Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro cancela visita a universidade após protesto em São Paulo

Setor de inteligência do Planalto orientou presidente a mudar agenda após detectar 'clima de animosidade'

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São Paulo e Brasília

Após protesto de estudantes na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo na manhã desta quarta (27), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) cancelou a ida ao local e transferiu a agenda ao Comando Militar do Sudeste, também na capital paulista.

O ato dos estudantes do Mackenzie criticava a presença do presidente e a ditadura militar instalada em 1964. Bolsonaro tem incentivado comemorações pelos 55 anos da data, no próximo dia 31 de março.

Estudantes protestam contra o golpe de 1964 em entrada da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que receberia a visita do presidente Jair Bolsonaro
Estudantes protestam contra o golpe de 1964 em entrada da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, que receberia a visita do presidente Jair Bolsonaro - Carolina Linhares/Folhapress

Em vídeos publicados nas redes sociais, alunos chamaram Bolsonaro de "fascista" e gritavam "ditadura nunca mais", além de usarem adesivos e portarem cartazes com "Ele não" e "estudantes contra Bolsonaro". A universidade reforçou a segurança com grades e mais vigias.

Bolsonaro era esperado no Mackenzie para uma visita ao centro de pesquisa sobre grafeno (uma das formas nas quais os átomos de carbono podem se organizar, com propriedades estruturais e de condução eletrônica favoráveis). Com os protestos, o evento foi transferido para o Comando Militar do Sudeste, onde carros da universidade chegaram para apresentar a pesquisa ao presidente.

Bolsonaro chegou a divulgar no Twitter dias atrás que visitaria o Mackenzie com esse propósito, mas não colocou na agenda presidencial nenhum dos eventos em São Paulo.


O governador João Doria (PSDB) havia divulgado os compromissos em sua agenda pela manhã, mas apagou os dois eventos com o presidente. Bolsonaro foi recebido por Doria no aeroporto de Congonhas no início da tarde. 

O Planalto informou que a visita ao Comando Militar do Sudeste foi um compromisso privado, em que a presença da imprensa não estava autorizada. 

Não houve divulgação prévia do Planalto sobre a agenda do presidente em São Paulo, como costuma acontecer em viagens presidenciais. 

Bolsonaro chegou ao Comando Militar do Sudeste às 14h20 de carro, acompanhado de Doria, da primeira-dama Michelle Bolsonaro, dos ministros general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB).


A Polícia Militar reforçou o policiamento no entorno do local. A entrada de jornalistas não foi autorizada. Um grupo de 15 apoiadores do presidente também ficou acompanhando do portão.

A comitiva de Bolsonaro deixou o local por volta das 16h rumo ao hospital Albert Einstein, onde o presidente fez um último exame clínico pós-cirurgia. Durante a tarde, o Planalto atualizou a agenda do presidente, incluindo o evento no Comando Militar do Sudeste.

Segundo boletim médico do hospital, Bolsonaro "encontra-se em excelentes condições clínicas". O presidente passou por avaliação médica multiprofissional e recebeu orientação sobre exercícios físicos e alimentação.

No fim da tarde, também com Doria e Michelle, o presidente participou de um jantar em prol dos projetos sociais da Unibes (União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social) em um bairro nobre da capital. Ele chegou ao evento —organizado por Elie Horn, fundador da construtora Cyrela— por volta das 17h55, com quase uma hora de atraso. Bolsonaro deixou o local por volta das 18h50.

Segundo relatos feitos à Folha, o setor de inteligência do Palácio do Planalto orientou o presidente a não comparecer à universidade após constatar um "clima de animosidade", que poderia, nas palavras de um assessor palaciano, "colocar a sua segurança em risco".

Desde a manhã desta terça-feira (26), militares do governo vinham monitorando a possibilidade de protesto e diagnosticaram um fortalecimento da atividade nas redes sociais no final da tarde. Por isso, o compromisso não foi incluído na agenda oficial do presidente.

A avaliação de integrantes da cúpula militar é de que o Planalto errou na maneira como comunicou a autorização dada pelo presidente para que unidades militares relembrem o dia 31 de Março em quartéis e batalhões.

Para eles, a expressão "comemorações devidas" não foi a mais adequada e acabou acirrando o clima de tensão no país, o que o Ministério da Defesa vinha tentando evitar desde o início do mês ao ser informado sobre a existência de um clima de euforia em unidades militares por conta da efeméride.

Colaborou o UOL

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