MDB deve ouvir as ruas, diz Simone Tebet, candidata à presidência do Senado

Senadora que enfrentará Renan no partido defende agenda econômica e diz que é prematuro avançar no caso Flávio Bolsonaro

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Brasília

Para enfrentar Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela preferência da bancada sobre quem será o candidato à presidência do Senado, Simone Tebet (MDB-MS) tem discurso pronto.

"O que estou pregando é que o partido tem que ouvir o recado das ruas. São novos tempos. Vieram outros ventos das urnas. O MDB não pode mais viver do passado", disse a atual líder do MDB na Casa em entrevista à Folha.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que é candidata à presidência do Senado
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), que é candidata à presidência do Senado - Pedro França - 10.jul.2018/Agência Senado

Ela defendeu o combate à corrupção, mas, ao ser questionada sobre a polêmica envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que era prematuro avançar nesta pauta. 

"Tudo que foi feito antes da posse, a princípio, não cabe investigação por parte da Casa. Isso fica por conta do Ministério Público, do Poder Judiciário", afirmou. 

A senadora também criticou a atuação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no que considerou uma interferência dele na disputa no Senado. "O presidente entende como funciona o Congresso. Então, acredito que é hora de colocar ordem na casa."

Tebet defendeu a agenda econômica de reformas do governo, mas sugeriu que o Palácio do Planalto tenha calma com a pauta de costumes. "Tem que ter foco para ter resultado", disse a senadora.

 

Por que a sra. quer ser presidente do Senado? As circunstâncias me levaram a este posicionamento: uma renovação recorde no Senado, um recado muito claro das ruas e das urnas a respeito do que a sociedade espera desta nova legislatura, o entendimento de que o Senado vai ter um papel decisivo para o desenvolvimento do país, especialmente para esta travessia, para a saída das crises política, moral, econômica e social. Dentro deste quadro de renovação, inclusive na própria bancada, houve uma movimentação começando de fora da bancada em favor do meu nome sem que eu sequer pedisse voto. Fui estimulada por senadores de fora da bancada e alguns colegas entenderam que seria saudável, importante, uma disputa interna. Paralelo a isso, vendo algumas movimentações e crescimento de outras candidaturas fora do partido, entendi que havia uma certa resistência ao nome do outro candidato [do partido], que é o senador Renan Calheiros.

Por que enfrentar Renan? Ele é um candidato, não tem como eu não disputar com ele ou com quem fosse candidato da bancada. Não sou candidata por mim mesma. Represento a manifestação de vários senadores de outros partidos e também de alguns da bancada que acham que tem que ter alternância de poder, oxigenação do partido e que têm consciência que temos que ter candidato forte para ganhar a presidência do Senado.

O [senador eleito] Major Olímpio (PSL-SP) disse estar disposto a abrir mão da candidatura mais adiante para fazer frente a Renan. Como está o diálogo sobre isso? O Major Olímpio esteve comigo dizendo que o problema do PSL não era com o MDB. Se, por ventura, o MDB lançasse um outro candidato, não necessariamente eu, ele poderia rever a candidatura dele. Para mim, a conversa foi neste sentido 'olha, nós temos uma restrição ao senador Renan, mas não é uma restrição ao partido'.

A sra. falou que não era candidata do governo, mas que não rejeitaria apoio do PSL. Na Câmara, o apoio do PSL gerou desgaste a Rodrigo Maia (DEM-RJ). A sra. teme que isso aconteça em um eventual apoio à sua candidatura? Não tenho este apoio. Foi uma conversa como tive com outros candidatos a presidente. Conversei com Renan, com Tasso, que também disse que poderia estar conosco se não for Renan candidato. Da mesma forma como o PSD, que não colocou restrições a nomes, nem Renan nem Simone. Estas tratativas vão ser feitas com todos. Ainda não falei com todos os colegas da bancada, [mas] já tenho apoio do senador Márcio Bittar (AC). O senador Jarbas [Vasconcelos (PE)] tem simpatia pelo meu nome. Outros senadores também, como é o caso do senador Dário [Berger (SC)], Eduardo Gomes [(SD-TO)], que está vindo [para o MDB]... Mas não tem nada oficializado.

Por que a bancada deveria escolher a sra.? O que estou pregando é que o partido tem que ouvir o recado das ruas. São novos tempos. Vieram outros ventos das urnas. O MDB não pode mais viver do passado glorioso, o partido da redemocratização, que abrigou todos os partidos de esquerda, de centro, num momento decisivo. Temos que reinventar o nosso presente e projetar nosso futuro para algo que vá ao encontro do que a sociedade quer: um projeto desenvolvimentista, que se discuta a pauta econômica prioritária, que se faça uma agenda de combate forte à corrupção, que lembre de políticas públicas. Não retiro, em hipótese alguma, minha candidatura. Foi muito bem pensado. Minha candidatura é para valer e até o final. Sou candidata para ganhar ou para perder dentro da bancada.

E se a bancada escolher outro nome? A sra. disputa como candidata avulsa? Aí é uma outra questão. Só disputarei se eu tiver dúvida ou até mesmo certeza de derrota do MDB no plenário. Mas é mais adiante. Se por exemplo, eu perco dentro da bancada por 11 a 1 ou 12 a 1, se a gente já tiver um senador a mais, não tem o que se falar de disputa em plenário, uma vez que não tenho o apoio nem dentro da bancada.

A sra. falou que o MDB não pode viver de passado, mas só citou, vamos dizer, o passado glorioso. O passado recente do MDB é complicado. Esse entendimento sobre o passado é mais amplo? É. Justamente para que a gente volte às origens que eu defendo uma oxigenação. A renovação faz parte de qualquer processo.

Como a sra. se sentiu ao ser procurada pelo deputado Leonardo Quintão [integrante da equipe da Casa Civil] para falar da candidatura do DEM? A sra. já criticou a atuação do ministro Onyx Lorenzoni... [Me senti] surpresa, antes de mais nada. Num primeiro momento, não foi um partido. Foi um representante da Casa Civil. Então, estamos falando de governo, que disse lá atrás que tinha apenas um senão em relação a nós, que era um nome [o de Renan Calheiros], e que, dentro disso, não havia problema porque o 01 [apelido de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), senador eleito e filho do presidente Jair Bolsonaro] não iria entrar na disputa da presidência do Senado. Tendo em vista isso, fui surpreendida com 'me desculpe, não dá para esperar até o dia 29 [dia da reunião do MDB]. Resolvemos, temos um candidato que está falando em nome do governo'. Eu disse 'tudo bem, se é assim, eu só quero dizer para vocês que muda toda a situação porque o que vocês estão dizendo é que a presidência é um fim em se mesmo e fica em segundo plano a governabilidade'. Qual a razão de preterir a maior bancada depois de já ter feito uma ou outra condicionante?

A sra. entende este movimento como da Casa Civil ou do DEM? Depois, até em função da conversa que tivemos com o PSL, ficou claro que foi do partido [DEM].

Mas do jeito que aconteceu, gera um ruído desnecessário para o governo? O presidente entende como funciona o Congresso. Então, acredito que é hora de colocar ordem na casa.

Previdência. Pretende conduzir ajudando o governo? Independente de em que posto eu esteja, entendo que a pauta econômica é prioritária para sairmos o mais rápido possível desta crise. Estamos falando em abstrato porque ainda não temos o texto [da reforma previdenciária]. Dentro daquilo que a princípio se fala, acho mais do que razoável o que vai ser apresentado. O que depender de mim, o Brasil vai poder contar comigo para aprovar esta medida o mais rápido possível. A meu ver a Previdência tem que ser aprovada nos seis primeiros meses de governo.

Na pauta de costumes, há o projeto de redução da maioridade penal, que já está no Senado e há expectativa de que chegue proposta sobre porte de armas. Como a sra. pretende tratar estes temas? O governo tem que entender que não pode tudo e não vai dar conta de tudo. Eles sabem disso. Têm que ter foco para terem resultado. E o foco tem que ser a prioridade do país: a pauta econômica e combate à violência, à corrupção. Se tiver que misturar com isso, que já é uma pauta extensa, que vai exigir um ou dois anos de trabalho na Casa, pautas muito polêmicas ligadas à questão de costumes, pode atrapalhar a rapidez da votação dos outros projetos. A pauta de costumes pode tramitar normalmente, ouvindo-se a sociedade, fazendo audiências públicas, passando na tramitação normal das comissões. Ela não pode, de forma alguma, ser um obstáculo às duas agendas prioritárias.

Existe articulação da oposição para que o caso do senador eleito Flávio Bolsonaro seja investigado e bastante explorado no Senado. Como a sra. pretende tratar este tema, caso seja eleita? Uma investigação, caso aberta, terá um andamento célere ou lento? Vou falar não como candidata, mas como parlamentar. Acima de tudo, é importante ter os fatos. Os fatos têm que estar claros. Tenho que ter algo concreto no que me debruçar. Lembrando que tudo que foi feito antes da posse, a princípio, não cabe investigação por parte da Casa. Isso fica por conta do Ministério Público, do Poder Judiciário. A não ser que queira fazer barulho, pré-julgamento ou fazer com o partido do outro o que não quis que se fizesse com o próprio partido, fora isso, é muito prematuro você avançar nesta pauta. Não somos Ministério Público, muito menos Judiciário.

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