Maia e Renan se equilibram entre governo e oposição por apoio para comandar Congresso

Deputado e senador garantiram a aliados de Bolsonaro que vão avançar pauta econômica liberal

Marina Dias Daniel Carvalho
Brasília

Símbolos da política tradicional renegada por Jair Bolsonaro (PSL), os dois principais candidatos ao comando da Câmara e do Senado colocaram em marcha um plano de articulação que equilibra interesses da esquerda e do novo governo.

O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) elaboraram pelo menos dois discursos para tentar convencer seus pares de que são a melhor opção para assumir as Casas a partir de fevereiro de 2019.

Aos aliados do presidente eleito, garantem que vão fazer avançar sua pauta econômica liberal. Aos partidos de centro-esquerda, que serão uma espécie de muro de contenção à agenda de costumes conservadora defendida por Bolsonaro e seus apoiadores.

Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (MDB-AL) em evento de anúncio de medidas para estimular a economia, em 2016, no Palácio do Planalto
Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (MDB-AL) em evento de anúncio de medidas para estimular a economia, em 2016, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 15.dez.16/Folhapress

Para ser reconduzido à presidência da Câmara, Maia tem conversado com o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e investido no diálogo individual com deputados da base do novo governo. 

Quer mostrar que não trabalhará contra o Planalto no que diz respeito às reformas estruturais. De olho em chefiar o Senado pela quarta vez, Renan segue o mesmo roteiro. 

O senador alagoano jantou com o guru econômico de Bolsonaro na semana passada, falou sobre o possível apoio a bandeiras como a reforma da Previdência, mas foi pouco assertivo sobre seus planos de voltar a dirigir o Congresso.

O presidente da Câmara, por sua vez, defende as mudanças na aposentadoria desde quando a proposta foi apresentada pelo governo Michel Temer e tem se mostrado disposto a trabalhar pela aprovação da medida no próximo ano.

Sabe, porém, que suas chances de presidir mais uma vez a Câmara diminuem se a base de Jair Bolsonaro apoiar outro nome para o posto —os deputados João Campos (PRB-GO) e Capitão Augusto (PR-SP) despontaram entre as preferências de aliados do presidente eleito.

Já com partidos como PDT, PC do B e PSB, com quem tem trânsito desde sua primeira eleição, Maia deixa claro suas diferenças com Campos e Augusto e diz que propostas como a Escola sem Partido e debates sobre a “cura gay” não devem prosperar sob sua tutela.

Uma das conselheiras de Bolsonaro, a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), disse a Maia que o ajudaria a vencer resistências dentro do PSL. Segundo ela, seus colegas não veem o deputado como candidato ideal, mas avaliam que ele tem experiência e habilidade de articulação.

A grande dificuldade da equipe do novo governo será justamente o diálogo com os parlamentares. 
Com discurso contra a velha política, Bolsonaro escolheu seus ministros privilegiando as bancadas temáticas e não líderes e presidentes de partidos, como habitualmente era feito pelos governos de coalizão.

Essas frentes parlamentares podem ser importantes para a aprovação de projetos da agenda de costumes, mas não serão suficientes quando o assunto for reformas econômicas, que precisam de um arco de apoio mais sólido.

Renan também é visto com desconfiança pela base de Bolsonaro, mas se coloca como capaz de costurar grandes acordos no Congresso.

Suas articulações para presidir o Senado correm diante da falta de unidade na bancada do MDB e da possível candidatura de Tasso Jereissati (PSDB-CE) para o posto.

Senadores experientes, porém, afirmam que Tasso não deve se viabilizar, mas que Renan só vai se declarar oficialmente candidato quando tiver certeza de que tem votos para vencer a disputa.

Enquanto isso, conversa com as principais lideranças da Casa, inclusive com políticos de centro-esquerda, como o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE) —que está liderando uma frente de oposição ao novo governo, com Rede e PPS, excluindo os petistas.

Integrantes do PT dizem ter simpatia pela candidatura de Renan e que vão procurá-lo nos próximos dias.
É tradição que o partido de maior bancada presida o Senado —o MDB terá 12 senadores em 2019. 

O presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), afirma que só vai se posicionar sobre a sucessão na Câmara e no Senado às vésperas da eleição, no fim de janeiro, mas pondera que está atento ao discurso de Maia e Renan.

Segundo ele, a posição favorável à pauta econômica do novo governo credencia ambos como candidatos, mas disse que levará em conta a opinião deles sobre a agenda de valores antes de chancelar a posição de seu partido.

“Oxalá permaneçam com isso [apoio à pauta econômica de Bolsonaro], mas estamos em um período de avaliação sobre qual seria o melhor candidato para o PSL”, declarou Bivar.

No PSL, há quem defenda o nome do próprio presidente da sigla para a presidência da Câmara, mas ele pondera que é preciso uma “base mais larga” para Bolsonaro no Congresso.

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