A autora do texto publicado no site Terça Livre que usa falas deturpadas de uma jornalista para dizer que sua intenção era "arruinar" o governo de Jair Bolsonaro é assessora de um deputado estadual do PSL, partido do presidente, em Minas Gerais.
Fernanda Salles trabalha como assessora de imprensa e é responsável pelas mídias digitais de Bruno Engler (PSL-MG) —terceiro deputado mais votado para a Assembleia em 2018, com 120.252 votos. Nas redes, Engler tem vários vídeos de apoio a Bolsonaro.
A informação foi publicada nesta segunda (11) pelo Blog do Berta, do jornalista Ruben Berta.
O nome de Fernanda saiu no Diário Oficial da Assembleia Legislativa no dia 2 de fevereiro, como “Fernanda Ribeiro de Salles”. No dia 26, foi publicada a correção, colocando o nome “Fernanda de Salles Andrade”.
Com contrato de seis horas diárias, sem horário fixo, ela recebe R$ 6.543,69 por mês, segundo o site do Legislativo. Nas redes sociais dela, não há menções ao cargo de assessora parlamentar, apenas ao de repórter do Terça Livre.
No domingo (10), Fernanda assinou o texto intitulado “Jornalista do Estadão: a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”, em que cita artigos publicados nas sessões de opinião do site francês Mediapart e do jornal norte-americano Washington Times, e faz um relato deturpado de conversas gravadas entre a repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo, e um homem não identificado.
Uma parte da conversa foi reproduzida na conta oficial de Bolsonaro no Twitter.
O site Mediapart, que hospedou o artigo original no qual Fernanda se baseia, se manifestou nas redes sociais, nesta segunda, dizendo que as informações publicadas são falsas.
A reportagem da Folha tentou entrar em contato com Fernanda através do gabinete de Engler, por email e deixando contato com o próprio deputado, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.
Em postagem pública no seu perfil pessoal do Facebook, ela escreveu que “a grande mídia” estaria tentando criar “uma cortina de fumaça para que a denúncia seja esquecida”. “Vão querer colocar o meu nome acima do FATO envolvendo Constança Rezende. Assim eles INVERTEM a narrativa. Canalhice! #EstadãoMentiu”, diz a publicação.
Engler diz “tirar o chapéu” para o texto, que avalia como “excelente”. Ele também classifica a resposta do jornal O Estado de S. Paulo, desmentindo as afirmações do Terça Livre, como “mentirosa e covarde”.
"O que acho importante salientar, com todo respeito a você, acho que a Folha de S.Paulo não vai publicar, é que isso é uma imagem clara de uma imprensa desesperada para atacar o presidente", afirma o deputado.
Para o deputado, “os áudios dizem exatamente o que o presidente”, o site Terça Livre e os artigos estrangeiros apontam. “Eu, graças a Deus, eu falo inglês muito bem, meus pais se preocuparam com isso, eu escutei o áudio e vi o que o presidente reportou, é o que está no vídeo”, diz ele.
O parlamentar afirma que já sabia do vínculo da sua assessora com o site, que é alimentado por apoiadores de Bolsonaro.
“Quando eu a contratei para ser minha assessora de imprensa e cuidar das minhas mídias digitais, eu já sabia que ela trabalhava para o Terça Livre. Inclusive, eu queria contratá-la num regime de oito horas, ela pediu para trabalhar em um regime de seis horas aqui na Assembleia, justamente para poder conciliar com o trabalho dela de repórter”, afirma.
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