Após um ano, assassinato de testemunha da Lava Jato na BA está arquivado sem solução

José Roberto Soares Vieira testemunhou desvios de recursos da Transpetro e foi morto com nove tiros

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Salvador

​A investigação da morte do empresário José Roberto Soares Vieira, testemunha da fase da operação Lava Jato que apurou desvios de recursos na Transpetro, foi arquivada pela Polícia Civil da Bahia e pelo Ministério Público do Estado da Bahia sem a identificação das causas e dos culpados.

Vieira foi morto há um ano, em 18 de janeiro de 2018, atingido por nove tiros na rodovia BA-522, em Candeias, Região Metropolitana de Salvador.

O assassinato aconteceu dois meses depois de Vieira prestar depoimento à Polícia Federal e tornar-se a principal testemunha das investigações que resultaram na prisão do ex-gerente da Transpetro na Bahia José Antonio de Jesus.

José Roberto Vieira, conhecido como Roberto do PT, que foi morto após testemunhar na Lava Jato
José Roberto Vieira, conhecido como Roberto do PT, que foi morto após testemunhar na Lava Jato - Reprodução

O caso do assassinato de Vieira foi arquivado em 1º de agosto de 2018, por ausência de indícios de autoria, após conclusão do inquérito policial. Sem avanço nas investigações, o Ministério Público do Estado da Bahia não apresentou denúncia à Justiça.

Em nota, a Promotoria informou que “o arquivamento não significa a extinção do inquérito” e destaca que “outras investigações podem ser realizadas caso surjam novas informações”.

O delegado Marcos Laranjeiras, que conduziu as investigações, também afirmou que reabrirá as investigações caso surjam fatos novos.

“Infelizmente, não obtivemos nenhum indício em relação à autoria, nada de concreto”, afirmou à Folha.

Filiado ao PT e ex-vice-prefeito da cidade de Ourilândia (452 km de Salvador) entre 2013 e 2016, José Roberto Soares Vieira era conhecido como Roberto do PT e foi morto por um homem armado na porta da sua empresa.

Na época, testemunhas afirmaram que ele andava preocupado com sua segurança. Horas antes de ser morto, ele deixou seu carro em uma revendedora em Salvador com o objetivo de comprar um novo automóvel com vidros blindados.

Vieira era um dos donos da JRA Transportes, empresa que teve como sócio, entre 2011 e 2013, o filho de José Antônio de Jesus.

O ex-gerente da Transpetro foi preso em novembro de 2017, sob suspeita de receber propinas que chegaram a R$ 7,5 milhões por meio de empresas e contas bancárias de familiares. Os recursos, segundo investigações do Ministério Público Federal, seriam destinados ao PT da Bahia.

Em julho no ano passado, José Antônio de Jesus foi condenado a 12 anos de prisão e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro pelo então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça. Ele está preso em Curitiba.

Apesar do litígio judicial e de Vieira ter sido uma testemunha-chave no processo que levou José Antônio de Jesus à cadeia, polícia e Ministério Público afirmam não ter encontrado indícios de relação do ex-dirigente da Transpetro com o assassinato.

As suspeitas em torno dos contratos da Transpetro eram de conhecimento da Justiça há pelo menos cinco anos, conforme revelado pela Folha em fevereiro do ano passado.

As denúncias constam em um processo judicial de dissolução da sociedade entre Vieira e o filho de José Antônio de Jesus. No processo, Vieira acusa o ex-gerente da Transpetro de receber propinas e presentes de empresas prestadoras de serviços da estatalpor meio de uma conta bancária da JRA Transportes.

Roberto tinha uma relação de quase 20 anos com o ex-gerente da Transpetro, de quem foi motorista, amigo e sócio. Conheceu José Antônio em 2001, quando era motorista de uma cooperativa que prestava serviços à estatal.

Da relação profissional diária, tornaram-se amigos. Vieira passou a ser frequentador do apartamento, da fazenda e da casa de praia de José Antônio. Também prestava serviços particulares ao chefe nos finais de semana.

Antes de denunciar seu sócio, Roberto teve uma rápida ascensão financeira. Em um período de cinco anos, passou de motorista de uma cooperativa que prestava serviços a Transpetro a um empresário de sucesso do setor de transportes de cargas perigosas e fornecedor de duas subsidiárias da Petrobras.

Com a dissolução da JRA Transportes, Vieira e José Roberto de Jesus abriram novas empresas e tornaram-se concorrentes. O primeiro fundou Sirius Transportes e o segundo a Green Transportes, ambas na cidade de Candeias. 

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