de Cidadania deixou a gente bem à vontade em relação a esse trabalho, para que fôssemos criativos. Como passo boa parte do dia no Fórum João Mendes, eu relacionei o cenário político de hoje com a nossa Constituição, abordando os direitos e deveres da população", explica a moradora do distrito de Cidade Ademar.

A cada 15 dias, o salão da Paróquia Cristo Ressuscitado ficava cheio para os encontros de formação. Das 9h às 12h, os mais de 30 alunos aprenderam com especialistas sobre o funcionamento do sistema político, a legislação trabalhista, os movimentos sociais, as questões de gênero, entre outros assuntos.

"É muito interessante uma formação como essa, pois as pessoas começam a desenvolver um olhar diferente sobre o bairro em que moram, a sua cidade, o país. Elas se sentem mais capazes de cobrar o poder público e de tentar mudar a realidade a partir do seu próprio lugar", afirma Penha dos Santos, uma das coordenadoras da ECCAP. 

Sobre o fato de os encontros acontecerem em uma igreja católica, Penha explica que o local foi escolhido apenas por ser um espaço comunitário e que não há nenhuma interferência da Igreja nas atividades.

A Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreira continuará a formação em 2019. As aulas começam no dia 23 de março e não há processo seletivo para ingressar. 

Penha destaca ainda que pessoas de diferentes visões políticas são muito bem-vindas, pois a diversidade enriquece o debate. Para que o aluno receba o certificado da Unifesp, ele deve ter um mínimo de 70% de comparecimento nas atividades realizadas.

A Unifesp também é parceira de outras Escolas de Cidadania. Uma delas é a da Zona Leste (ECZL), que faz seus encontros em Ermelino Matarazzo. Primeira a ser criada, em 2011, a ECZL surgiu a partir de uma experiência do coordenador Luís França na Escola de Governo com o professor de direito Fábio Comparato. 

"Em conversa com o padre Ticão, líder comunitário da zona leste, nós avaliamos a necessidade de um espaço de formação e informação cidadã", conta França.

Hoje, a Escola de Cidadania da Zona Leste é referência de aprendizagem para muitos moradores. Um deles é a professora de informática Deise dos Anjos, 51, aluna desde o primeiro ano. "Em todo esse tempo, já tive aulas sobre reforma política, descentralização do governo municipal e relação entre educação e política. Esta foi dada pelo professor Mario Sergio Cortella", diz.

Em 2018, as aulas da ECZL foram sobre saúde preventiva e, segundo a coordenação, o tema foi uma demanda dos participantes. No ano que vem, a política volta ao centro da discussão, o que agrada ao conselheiro tutelar Helio Bezerra, 63. "Sem política a gente não vive", diz. 

Além da ECCAP e da ECZL, há outras sete na capital. Na região metropolitana, o espaço de formação está presente em Guarulhos e Mogi das Cruzes. No interior, em Jundiaí e São José dos Campos. 

Já passaram pelas escolas mais de 2.500 alunos e cerca de 1.500 certificados universitários foram distribuídos.

As escolas são autônomas na elaboração das aulas. Em comum, são gratuitas, organizadas por moradores e buscam colaborar no desenvolvimento do senso crítico.

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