Campanha de Maia não deu 'tiro de canhão em passarinho', diz estrategista

Segundo Fernando Barros, quanto mais barulho ele fizesse, mais oposição ele atrairia

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Rodrigo Maia, no Congresso - Sergio Lima/AFP
Brasília

Em sua empreitada de tentar chegar pela terceira vez consecutiva à presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) contou com uma ajuda ilustre: o publicitário baiano Fernando Barros desenhou a estratégia do favorito na disputa. 

Nesta quinta-feira (31), ele definiu a tática à Folha. "Se tiver que dizer qual é o traço da campanha dele, seria discrição", disse, por telefone.

Ele explica porque o presidente da Casa tem fugido de aparições públicas e evitado dar entrevistas à imprensa o período pré-eleitoral que termina nesta sexta-feira (1º) quando a Câmara elegerá sua nova Mesa Diretora.

"Você tem um público que você quer atingir, que são os 500 e poucos deputados, e eles não são necessariamente guiados pelas mídias de massa, é você dar tiro de canhão em passarinho", explica ele. 

De acordo com o publicitário, a estratégia de uma eleição interna é muito diferente das campanhas externas. Neste ano, ele trabalhou nas campanhas de Paulo Câmara (PSB-PE) e Ratinho Jr (PSD), elegendo ambos. 

"Quanto mais barulho ele fizesse, mais oposição ele atrairia", afirma. "Usou muito pouca coisa de redes sociais, porque é melhor você cuidar de cada deputado, isso é muito importante."

No caso de Maia, diz ajudar por ter uma amizade antiga com o parlamentar. Em 2018, foi o marqueteiro de seu pai, César Maia (DEM-RJ), que perdeu a vaga do Senado em uma virada surpreendente de Arolde de Oliveira (PSD). 

Barros é ligado ao DEM e, principalmente, ao grupo político de ACM (e agora ACM Neto) há décadas. Em 1990, por exemplo, ajudou histórico cacique a se eleger governador da Bahia no primeiro turno.

Para a eleição da Câmara, aconselhou Maia a receber todos os parlamentares individualmente, principalmente os calouros. Com renovação recorde, a Câmara elegeu 243 novatos, que nunca antes ocuparam mandatos em no Congresso. 

"Os novos precisam se sentir respeitados, apoiados e reconhecidos. Ninguém foi tratado como calouro", diz. 

Nesta quinta, em discurso durante evento para novos parlamentares, o presidente da Câmara mostrou essa linha de pensamento. "A maioria dos presentes aqui, não todos, já teve a oportunidade de estar comigo, e toda vez que eu falo sobre aquilo que eu acredito, da importância da agenda de reformas, da importância de o Brasil voltar a crescer, eu sempre quando termino eu passo o meu celular para cada um dos deputados", disse ele

A ideia é se mostrar aberto e acessível aos parlamentares. Além do tête-à-tête, Maia articulou, é claro, com as direções partidárias. 

Chega favorito na disputa desta sexta por ter conseguido aglomerar em torno de si todo o centrão, distribuindo cargos na Mesa Diretora para partidos como PP, PSD e PR, o PSL e do presidente Jair Bolsonaro, e setores da esquerda como PDT e PC do B. 

Os apoios formais, porém, não significam que os deputados destas legendas votarão no candidato —e Maia, em seu sexto mandato, sabe disso. Por isso as conversas no varejo, inclusive com siglas que não fecharam apoio público a ele. 

No PT, por exemplo, diz-se à boca miúda que boa parte da bancada, que faz parte do bloco de oposição com PSOL, PSB e Rede, deve optar pelo atual presidente. 

Já no PP Maia enfrenta o problema oposto. Com setores do partido insatisfeitos, parte dos votos da bancada deve ir para o candidato avulso da sigla, Ricardo Barros (PP-PR), que tem tomado posição de enfrentamento ao Ministério Público e ao Judiciário, tema caro a muitos parlamentares —principalmente os enrolados com a Justiça. 

Barros, porém, se diz confiante da confirmação da vitória de Maia ainda no primeiro turno. 

"É o que se espera. Surpresas em eleições podem até existir, mas no Congresso é um campo muito preciso, não é um lugar onde as pessoas ficam na indiferença, não sabem em quem votar até a última hora. Não há indecisos ali não", afirma.

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