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Índios isolados recebem próteses dentárias feitas por impressoras 3D

Dentista fica na comunidade até 20 de dezembro para monitorar o tratamento e fazer ajustes

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Lábrea (AM)

Uma técnica nova de produção de próteses dentárias com impressora 3D acaba de ser usada para beneficiar índios da etnia suruwahá, habitantes do sul do Amazonas, que vivem em estado de quase isolamento. A ação para resolver problemas odontológicos do grupo foi promovida pela Sesai (Secretaria de Saúde Indígena) e pela ONG Doutores Sem Fronteiras.

O equipamento usa a tecnologia Cad-cam (sigla em inglês para “Desenho e manufatura auxiliados por computador”) para produzir a prótese exata necessária à boca de cada pessoa. Um computador escaneia a arcada dentária do paciente, indica as lacunas e o tamanho preciso do elemento substituto para que o encaixe de toda a arcada (chamado “oclusão”) não seja prejudicado; em seguida, ele comanda uma impressora 3D que produz a prótese a partir de um bloco de cerâmica.

Depois do encaixe, o dente artificial é iluminado por alguns instantes com uma espécie de caneta com uma lâmpada azul na ponta, que tem como propriedade acelerar o seu endurecimento. Em minutos, o material cerâmico fica rígido como um dente natural.

Graças à impressora 3D, o processo de identificação, desenho e moldagem de um bloco correspondente a três dentes pode ser feito em 20 minutos e implantado até no mesmo dia em que o paciente tratou um canal dentário, por exemplo.

“Estamos atendendo a uma demanda da própria população e com uma tecnologia que é difícil de encontrar até em grandes centros urbanos, evitando que estas pessoas, de recente contato, precisem ser deslocadas até a cidade para realizar o tratamento”, disse o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Marco Antônio Toccolini, que acompanhou o inicio dos trabalhos em novembro.

Até o último dia 29, quando a Folha chegou à área indígena, foram beneficiadas 32 pessoas com próteses e 19 com tratamentos de canal. Um dentista permanece na comunidade até o dia 20 de dezembro para monitorar a evolução do tratamento e realizar ajustes de oclusão que forem necessários.

Os suruwahá tendem a ter grande desgaste dentário porque usam intensamente os dentes em diversas atividades: na caça, quando preparam os dardos de suas zarabatanas; e no artesanato, ao amolecer fibras vegetais de confeccionar redes, flechas e arcos, etc.

Esses índios tiveram contato regular com a sociedade nacional só a partir dos anos 1980 e 1990. Até hoje, vivem com mínimo relacionamento com pessoas de fora do grupo. São acompanhados por um departamento da Funai que monitora “grupos isolados e de recente contato”, cuja base fica a cerca de cinco horas de barco da comunidade. Essa política chamada de “não contato” procura preservar a cultura indígena do impacto do relacionamento com não índios e também evitar contágios de doenças. Um simples resfriado, leve para brancos, pode abater muito um suruwahá e até matar velhos ou crianças.

Desde o contato, eles se tornaram conhecidos pelo alto índice de suicídios, um comportamento entranhado em sua cultura provavelmente desde o início do século 20, segundo estudos antropológicos.

Por isso o grupo se tornou prioritário para a realização da ação odontológica, uma vez que funcionários da Funai e da Sesai narram casos de pessoas que apontam a falta de dentes ou dores agudas como causa de angústia, pela incapacidade de realizar tarefas básicas do cotidiano.

Em abril passado, numa primeira parte da ação, dentistas enviados para a comunidade suruwahá realizaram consultas com todos os 154 moradores, quando diagnosticaram que 50 pessoas tinham necessidade de próteses ou cirurgias de canal.

A ação de tratamento foi realizada na área da base da Funai na terra indígena e envolveu a preparação de um gabinete odontológico completo e um acampamento provisório para os pacientes e suas famílias (123 índios no total). Cerca de 50 pessoas, entre funcionários da Funai, da Sesai, do Doutores Sem Fronteiras e os militares que apoiaram a ação, além de uma tonelada de equipamento, foram transportados para a região pelo Exército e pela Força Aérea.

Os suruwahá foram tema da terceira reportagem especial da série “Sebastião Salgado na Amazônia”, publicada pela Folha.

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