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Governo Bolsonaro

A esquerda e a presidência da Câmara

Prioridade da esquerda devia ser resgatar e fortalecer o ambiente e as garantias democráticas e direitos individuais

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Washington Quaquá
Rio de Janeiro

Eu que já me manifestei por redes sociais, não iria insistir em tomar posição sobre a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, porque mesmo eleito com 74 mil votos, tive o mandato cassado por decisão ilegal e arbitrária da “Justiça” Eleitoral.

Mas como o assunto é muito importante e não sei ficar de boca fechada, sobretudo quando minha opinião é amplamente minoritária no partido, vou expor aqui, porque acho importante marcar minha divergência.

Desde antes das eleições venho defendendo um diálogo do PT e da esquerda com Rodrigo Maia. Esse diálogo deveria ter ocorrido logo após o resultado das eleições.

Esse diálogo deveria ser em torno de compromissos programáticos. Mas o eixo essencial é a defesa da democracia, para frear o Estado policial em que se transformou o Brasil, e em medidas de restabelecimento da democracia que foi ferida de morte.

Em tempos difíceis, a saída mais fácil é a saída da tartaruga. Se esconder no casco para se proteger. É isso que o PT está fazendo. Se isolando.

Não somos mais o partido do colégio eleitoral que se negou a participar da eleição de Tancredo. Não precisamos nos autoafirmar.

Somos o partido de esquerda que governou por 12 anos o Brasil e realizou a maior mudança de mobilidade social da história do Brasil. E foi através da disputa eleitoral e da democracia que realizamos essas mudanças.

Hoje, a direita e as elites econômicas e as institucionais do Estado prendem Lula e deformam a democracia, extinguindo-a na prática. Uma aliança tecnocrática, burguesa e pequeno burguesa contra a política e a soberania do voto popular. Um poder moderador sem voto substituiu a soberania popular.

A prioridade da esquerda devia ser resgatar e fortalecer o ambiente e as garantias democráticas e direitos individuais. Na arena democrática resolvemos os conflitos sociais e econômicos. Sem ela, é a barbárie que se instalou e se aprofunda.

Agora, posições “ideológicas” numa disputa parlamentar intra Congresso, que não é uma disputa eleitoral por projeto de poder? Desculpem, é isolamento e amor à derrota. Mas mais que isso é uma irresponsabilidade com o povo.

Precisamos ter espaço nas comissões legislativas para barrar projetos de regressão social e aprofundamento do autoritarismo. Precisamos negociar relatórios de leis que melhorem a vida do povo ou que evitem regressão democrática ou social.

Não é escolhendo a “derrota digna” e cantando a Internacional, que faremos isso. Faremos isso negociando com as forças de centro, e até da direita que queira defender a democracia na Câmara, em torno de pontos mínimos em defesa do povo e do Estado de Direito. Mas a esquerda está cega, surda e histérica.

Estamos nos acostumando a ver Lula preso para tirar selfie em frente à Polícia Federal em Curitiba. Prefiro ao mesmo tempo que centrar força na organização popular (coisa que não se faz), também criar frentes amplas de restabelecimento da democracia, porque com ela, Lula, que está preso injusta e ilegalmente, terá que ser solto.

Tempos difíceis...

Washington Quaquá é presidente estadual do PT do Rio de Janeiro e deputado eleito com 74 mil votos

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