Polêmica com filhos é ponto comum a Bolsonaro em eleições da Câmara

Atual presidente concorreu quatro vezes ao cargo; no último pleito, teve quatro votos

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Jair Bolsonaro e deputados comemoram eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara, em 2005
Jair Bolsonaro e deputados comemoram eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara, em 2005 - Sérgio Lima - 15.fev.2005/Folhapress
São Paulo

De candidato inexpressivo à presidência da Câmara, com quatro votos em fevereiro de 2017, ao agora presidente da República com influência decisiva na disputa. Na próxima sexta-feira (1), quando os deputados federais escolherem seu novo líder, Jair Bolsonaro terá apenas um ponto em comum entre os dois pleitos: uma polêmica envolvendo um dos seus filhos.

Há dois anos, o então deputado e hoje presidente da República foi fotografado no plenário em uma conversa pelo Whatsapp com o também deputado Eduardo Bolsonaro --que poderia ter sido o quinto voto a seu favor na votação vencida por Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

O filho 03, como Eduardo foi apelidado pelo pai, faltou à sessão da Câmara. “Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente”, ordenou o hoje presidente da República. “Não vou te visitar na Papuda”. 

A situação foi classificada por ambos, que reclamaram da invasão de privacidade, de desabafo entre pai e filho. “Ele [Eduardo] estava na Austrália”, disse Bolsonaro posteriormente, sobre o hoje deputado federal mais bem votado da história, com 1,8 milhão de votos. “Para botar uma pilha em mim, ele disse que ia comprar um fuzil nos Estados Unidos, mas não foi nada disso”, justificou o hoje presidente.  

Hoje, o seu partido, o PSL, decidiu apoiar a nova candidatura de Maia ao comando da Câmara. Se a bancada “bolsonarista” de 2017 tinha apenas quatro integrantes, na Câmara que tomará posse nesta sexta-feira (1) a legenda estará representada com 52 congressistas.

Se seu poder e influência dispararam, o presidente hoje está às voltas com um escândalo muito mais delicado envolvendo seu primogênito, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. 

Flávio está no centro da polêmica envolvendo movimentações financeiras atípicas e auxiliares de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, e há receio, em especial dos militares, de que a investigação possa contaminar o governo. 

HÁ DOIS ANOS 

Em fevereiro de 2017, Bolsonaro se lançou pela quarta e última vez, ainda pelo PSC, ao cargo máximo da Câmara contra o favorito Rodrigo Maia (DEM-RJ), que agora é aliado de seu atual  partido, o PSL.

Assim como nas candidaturas anteriores, em 2005 e em 2011, sua participação na eleição interna reforçou seu perfil de político folclórico e isolado: angariou somente 4 dos 513 votos na Casa.

Em seu pronunciamento de candidato em 2017, Bolsonaro disse que Maia não dava atenção a pautas importantes, como a manutenção do crime de desacato a autoridade, e que o presidente da Câmara não deve baixar a cabeça, demonstrando obediência.

Durante o discurso, poucos deputados pareciam prestar atenção no candidato, que admitiu ter “remotas chances”.

Mencionou temas que continuam em sua agenda, agora de principal autoridade do país, como a revisão do estatuto do desarmamento.

“Temos uma Câmara que não cria leis, que não fiscaliza e que não representa os anseios do povo. O Legislativo se apresenta subserviente ao Executivo e submisso ao Judiciário.”

Maia acabou eleito com 293 votos em primeiro turno, com Jovair Arantes (PTB-GO), em segundo. Bolsonaro acabou em sexto, atrás de Luiza Erundina (PSOL-SP), que fez dez votos.

O deputado do DEM novamente ostenta favoritismo para se reeleger na próxima sexta-feira (1º).

Jair Bolsonaro discursa durante sessão de escolha do presidente da Câmara, em setembro de 2005
Jair Bolsonaro discursa durante sessão de escolha do presidente da Câmara, em setembro de 2005 - Sérgio Lima - 29.set.2005/Folhapress

Deputado desde 1991, ele fez apenas dois votos na primeira de suas candidaturas à presidência da Câmara, em 2005, quando integrava o antigo PFL.

Como ele próprio admitiu em discurso antes da votação, sua intenção era apenas ocupar o espaço para fazer campanha contra o candidato do então presidente Lula ao cargo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP).
“Não pedi o voto de ninguém. Sei qual é a regra do jogo e não vou aqui fazer o papel de otário”, disse, em discurso, no qual chamou o deputado petista de “defensor de sequestradores”.

A estratégia deu certo. Em uma votação surpreendente, foi eleito para o comando da Câmara o pernambucano Severino Cavalcanti, do PP, deputado símbolo do chamado “baixo clero” da Casa, grupo de deputados de pouca expressão no qual Bolsonaro costumava ser incluído.

Após o resultado, o à época pefelista afirmou que o resultado era a vitória de “Davi sobre Golias” e se disse um “soldado” do colega eleito. A passagem do deputado do PP pela direção da Casa durou poucos meses  —renunciou após suspeitas de corrupção em um contrato da Casa.

Meses depois, na eleição interna para substituir Severino, Bolsonaro, após migrar para o PP, novamente se colocou como candidato. Mas desta vez ninguém votou nele: apareceu com zero voto ao final. No discurso, críticas à campanha pelo desarmamento e referências a controle de natalidade e ao mensalão petista.

“A nossa sobrevivência política depende da não eleição de um candidato do governo”, disse. Apesar de seus apelos, o eleito foi Aldo Rebelo, então no PC do B.

Em 2011, no auge do lulismo, Bolsonaro concorreu contra Marco Maia (PT-RS), nome da então presidente Dilma Rousseff à presidência da Câmara. A candidatura só foi lançada horas antes da eleição e obteve nove votos. 

O então deputado do PP disse na sessão de votação que tinha sido procurado anos antes para indicar um superintendente do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, em troca de apoiar o governo de Lula. 

“Não pode ser tão incondicional assim o apoio ao governo. Temos de ser independentes. Se viermos a ser, o Brasil ganhará com isso”, afirmou, à época.

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