Contra seu ex-vice, Doria estimula Joice a disputar Prefeitura de SP em 2020

Governador vem se distanciando de Covas, que tentará a reeleição no ano que vem

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São Paulo

O governador paulista, João Doria (PSDB), tem estimulado a deputada federal Joice Hasselmann (PSL) a disputar a eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020.

Doria, que mantém um relacionamento frio e cada vez mais distante com o atual prefeito Bruno Covas, seu correligionário de PSDB e postulante à reeleição, quer ter uma outra opção na corrida eleitoral.

A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) faz selfie com João Doria (PSDB), governador de São Paulo, na posse de Jair Bolsonaro
A deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) faz selfie com João Doria (PSDB), governador de São Paulo, na posse de Jair Bolsonaro - Fátima Meira - 1º.jan.2019/Futura Press/Folhapress

Embora pertençam ao mesmo partido, o governador e o prefeito não se enxergam como aliados confiáveis.

O prefeito já disse a amigos, inclusive, acreditar que o governador não terá pudor em pisar no seu pescoço se avaliar que isso pode ajudá-lo no plano de suceder Jair Bolsonaro na Presidência da República.

A relação entre o então prefeito paulistano e o seu vice começou a ficar abalada em 2017, quando Doria resolveu demitir Covas da Secretaria Municipal das Subprefeituras, cargo que acumulava.

À época, o prefeito tucano sofria críticas em razão das ações de zeladoria da cidade, setor que estava sob a responsabilidade de Covas.

Depois da demissão, as queixas mútuas se acumularam. Doria considera, por exemplo, que Covas lhe deu apoio meramente protocolar na campanha ao governo estadual.

Entende que o prefeito não vestiu a camisa, muito embora tenha respeitado o acordo para não mudar secretários nem alterar rotas administrativas no período eleitoral.

O atual prefeito paulistano, por sua vez, ficou muito incomodado com o fato de Doria, já no governo, ter levado alguns auxiliares da prefeitura para trabalhar no estado sem consultá-lo previamente.

Também ficou chateado com a nomeação de Patricia Iglecias, ex-secretária estadual do Meio Ambiente, sua desafeta, para a Cetesb (companhia ambiental do governo).

Ao remontar seu secretariado no início do ano, Covas acabou provocando o governador com a nomeação de João Cury Neto para a Secretaria Municipal da Educação.

Cury foi expulso do PSDB no ano passado por aliados de Doria ao decidir assumir um cargo no governo Márcio França (PSB), adversário do tucano na eleição estadual.

O prefeito também escolheu para a Secretaria da Cultura o ativista e produtor cultural Alê Youssef, coordenador da juventude na gestão Marta Suplicy (2001-2004), então no PT. A nomeação afronta o discurso antiesquerda de Doria.

Em razão do clima ruim entre o governador e o prefeito, suas equipes suspenderam as agendas públicas conjuntas que estavam sendo programadas para este início de ano. Da mesma forma, parcerias entre as duas administrações também ficaram em compasso de espera.

Um observador próximo aos tucanos diz acreditar que os dois não "vão se pegar na rua, trocando críticas públicas", mas que a relação dependerá fundamentalmente das circunstâncias políticas.

A expectativa de aliados do governador é que ele trabalhe com duplo (ou triplo) palanque na eleição, assim como fez na campanha presidencial.

Apoiou Geraldo Alckmin, mas seu entusiasmo por Jair Bolsonaro foi crescendo na medida em que ficou claro que o padrinho político e candidato do PSDB não iria longe na disputa.

Da mesma forma, a contribuição de Doria à campanha de Covas, de acordo com o entendimento de aliados tucanos, deverá se dar na proporção do seu desempenho nas pesquisas eleitorais.

O governador paulista, no entanto, já disse a aliados ter sérias dúvidas em relação às chances de sucesso de Covas na tentativa de reeleição no ano que vem.

Entende que o prefeito ainda não conseguiu se firmar publicamente no cargo e que tem poucas ações de destaque em sua prateleira para mostrar.

O aceno a Joice, um dos nomes ventilados no PSL para a disputa pela prefeitura (o outro é o da deputada estadual Janaina Paschoal), é também parte desse raciocínio.

Doria mantém um relacionamento próximo de Joice, que obteve 1.078.666 votos no ano passado —e se tornou a única mulher na lista de deputados federais já eleitos com mais de 1 milhão de votos.

Em 2017, ele a entrevistou numa sala da prefeitura para um talk-show semanal que mantinha na internet, o "Olho no Olho". "Ela é ferina, fala o que pensa, fala com autenticidade e fala a verdade", disse o tucano a seu respeito.

No ano passado, fizeram várias viagens juntos pelo interior, e a jornalista chegou a convidar o então candidato a governador para migrar para o PSL. "É um liberal escondido no PSDB, combina muito mais com o nosso partido."

Entre o primeiro e o segundo turno, Joice tentou intermediar uma conversa de Doria com Bolsonaro. O tucano viajou para o Rio, mas acabou não sendo recebido.

Além da deputada federal, Doria tem acompanhado com simpatia a movimentação de Henrique Meirelles (MDB), seu secretário da Fazenda, que também está de olho na sucessão de Covas na prefeitura.

Meirelles mantém contatos rotineiros com o marqueteiro Chico Mendez, que atuou na sua campanha presidencial em 2018 e trabalhou para Fernando Pimentel (PT) na disputa pelo governo mineiro em 2014 e para Henrique Capriles na eleição para a Presidência da Venezuela em 2012.

Aliados do tucano desconfiam que o único motivo para o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central topar o convite de Doria para trabalhar na Fazenda estadual seria um compromisso de que teria espaço e estímulo para preparar, no cargo, sua campanha a prefeito.

 

Os cotados para a Prefeitura de São Paulo

Bruno Covas (PSDB)
Atual prefeito, herdou o cargo de Doria, de quem era vice; perdeu o apoio do governador ao nomear seus desafetos

Márcio França (PSB)
Ex-governador e rival de Doria na última eleição estadual já afirmou não descartar tentar o cargo

Henrique Meirelles (MDB)
Hoje secretário de Doria, o ex-chefe do BC foi derrotado para Presidência, mas não desistiu da vida pública

Janaina Paschoal (PSL)
Além de Joice Hasselmann, o partido de Jair Bolsonaro estuda lançar a deputada mais votada da história

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