Só para 'irmãos' homens, pós-graduação a distância ensina maçonologia

Curso esmiúça fraternidade que englobou de George Washington ao general Mourão

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São Paulo

Para se inscrever num curso de pós-graduação, você precisa apresentar RG, CPF, diploma de curso superior e comprovante de residência. Para se inscrever nesta pós em particular, vai precisar de um documento extra: “Atestado de Regularidade assinado pelo Venerável Mestre de sua Loja”.

Loja é o nome que maçons dão para o local onde se reúnem sob tutela de um líder —eis o Venerável Mestre. Tudo isso, claro, é bê-a-bá para os irmãos (como eles se chamam) que frequentam uma das três potências maçônicas (como definem as correntes internas) no Brasil.

Reunião com maçons em curso da Uninter
Reunião com maçons em curso da Uninter - Divulgação

Agora existe um curso de maçonologia para interessados em se aprofundar nos estudos sobre esta fraternidade de homens por trás de momentos decisivos da história (pelo menos 15 presidentes americanos a integraram, George Washington incluso).

Reconhecida pelo MEC (Ministério da Educação), a especialização é oferecida na modalidade “ensino a distância” (ou seja, online) por um dos maiores grupos universitários do país, o Uninter, em 17 parcelas de R$ 127,30 (R$ 2.164) mais R$ 49,90 de matrícula.

Mas, na chamada, só constarão homens, já que o curso é restrito a maçons. “A maçonaria considerada regular no Brasil só aceita membros do sexo masculino”, afirma o pró-reitor de pós-graduação da Uninter, Nelson Pereira Castanheira, ele mesmo maçom.

O conhecimento ali só pode ser passado de “irmão” para “irmão” porque, diz Castanheira, “quem não pertence à maçonaria não entenderia muitos dos conceitos e dos ensinamentos transmitidos e certamente se sentiria enganado ao frequentar o curso”. 

A primeira turma, de 2017, atraiu 3.100 alunos; a segunda, ainda em andamento, cerca de 2.000.

Segundo Castanheira, a ementa detalha a história e a filosofia da fraternidade que, só para ficar na história política contemporânea, tem em suas fileiras nomes de coloração partidária tão variada quanto o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), o ex-governador paulista Márcio França (PSB) e o ex-presidente Michel Temer (MDB).

O ecletismo é a razão de ser desse grupo que tem origem lá na Idade Média. Maçom (pedreiro em francês) era uma categoria importante numa época pródiga em erguer castelos e igrejas colossais.

Os maçons se organizavam no que pode ser visto como antepassado dos sindicatos atuais. Esses grupos corporativos serviam para assegurar segredos do ofício e depois foram se abrindo para outros segmentos sociais, ainda que preservando certa aura de sociedade secreta.

Maçons assumiram a linha de frente da história em vários momentos, entre eles a proclamação da independência brasileira —cujo patrono, José Bonifácio, era um “irmão”.  

“A sociedade não percebeu que uma loja maçônica está localizada em qualquer rua de qualquer bairro de qualquer cidade, nunca em local escondido”, afirma Castanheira. O Palácio Maçônico de São Paulo, a olhos vistos no bairro da Liberdade, é um exemplo.

“Não diria que se trata de uma sociedade secreta, mas de uma sociedade discreta”, continua. “Por ser discreta, é criada uma aura de misticismo e desconfiança, fruto de total desconhecimento do que realmente é a maçonaria.”

Daí a má fama em várias camadas sociais, o que gera “os mais perversos mitos que se possa imaginar”, afirma Castanheira. “Há quem acredite que matamos criancinhas, que só nos reunimos com o objetivo de praticar rituais satânicos. E há os que têm certeza que é necessário ser rico para pertencer à maçonaria.”

Muitos grupos religiosos, como boa parte dos evangélicos, o comparam a uma seita, embora maçons se classifiquem como uma “instituição essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressista” —e não necessariamente na vocação à esquerda que o progressismo ganhou, vide as várias manifestações de apreço, entre maçons, pelo direitista Jair Bolsonaro nas últimas eleições.

O advogado Ivan Marzollo, 46, foi da primeira turma interessada em aprender mais sobre este movimento “que se confunde com a própria historia do Brasil”, diz. Maçons sustentam que, dos dez primeiros presidentes do país, apenas um não era um deles (Afonso Pena). 

A grade curricular do curso de maçonologia se divide em tópicos como “legislação e estrutura maçônica”, “geometria sagrada e a visão cabalística” e “o esoterismo ocidental e a ciência da iniciação”. 

Para Marzollo, a pós é “uma escola de aperfeiçoamento moral” em que todas as raças, classes sociais e religiões são bem-vindas. Desde que você seja homem, claro. 

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