Maiores doações a congressistas favorecem siglas à direita e caciques

Com novas regras, empresários continuaram contribuindo, mas restringiram apoios em relação a 2014

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São Paulo

Na campanha de 2018, as primeiras eleições gerais em que o financiamento de empresas foi proibido, empresários continuaram contribuindo com candidaturas, mas restringiram seu apoio a redes mais enxutas.

Na era pré-Lava Jato, os principais doadores —por exemplo, o grupo JBS e empreiteiras como Odebrecht e OAS— eram responsáveis pelas maiores contribuições, que ajudaram a eleger mais da metade dos deputados na Câmara. 

Na eleição de outubro passado, um grupo de 18 empresários foi responsável pelas maiores doações registradas, segundo análise da Folha com base na prestação de contas dos parlamentares eleitos. O levantamento exclui autodoações e repasses a partidos.

Principal doador, Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de Administração da Cosan, distribuiu R$ 2,2 milhões a 17 congressistas, a maioria do PP e do DEM.

Um dos beneficiados, com R$ 200 mil, foi o novo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que se reelegeu deputado federal.

Considerando apenas os empresários, Rubens Menin Teixeira de Souza, cofundador da MRV Engenharia, foi o segundo maior financiador, com R$ 1,05 milhão para 2 deputados do Novo, 2 do PP e os outros 3 de PT, MDB e PP.

Os irmãos Eugenio e Salim Mattar, do grupo Localiza, doaram juntos R$ 1,2 milhão para 16 candidatos, sendo 6 do Novo e 5 do DEM. Salim foi nomeado secretário de Privatizações, subordinado ao Ministério da Economia.

A reportagem procurou os empresários para comentar os repasses e questionar se, ao doar, buscavam influência. Nenhum quis comentar.

Não significa, porém, que não tenham interesses. José Isaac Peres, fundador da rede de shoppings de luxo Mulitplan, foi o “homem do ano” da revista “Líderes do Brasil”, publicação da Doria Editora —uma das empresas do grupo fundado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O empresário registrou seu otimismo à revista: “Depois da eleição, o Brasil acordou como outro país”. E disse estar atento a um projeto de lei em discussão na Câmara que trata de devolução de imóveis.

“Não se pode perder de vista que, depois da Lava Jato, a doação eleitoral ficou mal vista no mercado. Muitos empresários e executivos acabaram se retraindo, com medo de manchar sua reputação”, diz Bruno Carazza, autor de “Dinheiro, Eleições e Poder - As Engrenagens do Sistema Político Brasileiro” (Cia. das Letras).

Considerando que as regras de financiamento eleitoral são novas, é impossível comparar esta eleição com a anterior. Até 2014, pessoas jurídicas podiam fazer doações, mas essa alternativa acabou sendo derrubada pelo Supremo Tribunal Federal.

Na eleição de 2016, já vigorou a proibição de candidatos obterem dinheiro vindo de empresas, mas, como era um pleito municipal, os impactos da nova regra não foram sentidos de forma tão abrangente.

A partir dos dados organizados pela Folha, Carazza considera que o que se viu em 2018 foi a vinculação maior dos principais doadores com candidatos de direita ou pró-mercado —que acabaram tendo maior êxito nas urnas— além de parlamentares influentes, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

Em número de doações, deputados e senadores do DEM e do Novo foram os favoritos dos empresários. Considerando o maior valor de doação, a campeã é Selma Arruda (PSL-MT).

“A gente não sabe —ou não tem elementos suficientes para verificar— se é uma doação realmente ideológica ou se é uma questão de ‘feeling’ [sentimento] desses grande empresários de identificar que a maré talvez estava mudando. Eles fazem a aposta na direita por identificar que tinham maior chance e preparar terreno para um relacionamento mais próximo”, diz.

Para Carazza, empresas costumavam doar a candidatos desconsiderando o viés ideológico, com a perspectiva de ter acesso aos parlamentares: “Por isso, muitos dos grandes investidores doavam para o PT”.

Em 2018, ao mesmo tempo em que privilegiou recursos a deputados do Novo e do PP, Rubens Ometto, da Cosan, contribuiu com deputados federais petistas, como os paulistas Carlos Zarattini e Arlindo Chinaglia.

Leve-se em conta, também, que algumas dessas empresas —como a própria Cosan e a Localiza, que é uma empresa de aluguel de carros— fornecem para o governo federal ou costumam aparecer na lista de compras dos deputados com recursos da cota parlamentar a quem tem direito no mandato.

O administrador de empresas Vinicius Poit foi eleito para seu primeiro mandato na Câmara pelo Novo em São Paulo. 

Dos principais doadores, ele recebeu contribuições de Salim Mattar, José Isaac Peres (da Multiplan), João Carlos de Magalhães Neto (fundo de investimentos Tarpon) e Jean-Marc Etlin (ex-Itaú BBA). O eleito diz que não vai defender interesses dos doadores, mas sim temas como empreendedorismo, e corte de privilégios. 

“Contou a favor ser um candidato que participa de um movimento de renovação política, com o selo de qualidade do Novo e do RenovaBR [grupo que apoiou novos candidatos]”, afirma Poit.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto informava, erroneamente, que Jean-Marc Etlin ainda estava ligado ao Itaú BBA. Ele deixou a instituição em 2015. O texto também dizia que o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) recebeu doação de Rubens Ometto ---na verdade, a contribuição ao petista foi do empresário João Carlos Di Gênio.
 

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