Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Governo Bolsonaro está patinando nas articulações políticas, diz Kassab

Para ex-ministro, gestão vai perder popularidade e crédito se não conseguir quitar seus compromissos

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São Paulo

Gilberto Kassab, 58, começou na política em 1989 ao participar da campanha presidencial de Guilherme Afif.

Trinta anos depois, tendo sido prefeito de São Paulo, ministro dos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), é considerado por aliados e adversários como uma das principais "birutas de aeroporto" da política, dada sua capacidade de identificar a intensidade e a direção dos ventos.

Gilberto Kassab durante entrevista à Folha na sede do PSD, no centro de São Paulo
Gilberto Kassab durante entrevista à Folha na sede do PSD, no centro de São Paulo - Avener Prado - 28.fev.2019/Folhapress

Preocupado com a reforma da Previdência, Kassab, presidente do PSD, afirma que o governo Jair Bolsonaro (PSL) está patinando na articulação política e precisa superar a atual situação de impasse.

"As forças políticas do Congresso querem que o governo entenda que esse seu fortalecimento precisa ser compartilhado", diz, enfatizando que não se refere ao velho "toma lá, dá cá". "As reformas só vão acontecer se houver realmente essa integração política, essa ação política competente."

Nomeado pelo governador João Doria (PSDB) como secretário da Casa Civil, Kassab pediu afastamento no começo do ano para se defender de denúncias pelas quais é investigado pela Polícia Federal —foi alvo de operação sob suspeita de ter recebido valores ilegais da JBS, mas nega irregularidades.

 

Quais suas impressões sobre o governo Bolsonaro? O governo ainda não terminou sua arrancada, mas tem compromissos que, se não os conseguir quitar rapidamente, vai começar a perder crédito e popularidade. São as famosas reformas. A principal é a da Previdência. Se não for aprovada, as consequências para o país e para o governo serão muito prejudiciais, pois estamos no limite. Mas a avaliação que faço é que o governo, neste primeiro momento, está patinando, principalmente nas articulações políticas.

O sr. teme que a reforma não seja aprovada? A votação da nova Previdência é uma questão acima de partidos e de governos. A nova Previdência vai ser votada de qualquer maneira. Será agora, a fim de evitar que o país quebre. Ou o país vai quebrar e, então, será inevitável que seja votada.

Qual é a dificuldade na articulação política? Há uma avaliação política de que o governo que fizer a reforma da Previdência ficará muito fortalecido. Esse é o desafio, as forças políticas do Congresso querem que o governo entenda que esse seu fortalecimento precisa ser compartilhado. Não na base do "toma lá, dá cá". O governo felizmente deixou claro que essa não será sua marca, mas é evidente que precisa haver solução.

Hoje existe um impasse. Todos são conscientes da importância da votação e de que existe nova relação entre o Executivo e o Legislativo. Mas o governo tem de dar resposta para essa preocupação de quem não é totalmente alinhado. Qual será o futuro dessa parceria num governo fortalecido pela reforma da Previdência? Esse é meu sentimento. Não tenho informação. Falo mais como analista político do que como político.

A reforma pode sofrer mudanças substanciais no Congresso? Mudanças substanciais de nada adiantarão. Temos de ter reforma que traga economia para o Tesouro, para que seja possível efetivamente recuperar a estabilidade econômica do país e a capacidade de investimento do governo. Hoje essa capacidade é zero por conta do déficit previdenciário. Não é mais possível o Brasil continuar contando com essa situação.

Além dessa questão na articulação política, o sr. enxerga outros problemas? É voz comum na política que, quando existe crise palaciana, o governo tem dificuldades para ter uma boa performance. O governo Bolsonaro tem essa vantagem. Existe muita unidade no Palácio do Planalto em decorrência do fato de ter os seus principais cargos ocupados pelos generais. Com unidade e harmonia grande, o que dá internamente ao governo uma tranquilidade no comando.

Diferentemente de outros presidentes, este tem uma família de políticos, de parlamentares. Isso não gera certa instabilidade? Essa instabilidade foi mais presente no início. Com governo montado e outros pilares consolidados, não acho que a interferência seja tão grande ou tenha grande repercussão. O grande desafio é realmente a ação política.

É necessário mostrar à sociedade que aquilo que foi colocado na campanha, a nova forma de se relacionar com o mundo político, está acontecendo. Mas precisa acontecer dentro de critérios políticos. É a política que vai ditar o andamento dos trabalhos e o encaminhamento dos projetos, como em qualquer democracia. As reformas só vão acontecer se houver realmente essa integração política, essa ação política competente.

O sr. sofreu acusações do Ministério Público, que diz que recebeu mesada do grupo J&F para atender, como ministro, demandas da empresa. Temos de ter humildade para entender que o Ministério Público deve apurar qualquer denúncia e delação. Estou tranquilo em relação à minha conduta. Até o passado recente era legal pedir doação para campanha. Hoje não é mais. Algumas empresas querem confundir um pouco o Judiciário e o Ministério Público. Cabe a eles apurarem tudo.

O sr. tinha algum tipo de contrato de consultoria com essa empresa? Prestei serviços de consultoria. Tudo está muito bem documentado. Os serviços se iniciaram antes mesmo de o atual grupo controlador comprar a empresa. Está fartamente documentado. Tanto que recentemente a própria procuradora-geral sugeriu encaminhar o caso para a Justiça Eleitoral, afastando portanto a questão criminal. Mesmo na Eleitoral tudo será afastado, pois não houve irregularidade.

E os valores (R$ 301 mil) que foram encontrados em sua casa em dinheiro vivo? Essa situação se explica por conta do bloqueio dos meus bens. [Ter dinheiro em casa] era a única alternativa.

Por conta dessas acusações o sr. se licenciou da Casa Civil do governador João Doria. Pretende voltar? O cargo é do governador. Fiquei honrado por ter sido convidado. Continuo como secretário licenciado, mas para mim será uma alegria muito grande esclarecer tudo o mais rápido possível e ter tranquilidade para voltar, se for essa a vontade do governador.

Há alguns meses, Ronilson Bezerra, ex-subsecretário da Receita Municipal de São Paulo, afirmou que seu acordo de delação premiada não foi aceito pela Promotoria por ter se recusado a envolver o sr. num escândalo. Fico muito triste se isso for verdade. Denigre a imagem do Ministério Publico, que tem sido tão importante para o país. Ficou preocupado, triste e desalentado.

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