Descrição de chapéu Lava Jato

Palocci faz complemento de delação com Procuradoria no DF

Ex-ministro falou a procuradores que investigam corrupção em bancos públicos e fundos de pensão

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Brasília

O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e Casa Civil) negocia com o MPF (Ministério Público Federal) em Brasília um complemento de sua delação premiada, firmada com a Polícia Federal.

Nesta segunda (7), ele prestou depoimento na capital federal a procuradores que investigam esquemas de corrupção e desvio de recursos de bancos públicos e fundos de pensão patrocinados por estatais.

O ex-ministro Antonio Palocci
O ex-ministro Antonio Palocci - Rodolfo Buhrer - 26.set.2016/Reuters

A Procuradoria da República abriu um procedimento sigiloso para obter a colaboração do ex-ministro em inquéritos e ações penais que tramitam no Distrito Federal. Segundo pessoa com acesso ao caso, além de esquemas criminosos envolvendo fundos de pensão, alvos da Operação Greenfield, os investigadores miram ilegalidades na edição e aprovação de medidas provisórias, caso em apuração na Operação Zelotes.

Em setembro, num depoimento prestado em São Paulo, Palocci acusou os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de interferência indevida em fundos de pensão. Essas interferências teriam ocorrido em favor da Odebrecht.

"Quem procura o presidente para procurar uma interferência nesse fundo [Previ, do Banco do Brasil] é Emílio Odebrecht, em nome da Braskem [braço petroquímico da empreiteira], que tinha sociedade com fundo de pensão e que estaria tendo com parte desse representante do PT, muitas dificuldades. Ali nos pede para interferir nisso. Foi o evento mais antigo de atuação que eu conheço, dos políticos do PT em relação a fundos de pensão", disse Palocci.

O ex-ministro também afirmou que Lula se envolveu diretamente na operação de fundos de pensão no projeto da usina de Belo Monte, no Pará. "Ele sabia que a partir desse investimento e desse projeto haveria pedido de propina." 

Segundo Palocci, Dilma Rousseff, à época na Casa Civil, "forçava a barra para os fundos investirem" no empreendimento. "Ela insistia que aquilo era uma ordem do presidente Lula e fazia reunião."

Lula e Dilma sustentam que o ex-ministro mentiu para obter benefícios judiciais.

Em outro depoimento, prestado dezembro à Justiça Federal em Brasília, Palocci acusou Lula de acertar com um lobista do setor automobilístico pagamentos ao filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva, em troca de benefícios viabilizados por uma medida provisória.

O ex-mandatário e o filho são réus em ações penais que tratam de tráfico de influência e suposto pagamento de propinas em troca da edição da norma, que beneficiou montadoras instaladas no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. Ambos negam envolvimento em ilicitudes.

O ex-ministro declarou ter sido procurado por Luís Cláudio entre o fim de 2013 e o início de 2014 na sede de sua consultoria, a Projeto, em São Paulo, pedindo ajuda para captar recursos para projetos esportivos. Ele organizava uma liga de futebol americano no Brasil.

Palocci disse ter se encontrado com Lula depois disso, no Instituto Lula, na capital paulista, para tratar do assunto. Na ocasião, o ex-presidente teria admitido a combinação ilícita. "Não precisa se preocupar, porque eu já arrumei esses recursos na renovação dos benefícios da Caoa e da Mitsubishi", disse o ex-mandatário, conforme o depoente. 

Procurado pela Folha, o MPF não se pronunciou nesta segunda sobre o depoimento. 

O ex-ministro está em prisão domiciliar em São Paulo, mas sua viagem foi autorizada pela Justiça Federal em Curitiba. Ele está autorizado a permanecer em Brasília até a quarta (9). O deslocamento foi feito de carro, para evitar exposição. 

Palocci foi ministro da Fazenda no governo Lula e chefiou a Casa Civil na gestão de Dilma Rousseff. 

Em 2017, ele foi condenado pelo então juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, por corrupção e lavagem de dinheiro. A pena inicialmente aplicada foi de 12 anos e 2 meses de prisão, mas ele conseguiu diminuí-la para nove anos e 10 dias.

Na ação, ele foi acusado de atuar para que a Odebrecht fosse favorecida em uma licitação de 21 sondas da Petrobras. Segundo a condenação, ele ocultou US$ 10,2 milhões, por meio de "offshores"no exterior, de uma conta corrente que chegou a movimentar até R$ 100 milhões em propinas para cobrir custos de campanhas do PT.

Com a delação, o ex-ministro foi autorizado a deixar o regime fechado e está agora em casa, monitorado por tornozeleira eletrônica.

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