Faltam-me estatísticas, mas parece seguro afirmar que a grande maioria dos brasileiros ignora quem seja ou não tem opinião alguma sobre Floriano Peixoto, o segundo presidente do Brasil.
É uma pena, pois muitos acabam perdendo a saborosa ironia de ver, quase 130 anos depois, alguém com esse nome e sobrenome em um cargo de destaque no palácio presidencial. No caso, o general Floriano Peixoto Vieira Neto, novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência e sem parentesco com o Floriano do passado.
Entre os que arriscam um comentário sobre o presidente do século 19, predomina a imagem do Marechal de Ferro, que exibia pouco apreço pelo sistema democrático e reprimiu com violência levantes contra sua administração, como a Revolta da Armada e a Revolução Federalista.
Em nota mais folclórica, ficaram célebres episódios em que destratou diplomatas e até mesmo esnobou a transmissão de cargo do sucessor, Prudente de Morais, em um “ocupado, irmão” avant la lettre.
Menos lembrado é que o mesmo presidente que governou de forma autoritária também foi bastante popular.
Parte da juventude militar e setores das classes média e baixa se entusiasmaram com aquele marechal alagoano de modos rudes e sem papas na língua, que andava de bonde e se tornou um símbolo contra o “tudo isso que está aí” da época —isto é, a corrupção (sempre ela) e o que sobrara da carcomida política imperial.
Vale lembrar que apesar de ostentar essa imagem de novidade, Floriano tinha pouco de nova política. Era formado na elite do Exército imperial e aderiu à República no último momento, descolando uma vaguinha de vice-presidente. Subiu de nível com a renúncia do titular, Deodoro da Fonseca.
Em torno do presidente se formou o primeiro movimento de cores populistas de nossa história política.
O florianismo misturava um nacionalismo febril a um apoio popular fanático. Antecedeu os vários “ismos” com toques de culto à personalidade que viriam depois, como getulismo, brizolismo, malufismo, lulismo e bolsonarismo.
Diferentemente de populistas posteriores, Floriano pouco aproveitou sua fama para construir uma liderança longeva em cima da manobra de massas enamoradas. Afastou-se da política e morreu meses depois de sair da Presidência, em 1895, aos 56 anos.
Como legado, consolidou assim a frágil e jovem república brasileira, proclamada poucos anos antes, em 1889.
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