ITALO NOGUEIRA
SÉRGIO RANGEL
DO RIO

A rede de influência do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) mantida dentro da prisão, segundo o Ministério Público do Rio, permitiu que ele fizesse uso de "pontos cegos" no videomonitoramento da cadeia e até influenciasse na nomeação de cargo público do Estado.

Essa atuação de Cabral atrás das grades serviu como base para o pedido de transferência do ex-governador feito pelas forças-tarefas da Lava Jato no Rio e Paraná. Os juízes Sérgio Moro e Caroline Figueiredo (substituta de Marcelo Bretas) acataram a solicitação e o emedebista foi levado nesta quinta-feira (18) para o Complexo Médico Penal, em Pinhais.

O Ministério Público do Rio afirmou que desde a prisão de Cabral, em novembro de 2016, o secretário de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro Costa Filho, tomou medidas para atender demandas do ex-governador. A Promotoria pediu à Justiça o afastamento dele na pasta, assim como de outros cinco servidores.

"Desde novembro de 2016, o sistema penitenciário passou a se moldar para atender as necessidades de um preso específico", afirmou a promotora Andréa Amin, do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública).

A promotora classificou como "ridículo", "pífio" e "tosco" o sistema de videomonitoramento instalado na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, reformada para receber em maio os presos da Lava Jato.

"O monitoramento por câmeras em Benfica é tosco, facilmente manipulável. Qualquer pessoa que passa pode plugar, desplugar. Ter um sistema de monitoramento ridículo, pífio, faz parte do contexto [de benefícios a Cabral]", disse Amin.

O MP do Rio afirma ainda que o monitoramento tinha pontos cegos que eram usados por Cabral para receber encomendas de forma irregular.

O emedebista também atuou para nomear o filho de um agente penitenciário na Secretaria Estadual de Esportes e Lazer. O cargo foi ocupado três dias após o deputado Marco Antônio Cabral (MDB), filho do ex-governador, deixar a titularidade da pasta.

Preso sob acusação de cobrar 5% de propina sobre os grandes contratos no Estado, Cabral já foi condenado em quatro ações penais a 87 anos —pela lei brasileira, uma pessoa pode ficar no máximo 30 anos preso. Ele responde a outros 16 processos e é alvo de inúmeras investigações em curso.

A permanência do político no sistema penitenciário do Rio foi repleta de relatos de regalias. A cadeia de Cabral recebeu um home theater, biblioteca para que ele pudesse trabalhar e reduzir a pena, visitas fora de hora e comida farta de restaurantes caros.

Ele chegou a ser transferido para Curitiba em dezembro de 2016, em razão de irregularidades na visitação. Mas obteve liminar no Tribunal Regional Federal do Rio para retornar ao Estado.

Há ainda a suspeita de que ele tenha ordenador a produção de dossiês contra o juiz Marcelo Bretas. O Ministério Público mantém investigações em curso.

GAROTINHO

Um dos inquéritos assumidos pelo Gaesp trata da suposta agressão ao ex-governador Anthony Garotinho (PR), em novembro. Rival político de Cabral, ele declarou ter sido atacado durante a madrugada de sua primeira noite em Benfica.

A Secretaria de Administração Penitenciária afirmou que as câmeras de monitoramento não identificaram qualquer agressão ao ex-governador. Agentes afirmaram à imprensa local que o político teria se auto agredido para conseguir a transferência para outro pedido.

"O monitoramento é muito rústico. Foi em razão da investigação da suposta agressão ao ex-governador Garotinho que nós tivemos a oportunidade de conseguir pelo menos as imagens de um dos HDs", disse Amin.

A REDE DE CABRAL
Investigações apontam influência de ex-governador

PONTOS CEGOS
Cabral tinha conhecimento dos pontos cegos do videomonitoramento da cadeia e os usava para receber e analisar encomendas

ALIMENTAÇÃO
O ex-governador teve acesso a alimentos não permitidos na prisão

NOMEAÇÃO
O emedebista atuou para nomear o filho de um agente penitenciário num cargo público do Estado

ESCRITÓRIO
A biblioteca que existia em Bangu 8 foi transferida para Benfica quando o político foi levado para lá

VISITAS
O político recebia visitas fora do horário estipulado pelas regras do sistema penitenciário

PERSEGUIÇÃO
Há ainda a suspeita de que ele tenha ordenador a produção de dossiês contra o juiz Marcelo Bretas, da Lava Jato do Rio

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