Descrição de chapéu Legislativo Paulista

Hábil, Cauê quer seguir no poder da Assembleia de SP e enterrar suspeitas eleitorais

Deputado de 35 anos, Cauê Macris é favorito na eleição nesta semana para presidência da Assembleia de São Paulo

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São Paulo

Nesta próxima sexta-feira (15), primeiro dia de atividades da nova Assembleia Legislativa de São Paulo, temperamentos opostos estarão em confronto. É quando acontecerá a eleição para a presidência da Casa.

Janaina Paschoal (PSL) é adepta das afirmações veementes e dos gestos largos. Foi assim que a advogada e professora da USP se tornou nacionalmente conhecida a partir de 2015, como uma das autoras do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Eleita deputada estadual com mais de 2 milhões de votos, ela conta, por ora, só com o apoio explícito dos 15 eleitos pelo PSL e de Arthur Mamãe Falei (DEM) para chegar ao comando da Assembleia.

No cenário atual, é bastante provável que a pretensão de Janaina seja bloqueada por Cauê Macris (PSDB), político que cultiva um outro estilo. Sua fala é pausada, e os gestos, calculados. Seu jeito cauteloso contrasta com os arroubos de Janaina.

O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), que pretende continuar como presidente da Alesp
O deputado estadual Cauê Macris (PSDB), que pretende continuar como presidente da Alesp - Bruno Santos - 27.fev.2019/Folhapress - Produção Daniela Ribeiro

Eleito com pouco mais de 114 mil votos (foi o 21º mais votado), Cauê é o favorito para a presidência. Caso a vitória se confirme, será seu segundo mandato no cargo —ocupou a função no biênio 2017-2019.

Dificilmente Cauê vai reviver a facilidade de 2017, quando obteve 88 dos 94 votos da Casa, mas nomes experientes da Assembleia paulista acreditam que as chances de Janaina sejam pequenas. 

O apoio enfático de João Doria (PSDB) pesa a favor de Cauê, tratado no discurso de posse do governador como “bom e querido amigo”. O favoritismo de Cauê não pode, entretanto, ser creditado só à forte aliança com Doria. 

A ascensão do parlamentar se deve, em grande parte, à habilidade nas articulações partidárias. Esse traquejo nos bastidores começou a se consolidar na adolescência em Americana, sua cidade natal. 

Embora jovem (tem só 35 anos), Cauê já conta com uma história de duas décadas no tucanato. Em 1999, com 16 anos, filiou-se ao PSDB e foi eleito vereador em Americana cinco anos depois.

Não se compreende esse destaque precoce sem o empurrão do pai, o também tucano Vanderlei Macris, 68, reeleito para o terceiro mandato como deputado federal.

“O Cauê aprendeu desde cedo que política é um instrumento de conquistas da sociedade em relação ao Estado”, diz Vanderlei sobre o filho mais velho. “Muito novo neste meio [da política], já demonstrava boa articulação, diálogo com todos e liderança.”

Reeleito vereador, Cauê tornou-se presidente da Câmara de Americana em 2009. Mas se manteve no cargo por pouco tempo —no ano seguinte, já estava na Assembleia.

Naquele primeiro mandato (2011-2014), conseguiu aprovar o projeto que considera o mais importante de sua história parlamentar. É a proposta que pune com multa e até fechamento os estabelecimentos que comercializarem bebidas alcoólicas para menores de 18 anos. Depois de endossado pela Casa, o projeto sofreu algumas alterações do então governador Geraldo Alckmin (PSDB) e virou lei.

Nesses oito primeiros anos de Assembleia, Cauê não se notabilizou pela atuação em uma área específica. Envolveu-se em iniciativas de segmentos variados, como segurança, terceira idade e educação. 

Na entrevista à Folha, com a qual somente aceitou falar por email, foi genérico ao comentar as suas prioridades.

Falou em “trabalhar para melhorar a qualidade de vida dos mais de 44 milhões de paulistas”. E ainda “debater, apresentar proposituras e fiscalizar o Poder Executivo são importantes tarefas dos parlamentares, mas acredito que a interlocução com os municípios que representamos é fundamental”.

No meio do segundo mandato dele como deputado estadual (2015-2018), as bênçãos de Alckmin se somaram às suas articulações bem-sucedidas. Aos 33 anos, Cauê tornou-se o mais jovem presidente da história da Assembleia.

Ele reconhece a influência de Alckmin e, principalmente, do pai em sua trajetória. Cita ainda outros tucanos da velha guarda com quem conviveu, como Franco Montoro (1916-1999), Mário Covas (1930-2001) e José Serra.

Apesar da reverência a alguns dos fundadores do PSDB, Cauê se identifica mesmo com os “cabeças pretas”, os deputados federais tucanos na casa dos 20 e 30 anos que têm discordado das decisões dos líderes tradicionais da sigla.

Assim como grande parte dos “cabeças pretas”, ele se opôs à participação do PSDB no governo Michel Temer.

Fatia expressiva dessa ala mais jovem do partido está hoje ligada ao governador paulista. “É natural que Doria seja candidato à Presidência [da República]”, afirmou Cauê no início deste ano.

Apesar da proximidade entre eles, Cauê diz que a independência dos poderes não ficará comprometida caso seja reeleito para presidir a Casa.

“O Parlamento paulista é plural e independente. É um local para debate, divergência de ideias, composição, que fazem parte da democracia. As coisas aqui não funcionam por imposição, mas sim pelo diálogo”, afirma. 

Assim como Doria, Cauê se notabiliza pelas críticas contundentes ao PT. Os ataques dele ao partido durante a campanha de 2018 não foram, contudo, obstáculo para que os petistas decidissem apoiar Cauê para o comando da Assembleia. Interessa ao PT o cargo de 1º secretário da Casa. 

Aliás, esse acordo entre tucanos e petistas para a distribuição de cargos, já realizado em eleições anteriores, tem sido alvo de críticas da cúpula paulista do PSL assim como de seus militantes.

O partido de Janaina também pretende minar a candidatura de Cauê explorando suspeitas de irregularidades nas contas da campanha do deputado estadual.

Segundo Gil Diniz, líder da bancada do PSL, existe suspeita na compensação de cheques no valor de R$ 266 mil da campanha de Cauê por um posto de combustíveis do qual o tucano é sócio, em Limeira (SP). Seu pai, o deputado federal Vanderlei Macris, compensou outros R$ 615 mil. A transação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar dos repasses, a empresa de Cauê não aparece na relação oficial de fornecedores das duas campanhas. Eles afirmam que o posto servia apenas como intermediário de pagamento de cabos eleitorais que não têm conta e moram no interior.​

Nas contas de Cauê e do pai analisadas pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), os cheques não são mencionados.

O deputado estadual diz que agiu dentro da lei e que sua prestação de contas foi aprovada na Justiça Eleitoral. Também afirmou que, “para facilitar o pagamento de cabos eleitorais, muitos deles sem conta bancária”, utilizou o posto “para descontar cheques e garantir a agilidade do pagamento aos trabalhadores”.

Não foi a primeira vez que suspeitas ligadas às campanhas de Cauê vieram à tona. 

Em depoimento divulgado em novembro do ano passado, Renato Vale, ex-presidente da CCR, disse ao Ministério Público do Estado de São Paulo que a concessionária fez pagamento de R$ 100 mil por meio de caixa dois a Cauê, em 2012. 

Sobre esse caso, o parlamentar disse à Folha que “todas as doações que recebemos foram legais e constam em nossa prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral”.

Às vésperas do Carnaval, o PSL voltou a bombardear a candidatura de Cauê à presidência da Assembleia. Nessa ocasião, Doria enviou à Casa um projeto de lei que beneficia a categoria dos agentes fiscais de rendas, responsável por 25% das doações à campanha de Cauê em 2018. 

Se servem de munição para os opositores, essas suspeitas não abalam, ao menos por ora, a força de Cauê na Casa, muito menos a confiança dos políticos tucanos nele. 

Deputado estadual por quatro mandatos e presidente do PSDB paulista até fevereiro deste ano, Pedro Tobias diz que o parlamentar é “um homem de palavra, firme e leal”. E completa: “Cauê tem preparo para se tornar governador do estado”.


Perfil
 

Nascimento Americana (SP), 8.abr.83

Partido PSDB (em coligação com PSD, DEM, PP e PRB)

Estado civil Casado

Cor/raça Branco

Grau de instrução Superior incompleto

Ocupação Empresário

Reeleição Sim (inicia o terceiro mandato)

Bens declarados Sócio do posto União de Limeira e da churrascaria União de Limeira; 50% de uma casa em Americana (SP); carro Honda Civic 2013/2014 

Valor declarado dos bens R$ 276.611

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