Pastor com histórico de imbróglios comandará barricada de Bolsonaro

Silas Câmara lidera bancada evangélica, crucial para o presidente; deputado se diz vítima de ataques

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Brasília

Quando Silas Câmara (PRB-AM) chegou ali era tudo mato, ao menos para um evangélico: em 1999, ano do primeiro de seis mandatos, nem frente parlamentar ligada a essa religião existia.

No começo dos anos 2000, Silas Câmara ajudou a oficializar o primeiro bloco religioso reconhecido no regimento da Casa. "Éramos 17 deputados evangélicos."

O deputado federal Silas Câmara (PRB-AM)
O deputado federal Silas Câmara (PRB-AM) - Cleia Viana - 27.mar.19/Câmara dos Deputado

Discursou sobre a "alegria de pensar que o novo século desponta", em sessão em que homenageou os "formosos pés" de um grupo missionário que, "quando chuta para fazer um gol, alegra o povo", os Atletas de Cristo.

Eram tempos, disse, de ouvir o que "o Senhor Jesus Cristo disse, 'ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura".

Hoje são cerca de 90 parlamentares ligados a alguma igreja evangélica, e Silas, 55, acabou de ser eleito o presidente da bancada deles.

Com histórico de imbróglios judiciais, o pastor da Assembleia de Deus comandará o que a gestão Jair Bolsonaro vê como uma de suas barricadas no Congresso. Uma postura inadequada, na opinião de Silas.

"Errou o governo quando achou que as frentes parlamentares iam conseguir [sustentar suas bandeiras]", diz.

Para ele, "no último momento de decidir qualquer coisa, o deputado será naturalmente influenciado por sua liderança". Exceto, continua, questões de foro íntimo, de religiosidade.

Aí, sim, a bancada que lidera desde quarta-feira (27) tem muito a contribuir, diz.

Silas diz que, por ora, a bancada não precisa priorizar o tema dos costumes, porque já tem em Bolsonaro um aliado natural. Bem diferente de quando o PT governava, e a eles cabia tentar barrar o avanço progressista.

Silas Câmara (PRB-AM) durante reunião em Brasília
Silas Câmara (PRB-AM) durante reunião em Brasília - Pablo Valadares - 13.mar.19/Câmara dos Deputados

A fé está no sangue da família Câmara. Dos cinco irmãos ainda vivos (eram sete), quatro são pastores. E todos os quatro, a certa altura, tiveram suas desavenças com a Justiça.

Em 2010, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal investigaram os três irmãos pastores de Silas, por suspeita de lavagem de dinheiro e evasão de divisas (mais de R$ 20 milhões que teriam ido para o exterior sem declaração ao fisco).

Jonatas preside a Assembleia de Deus no Amazonas, na qual Dan, à época comandante da PM do estado, prega. Samuel também dirige uma Assembleia, mas no vizinho Pará --nos anos 1990, ele articulou a compra, pela igreja, de uma rede de rádio e TV rebatizada de Boas Novas.

Ao ser coroado na bancada evangélica, Silas usou a Boas Novas como exemplo de "redes cristãs líderes de audiência" que devem ser valorizadas. 

É notória a influência dos Câmara no grupo Boas Novas.

Para o deputado, a perseguição contra a família coincide com sua entrada na vida política. "Os ataques pessoais são algo desproporcional."

Frutos de ataques pessoais ou não, fato é que as ações judiciais vêm aos montes.

Em 2017, o STF (Supremo Tribunal Federal) o condenou por falsidade ideológica (três anos de prisão) e uso de documento falso (mais cinco), por entender que, 19 anos antes, ele falsificou documentos. Incluiu em seu registro civil o sobrenome da mãe, Duarte, e com isso tirou novos RG e CPF.

Disse que o fez para homenageá-la. Para a denúncia, a intenção real seria "livrar-se de inconvenientes relacionados a seu verdadeiro nome". Silas não cumpriu pena porque, quando o caso foi julgado, o crime já estava prescrito.

Ainda há uma ação contra ele no STF. O parlamentar é acusado de armar para que parte dos salários de assessores parlamentares fosse recolhida para pagar funcionários que trabalhavam em sua casa.

Em 2018, ele e a esposa, a deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), perderam os direitos políticos após serem condenados por improbidade administrativa na primeira instância. Eles recorreram da sentença e continuam no Parlamento.

A Justiça entendeu que, de 2007 a 2010, ela usou o celular que o marido tinha direito na Câmara para uso pessoal. Antônia, que é missionária na Assembleia de Deus, teria inclusive utilizado o aparelho em sua campanha, numa conta que beirou os R$ 63 mil.

A mesma campanha rendeu outro imbróglio judicial: no mesmo 2010, a Polícia Federal achou R$ 472 mil num carro em que estavam Heber e Milena, filhos do casal. Para o Ministério Público, o dinheiro serviria a Antônia Lúcia para compra de votos e caixa dois, o que ela nega.

Em 2011, o Tribunal Regional Eleitoral do Acre cassou o mandato dela --que, apesar de morar com o marido em Manaus e no apartamento funcional de Brasília, tem título de eleitor no estado. Ela continuou no cargo com liminar do Tribunal Superior Eleitoral.

Antônia Lúcia estava ao lado de Silas quando ele foi ungido como líder pelos pares evangélicos e discorreu sobre as 1.798 proposições que "pessoas de esquerda" protocolaram na Câmara para "fazer nosso povo chorar e sangrar".

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