Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Com aversão à esquerda, estreante na Câmara acumula brigas no currículo

Deputada eleita pelo PSL, Carla Zambelli já teve embates com Wyllys, Maia e com a família

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São Paulo

No dia anterior à cirurgia de retirada de um tumor benigno no cérebro, Carla Zambelli Salgado estava preocupada e, na última conversa com o médico antes de ir para o centro cirúrgico, perguntou se haveria "algum petralha" na equipe durante o procedimento, naquele 19 de dezembro de 2015.

 Carla Zambelli, que vai ficar instalada no gabinete que foi de Bolsonaro
Carla Zambelli, que vai ficar instalada no gabinete que foi de Bolsonaro - Danilo Verpa - 13.dez.15/Folhapress

“Apesar de o médico ter todos os cuidados para que não tivesse nenhum esquerdista ali, tenho medo. Eles tratam a gente com muita raiva, só faltava colocar uma injeção de ar no meu coração”, afirma Zambelli, 38, que vai estrear na Câmara após ser eleita deputada federal pelo PSL-SP com 76,3 mil votos.

Natural de Ribeirão Preto (SP), a gerente de projetos e mãe solteira de João Hélio virou ativista política em 2011, quando fundou o Nas Ruas —movimento que nasceu, segundo ela, defendendo pautas como a lei da Ficha Limpa e o fim do foro privilegiado, mas que ganhou projeção anos depois, nos atos que pediam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em julho de 2012, ela foi vista em uma manifestação com integrantes do Femen, mas nega vínculo com o  grupo feminista fundado na Ucrânia.

“Uma vez na vida fiz uma foto e, sem saber, era para o Femen. Eu estava apoiando uma pauta contra turismo sexual e prostituição infantil. São causas que, seja de direita ou de esquerda, qualquer pessoa apoiaria”, diz.

Zambelli trabalhou em empresas como KPMG e Terco Grant Thornton, e chegou a receber R$ 17 mil por mês. Para concorrer à Câmara em 2018, ao TSE ela declarou um patrimônio de R$ 35,7 mil.

Sem grandes receitas do seu partido, contou com doações no total de R$ 400 mil de pessoas físicas —e aplicou mais da metade desse valor para militar nas redes sociais; só com impulsionamento de postagens no Facebook, declarou gastos de R$ 270 mil.

Boa parte das doações veio de empresários. Tomé Abduch, da construtora Abduch, com duas transferências de R$ 30 mil cada uma, e Edgard Gomes Corona, do grupo Bio Ritmo/Smart Fit, que transferiu R$ 50 mil, encabeçam a lista de doadores.

“O Tomé, que é o maior doador, é meu amigo e jamais pediria algo em troca, mas se qualquer um fizer algo nesse sentido deixaria de ser meu amigo em segundos. Não aceito ingerências no meu mandato”, disse a deputada.

Apesar de todo o fervor à frente das manifestações —chegou a receber voz de prisão da polícia legislativa por xingar o deputado Paulo Pimenta (PT-RS)—, Zambelli conta que resolveu disputar uma vaga na Câmara dos Deputados somente após ter sido expulsa pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante sessão do voto impresso em outubro de 2017.

Em seu perfil no Twitter, Zambelli avisa que a esquerda "vai tremer". O último embate, no entanto, trouxe prejuízos. Ela foi obrigada, pelo 3º Juizado Especial Cível do Rio de Janeiro, a indenizar o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) em R$ 40 mil, acusada de associar Wyllys a atos de pedofilia. Não cabe recurso.

A aversão de Zambelli aos partidos de esquerda não poupa nem os do mesmo sangue. A deputada ficou três anos distante da sua irmã Paula Zambelli Salgado Brasil —antes, elas eram melhores amigas, e Paula é madrinha de João Hélio.

Enquanto Carla publicou o livro “Não Foi Golpe - Os Bastidores da Luta nas Ruas” (editora LVM), Paula defende o contrário. “Se alguém vibra que o Brasil saiu do pacto de migração por exemplo, eu não vou vibrar. Tenho a impressão que a Carla quer saber tudo o que penso para opinar o contrário”, conta Paula.

Bolsonarista a ponto de trocar farpas com Joice Hasselman —até então sua amiga "Joicezinha"— pelo posto de queridinha do presidente, Zambelli escolheu o gabinete 482, ocupado por Jair Bolsonaro durante sete mandatos,  e quer conservar cada detalhe.

“Eu estava com receio de o gabinete cair na mão de um esquerdista, de uma Gleisi Hoffmann, de um Jean Wyllys. Isso apesar de o Jean ter desistido [do mandato], graças a Deus. Estou muito contente, porque agora não vamos ter o risco de ser alvo de cusparadas no meio do mandato”, diz a deputada, em referência ao fato de Wyllys ter cuspido em Bolsonaro em uma discussão na Câmara.

Sobra a decoração do gabinete, Zambelli se diz encantada.

“Ela vai manter o quadro de todos os presidentes militares e colocar a foto de Bolsonaro”, revela seu assessor Fábio Constantino.

A irmã Paula já avisou que não irá visitá-la.

 

Carla Zambelli, 38

  • Natural de Ribeirão Preto (SP), ganhou projeção no impeachment de Dilma Rousseff
  • Deputada federal eleita pelo PSL-SP
  • Recebeu 76,3 mil votos
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