O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, negou nesta sexta-feira (1º) envolvimento nas fraudes envolvendo a organização social Pró-Saúde, cujo conselho diretor é formado por membros da Igreja Católica fluminense.
A ciência sobre as fraudes da OS foi mencionada pelo ex-governador Sérgio Cabral (MDB) em depoimento ao juiz Marcelo Bretas.
"Ao contrário do que insinuou o ex-governador em audiência à Justiça, não houve nenhum tipo de conduta ilícita de minha parte. Jamais utilizei minha posição de Cardeal e Arcebispo para solicitar benefícios em favor de quaisquer instituições", escreveu dom Orani em carta aos sacerdotes do Rio de Janeiro.
Os executivos da Pró-Saúde firmaram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal em 2017, e relataram que pagavam propina ao ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes por meio do empresário Miguel Iskin.
A OS Pró-Saúde administrou vários hospitais do estado a partir de 2013, como os Getúlio Vargas, Albert Schuartz, Adão Pereira Nunes e Alberto Torres.
Chamou atenção do MPF o orçamento alcançado pela OS após o seu ingresso no Rio de Janeiro. Os contratos no estado correspondiam a 50% do faturamento nacional da entidade e alcançaram um crescimento vertiginoso em curso espaço de tempo, saltando de, aproximadamente, R$ 750 milhões em 2013 para R$ 1,5 bilhão em 2015.
As delações dos executivos, que não fazem parte dos quadros da igreja, motivaram a Operação SOS, que prendeu pela segunda vez Côrtes e Iskin. Um dos delatores é Wagner Portugal, um ex-padre que passou a integrar a OS em 2012.
Reportagem da revista Época publicada na quinta-feira (28) afirma que Portugal era uma espécie de braço-direito de dom Orani. De acordo com a publicação, o Ministério Público Federal investiga se gastos pessoas de sacerdotes, incluindo dom Orani, foram custeados com dinheiro público repassado por meio dos contratos da OS com a Secretaria de Saúde.
Há ainda a suspeita, segundo a Época, de que dom Orani tenha pressionado Côrtes a liberar recursos para a Pró-Saúde. Dom Orani negou na carta aos sacerdotes a prática, bem como a proximidade com Portugal.
"A alegação de que uma pessoa seria meu suposto braço direito é falsa. A pessoa mencionada na reportagem [Wagner Portugal] jamais exerceu cargo algum na Arquidiocese do Rio de Janeiro e não pertence ao clero desta Arquidiocese", escreveu dom Orani.
A Pró-Saúde afirmou, em nota, que "tomou, espontaneamente, a iniciativa de colaborar com a apuração do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, no âmbito da Operação S.O.S, divulgada em agosto do último ano".
"A ação está em segredo de justiça e tem resultado em importantes desdobramentos na investigação de práticas irregulares na gestão da saúde pública no Brasil", diz a nota.
Em relação aos gastos em favor de religiosos, a Pró-Saúde disse apenas que "as despesas dos colaboradores da instituição observam atualmente a legislação, bem como as diretrizes e normas internas, que alcançam, inclusive, o reembolso das despesas relacionadas ao exercício de atividades institucionais pela sua diretoria Estatutária".
"Composta por religiosos, a diretoria Estatutária participa das macrodefinições estratégicas e, também, desenvolve projetos importantes nas unidades sob sua gestão – caso ilustrativo é o da Pastoral da Saúde, ação cristã que leva conforto e tranquilidade para doentes e familiares. Dessa forma, viagens e reembolsos de suas despesas institucionais são custeados em conformidade com os regulamentos internos, sempre em função da sua participação ativa nas ações da Pró-Saúde", diz a nota.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.