Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

'Nova política' se esgotou e briga ideológica não resolve, diz líder de bloco na Câmara

Chefe de bloco de centro, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) diz que partilha de cargos é natural

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Brasília

Líder de um bloco de 15 partidos, com mais de 300 deputados, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) diz que a expressão “nova política” se esgotou na campanha e que o governo Jair Bolsonaro deve trabalhar com o Congresso pelo país.

O parlamentar afirma que é preciso perceber que a eleição terminou e que o Congresso deve se proteger de ideologias extremas. “Briga de ideologia não vai resolver o problema, não vai colocar comida na mesa do povo”, declarou o líder da maioria, em entrevista à Folha.

Aguinaldo foi ministro de Dilma Rousseff e líder do governo Michel Temer. Hoje, é um dos políticos do centrão mais próximos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

O deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), durante entrevista à Folha em seu gabinete - Pedro Ladeira/Folhapress

Ele afirma que a partilha de cargos no governo é natural e que Bolsonaro “tem que suar a camisa” para aprovar a reforma da Previdência. “Vir para cá o projeto sem articulação significa dizer que o autor não tem interesse na aprovação ou não está com pressa.”

Como o sr. viu o embate entre o presidente da Câmara e o presidente da República? O Parlamento deseja que o país avance. Quem ganha a eleição é quem dá o tom de como quer governar. O Parlamento está aqui para cumprir a sua função e tem que ter serenidade, assim como o Executivo, para andar para a frente.

O sr. se sentiu atingido? Essa questão foi superada. Esse ambiente não ajuda o país. A gente tem que discutir as pautas que interessam ao Brasil.

O Congresso saiu vitorioso? Uma disputa entre Legislativo e Executivo não tem ganhador, só tem perdedor. No nosso regime, quanto mais convergência houver, mais resultados nós teremos.

Como será a relação entre Executivo e Legislativo, com o presidente rejeitando o que chama de velha política? Esse neologismo, na verdade, não tem significado a não ser o significado que já cumpriu, de disputa eleitoral. A gente tem um desafio pela frente. Não vai ser ideologia de direita ou de esquerda que vai resolver o problema do país. Até porque ideologia ou briga de ideologia não vai resolver o problema, não vai colocar comida na mesa do povo brasileiro —quanto mais as ideologias extremas, que perpassam o senso de equilíbrio.

O que é a nova política? É uma retórica que já cumpriu o seu papel, naquele momento de insatisfação da população brasileira, por esse ambiente que se criou de criminalização da política. De fato, nós tivemos muitas coisas que contribuíram para isso, por equívocos da própria política.Não existe democracia forte sem partidos. Se há equívocos, tem de corrigir. Não existe nova e velha política. O que a gente vê hoje no país é um movimento de muito ódio disseminado. Precisa ter a reconciliação nacional. A eleição terminou.

O líder do governo enviou mensagens criticando a velha política. Vocês estão em busca de cargos? Houve uma linguagem muito pejorativa, por exemplo, do toma-lá-dá-cá, confundindo o papel do parlamentar em um regime de concentração de recursos em Brasília. Quem é o parlamentar que quer estar aqui brigando pela liberação de dinheiro para o seu estado? Não há que se criminalizar o que não tem crime. É uma prerrogativa do parlamentar brigar por recursos. Não houve manifestação nesse sentido [de cargos] em nenhuma reunião.

Mas o Planalto apresentou planilhas de cargos às bancadas. O governo, então, tem o mesmo entendimento que eu, de que a política não pode ser criminalizada. No momento em que o governo disponibiliza um tipo de cargo, isso faz parte da nova política também. Essa prática, então, não é velha. Isso é formação do governo. Toma-lá-dá-cá é quando você tem um objetivo e, em função dele, vai tratar de um assunto específico. Nesse sentido, posso rechaçar com convicção, não senti de ninguém esse desejo.

Mas o cargo já foi importante para o mandato. Por que esse assunto não se trata com transparência? Não vejo dessa forma. Não vejo problema algum que, em um regime democrático, de coalizão de forças, os partidos estejam formando a base do governo. Acho que a gente deu um passo importante com a aprovação do orçamento [impositivo]. Essa é a relação que os nossos líderes querem ter, de maturidade institucional, sem nenhum tipo de troca. Se a gente for começar assim, vamos dar espaço para regimes autoritários, e não conheço nenhum regime autoritário que tenha dado bons frutos.

Alguns líderes disseram que não dialogam mais com o líder do governo. O que o sr. pensa? A questão do líder, quem define é o governo. É lógico que um discurso como o que a gente viu acontecer nesses últimos dias é uma linha contra a política. E nós estamos numa casa política. Qualquer um que fizer discurso contra a política cria um ambiente de constrangimento.

Como o Parlamento vai tratar a agenda ideológica a que o sr. se referiu? O Parlamento vai ter que tratar da forma que a maioria entende. Não gosto de extremismos. Tudo o que for extremo é nocivo. Se determinado tema é mais polêmico, é papel do Parlamente debater. A gente não pode fazer um debate extremado. Tem que fazer um debate com razão, e quem tiver maioria que vença e quem não teve voto pra vencer se submeta.

Acha que os filhos do presidente têm atrapalhado o governo? Uma coisa que eu respeito muito é a família. O presidente tem o papel de governar, a responsabilidade é dele. Dos filhos, eu não falo, porque respeito família.

O presidente disse que fez a parte dele ao enviar o projeto da Previdência e que a bola está com o Congresso. O que o governo deveria fazer? Quem elabora o projeto e quer aprovar tem que se articular. Articulação é ter um diálogo que construa a viabilização dessa aprovação, que forme sua base. Vir para cá o projeto sem articulação significa dizer que o autor do projeto não tem interesse na aprovação ou não está com pressa.

O governo deu sinais de quais ferramentas vai usar para formar essa base? Não. O governo forma a base para governar ou não forma base. É uma opção. Se o governo não precisar aprovar nada no Congresso, ele não precisa estar preocupado em formar base parlamentar. Vai discutir só Orçamento uma vez por ano.

Sem essa estratégia, a reforma da Previdência não passa? Previdência é uma matéria difícil. Por ser difícil, tem que ter estratégia e tem que suar a camisa. Você vai no partido, mas também tem que fazer um trabalho de convencimento de cada parlamentar, na base, na população.

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