Os principais partidos de esquerda se dividiram na eleição à presidência da Câmara nesta sexta-feira (1º) e agora disputam para influenciar a escolha do líder da minoria —que tem direito a discursar em plenário—, evitando o isolamento completo na oposição ao governo de Jair Bolsonaro.
Na principal ofensiva, o PT duelou com PDT e PC do B para atrair o PSB e formar um bloco simbólico de esquerda —sem candidato único para o comando da Casa—, ao lado de PSOL e Rede.
O partido do ex-governador Eduardo Campos preferiu fechar com os petistas, com a promessa de revezamento do posto de líder da minoria nos próximos dois anos. O acordo, porém, desencadeou reação imediata da sigla dos irmãos Ciro e Cid Gomes e a contraofensiva do PT, que promete até mesmo judicializar, se necessário, o assunto.
Segundo o regimento interno da Câmara, a prerrogativa de indicação para o posto de líder da minoria é do maior partido ou bloco de oposição —o grupo capitaneado pelos petistas conta com 97 deputados.
Na manhã desta sexta, a cúpula do PT avaliava que conseguira garantir espaço legislativo e uma vitória política sobre o PDT ao fechar com o PSB.
"A dose de generosidade do PT com o PSB e esses partidos [PSOL e Rede], cedendo espaço na Casa, era necessária para compor um novo campo político", afirmou José Guimarães (PT-CE).
No início da tarde, porém, os petistas sofreram um revés. PDT e PC do B, que estavam na base de apoio para a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), fecharam um bloco com partidos do centrão que chegou a 105 nomes.
Segundo o presidente da Câmara, o grupo foi formado "apenas para a eleição" da Mesa Diretora, ou seja, dividindo as vagas ligadas a ele em dois blocos. "Não vai entrar neste assunto [de liderança da minoria], que é de responsabilidade dos partidos de oposição", completou Maia.
O argumento dos parlamentares do PT é que, para pleitear a liderança da minoria, o bloco tem que ser formado somente por partidos de oposição —e o grupo de PDT e PC do B tem siglas que apoiam o governo.
Além disso, alegam que Maia manobrou ao permitir que partidos como Patriota e Podemos incorporassem siglas cujas fusões ainda não foram aprovadas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A ação de Maia, chancelada na quinta-feira (31), aumentou o número de deputados do bloco para que este ultrapassasse o dos petistas. Sem a decisão do presidente, tomada nesta quinta (31), o bloco pedetista cairia para 94 deputados, três a menos que o do PT.
Os partidos apresentaram questão de ordem durante a sessão, que foi negada pelo presidente em exercício, Gonzaga Patriota (PSB-PE). Dirigentes de PT e PSOL afirmam que irão levar o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal) para mudar o cenário. "A decisão de Maia não passa de uma canetada sem vergonha que quer subverter a realidade e criar uma oposição domesticada", afirmou o presidente do PSOL, Juliano Medeiros.
Maia argumenta que a fusão não influencia na distribuição dos blocos porque os partidos fundidos, que também o apoiam, poderiam fazer parte do grupo de seus aliados como entidades separadas.
De acordo com ele, a decisão foi tomada para ajudar partidos que não ultrapassaram a cláusula de barreira, como PC do B e PPL, a terem representação no plenário.
No arco de apoio a Maia, PDT e PC do B não quiseram entrar no bloco simbólico de esquerda e articularam nos bastidores a outra formação.
Dirigentes do PC do B argumentam que não é hora de formar blocos simbólicos, mas garantir espaços na estrutura da Casa para exercer a oposição de maneira mais eficiente.
Publicamente, PDT e PC do B declararam voto em Maia, enquanto PT, PSOL e Rede ficaram com Marcelo Freixo (PSOL-RJ). O PSB apoiou o nome do partido, JHC (AL).
Reservadamente, no entanto, diversos parlamentares do PT e PSB admitiam voto em Maia, visto que a votação é secreta.
Apesar de divididos na disputa pela presidência e cargos da Câmara, o discurso da oposição segue uníssono quanto à forma de enfrentar Bolsonaro.
Integrantes dos partidos contrários ao atual governo afirmam que é preciso manter a retórica a favor da democracia e agir contra medidas de Bolsonaro que, segundo eles, tiram direitos da população, como a reforma da Previdência.
Sob orientação de Lula, preso desde abril em Curitiba, o PT no Congresso vai explorar ainda o desastre de Brumadinho (MG) e o caso de Fabrício Queiroz, motorista e ex-assessor de Fabrício Bolsonaro (PSL-RJ), para desgastar o governo.
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