Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Ataques de Bolsonaro reforçam polêmicas em redes sociais e frustram auxiliares

Aceno contra agenda negativa patina; militar é nomeado para mídias sociais da Presidência, e imprensa é criticada

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro frustrou o núcleo militar próximo dele ao criar mais uma polêmica divulgando em sua conta oficial no Twitter, no domingo (10), um relato deturpado de uma conversa de uma jornalista.

Na avaliação de auxiliares do presidente, ele gerou uma agenda negativa em semana considerada crucial para o início da tramitação da reforma previdenciária na Câmara.

O presidente Jair Bolsonaro, que protagonizou polêmicas nas redes sociais nos últimos dias
O presidente Jair Bolsonaro, que protagonizou polêmicas nas redes sociais nos últimos dias - Adriano Machado - 8.mar.2019/Reuters

Na semana passada, após a repercussão negativa de vídeo compartilhado por ele com imagens obscenas no carnaval, Bolsonaro chegou a sinalizar a assessores que evitaria temas sensíveis em suas mídias digitais. O aceno, contudo, não durou nem uma semana.

Na noite de domingo (10), ele publicou um relato deturpado de uma conversa da Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo. A postagem veio acompanhada de um áudio cuja transcrição dos trechos audíveis não coincidem com a interpretação que o presidente fez das falas.

Bolsonaro disse na postagem que "querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos".

O tom belicoso frustrou tanto o núcleo militar, que defende a adoção de uma postura moderada do presidente, como a equipe econômica, que tenta criar uma agenda positiva para favorecer a proposta de mudança das aposentarias.

A crítica é compartilhada por deputados federais de partidos identificados com o novo governo. Em caráter reservado, avaliam que o momento era do presidente evitar desgastes desnecessários e adotar um foco único de defesa da reforma previdenciária.

O ex-presidenciável João Amoêdo (Novo), que votou em Bolsonaro no segundo turno, foi um dos que expuseram a crítica: "O tweet do presidente Bolsonaro sobre a jornalista do Estadão tenta deixar de lado o que importa: o esclarecimento dele e do senador Flávio sobre o caso Queiroz".

Nas palavras de auxiliares presidenciais, Bolsonaro não deveria "gastar seu capital político com assuntos menores". Eles reconhecem, porém, que o temperamento dele é irrefreável e que, apesar de já ter sido recomendado posição menos agressiva, dificilmente mudará enquanto tiver o filho Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) como espécie de consultor.

O Palácio do Planalto não respondeu à Folha quem é o responsável por atualizar as redes sociais pessoais do presidente. Em entrevista a jornalistas, o porta-voz, Otávio Rêgo Barros, afirmou desconhecer quem tem as senhas de Bolsonaro, mas disse apenas que ele é responsável pelo conteúdo que é publicado em suas contas pessoais.

Em janeiro, foi publicado um decreto que atribuía à assessoria especial da Presidência da República a responsabilidade pela administração das redes particulares do presidente. Esse trecho, no entanto, foi revogado do texto em novo decreto, publicado fevereiro. O governo não esclareceu quem hoje faz o trabalho de alimentar as redes pessoais de Bolsonaro.

Nesta segunda-feira (11), foi publicada no Diário Oficial da União a nomeação do coronel Didio Pereira de Campos para o cargo de diretor do Departamento de Publicidade da Secretaria de Publicidade e Promoção da Secretaria de Comunicação Social.

O plano é que ele comande uma nova estrutura chamada Comunicação Global, responsável pelo monitoramento das redes sociais, publicidade oficial e criação de conteúdo da Presidência da República.

O militar é ex-chefe da assessoria de imprensa do Exército e foi indicado pela equipe do ministro da Secretaria de Governo, general Carlos Santos Cruz. Ele chega após diagnóstico da equipe do presidente de que a comunicação oficial precisava ser melhorada.

Com a sua chegada, a gestão das mídias digitais, que estava subordinada à secretaria de imprensa, deve passar a ser controlada pela nova estrutura, assim como a área de publicidade, que estava sem um gestor específico desde o início do governo.

O coronel é descrito como um militar de perfil moderado e técnico. Apesar de sua entrada na equipe de comunicação, a estrutura geral continuará a ser chefiada por Floriano Amorim, indicado ao posto por Carlos Bolsonaro.

Após a divulgação da informação pela Folha, Bolsonaro chamou a reportagem de "fake news". Mais tarde, em uma nova mensagem, disse que ela induz "o leitor a associar meu perfil pessoal à notícia". A reportagem dizia que o coronel deve coordenar o monitoramento das redes oficiais da Presidência, não a conta dele.

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