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Governo Bolsonaro

Bolsonaro precisa abrir diálogo diretamente com europeus

Na imprensa, think tanks, empresas e ONGs, política econômica do novo governo ainda não é compreendida

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Guilherme Athia
Bruxelas

A repercussão da posse do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na Europa merece algumas observações preliminares.

Jornal francês Libération questiona Bolsonaro em sua capa - Reprodução/Folhapress

Pouco ou nada vem sendo falado sobre a nova política econômica brasileira na imprensa, think tanks, associações empresariais, organizações não governamentais, entre outros grupos. A análise ficou focada em aspectos políticos, e não econômicos. Portanto, há uma oportunidade de se abrir esse diálogo diretamente. 

As empresas europeias foram as responsáveis por 50,7% de todos os empregos gerados no Brasil por investimentos greenfield –ou seja, incipientes e de alto risco– no período de 2006 a 2015. Os europeus são tradicionais investidores nos setores de infraestrutura e saúde, e são o segundo maior mercado para os produtos agrícolas brasileiros. 

O novo governo, ao iniciar a interlocução direta, trará mais clareza ao investidor, seja na aprovação da ampliação de uma fábrica, quanto em um investimento inicial. Esse diálogo deve começar rapidamente, para não se perder a oportunidade de entrar nos ciclos de discussão e aprovação dos orçamentos das empresas. 

Em segundo lugar, as mensagens do ponto de vista econômico devem ser acompanhadas por uma visão sobre o que vem se passando na sociedade e no governo no Brasil dos últimos anos. É importante lembrar que investidores gostam de previsibilidade também no ambiente político. O Brasil é uma grande economia com uma democracia madura. Essa maturidade democrática é a mensagem a ser transmitida ao investidor. 

No Brasil, as instituições foram testadas e estão cada vez mais sólidas, especialmente no ponto mais relevante de todos, a evolução da cultura cívica do brasileiro. É preciso iniciar essa explicação pelos protestos de 2013. Desde então, muitos analistas políticos tradicionais não compreenderam que a sociedade brasileira estava se transformando, assumindo posições e, portanto, exercendo a democracia. 

Já em 2016, com o impeachment, as dúvidas desses analistas eram sobre o processo e suas interpretações. O que se passava no Brasil? Era uma decisão jurídica ou política? Era um processo legítimo? Políticos brasileiros com projeção internacional ajudaram a disseminar essas dúvidas e o impacto nas empresas foi sentido com os departamentos jurídicos e de relações governamentais se comunicando intensamente com seus acionistas. 

As eleições de 2018 foram outra vez uma oportunidade para análises superficiais, por vários fatores; um candidato a presidente líder nas pesquisas, mas preso; um competidor fácil de ser rotulado; tudo isso se passando em um país que já não estava mais no centro das atenções internacionais desde a emergência dos Brics e da crise de 2008-2009.

Portanto, a repercussão da posse do presidente Bolsonaro deve se basear principalmente na imagem negativa do Brasil nos últimos anos, formada por uma visão imediatista de alguns analistas no exterior. Em paralelo, a sociedade brasileira demonstra nas pesquisas que a democracia nunca foi tão forte, segundo pesquisa Datafolha. Isso gerou um enorme degrau entre as percepções internas e as externas. 

Analisar a posse pelo que disseram a imprensa internacional e as redes sociais e pela quantidade de chefes de Estado na solenidade é um indicador da percepção externa do país nesse momento. Esses analistas irão entender melhor o que se passa no Brasil no futuro. Mas por que esperar? 

Por último, é preciso abrir de imediato um diálogo, especialmente com aqueles com quem contamos para investir na nossa desestatização. A participação do novo governo no Fórum Econômico Mundial em Davos e também a realização de road shows, abertos e privados, nos centros financeiros, industriais e políticos europeus são as plataformas mais práticas para o Brasil explicar os seus planos nas áreas comercial, fiscal, digital, de produtividade, desestatização e combate a corrupção. Preparem seus casacos!

Guilherme Athia, baseado na Bélgica, é consultor internacional pela Atlantico e membro de conselhos de empresas.

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