Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro é evasivo sobre mensagem polêmica e sugere que leiam de novo

Presidente disse que cabe a quem recebeu o texto tirar conclusões

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Brasília

No dia seguinte ao compartilhamento de um texto sobre as dificuldades de seu mandato e que diz que o  Brasil “é ingovernável” sem os “conchavos” que ele se recusa a fazer, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que manda muitas mensagens pelo aplicativo de celular e que cabe a quem as recebe tirar conclusões.

"A mensagem que passei para alguns é de um autor desconhecido. Agora estou sabendo que é de um cara lá do Rio de Janeiro. Não sabia quem ele era. Eu passo muita mensagem por WhastsApp, muita. Geralmente eu não boto ali a minha opinião. Eu boto 'assista', 'tire suas conclusões'", disse Bolsonaro na noite deste sábado (18), ao cumprimentar apoiadores na frente do Palácio da Alvorada.

Bolsonaro fala com visitantes na porta do Palácio da Alvorada
Bolsonaro fala com visitantes na porta do Palácio da Alvorada - Daniel Carvalho/Folhapress

Essa foi a terceira vez no dia que o presidente falou sobre o tema. A mensagem, atribuída por ele a um autor desconhecido, diz que o mandatário estaria impedido de atuar por não concordar com os interesses das corporações. Mais cedo, havia dado declarações na porta do Alvorado e compartilhado publicações no Twitter em que pedia apoio do povo para mudar o país.

À noite, indagado por jornalistas se acreditava no que havia compartilhado, devolveu a pergunta.

"Aí depende de vocês. Você leu? Acredita?", questionou o presidente.

O jornalista disse não ter opinião formada e Bolsonaro emendou.

"Ah, não tem opinião formada? Parabéns. Me reservo o direito de dizer a mesma coisa. Se acabei de dizer que divulgo e deixo para o pessoal decidir, você quer que eu decida aqui agora?".

Os repórteres insistiram perguntando o que o presidente teria a dizer para os que ficaram preocupados com a mensagem e ele apenas disse "leia de novo o texto".

"Este pessoal que divulga isso faz parte do povo, pô. Este pessoal, temos que ser fiéis a eles. Ponto final. Quem tem que ser forte é o povo, quem tem que dar o norte é o povo, não sou eu", disse o presidente ao ir até a portaria do Palácio da Alvorada cumprimentar alunos de uma escola particular de São Paulo.

Bolsonaro foi à portaria do Palácio da Alvorada de sandália, short amarelo e a camisa do segundo uniforme da seleção brasileira para cumprimentar 36 estudantes de uma escola privada de São Paulo que, de longe, gritavam "oh, Bolsonaro, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver".

Os estudantes do Bandeirantes foram a Brasília para uma atividade da escola. Antes da chegada de Bolsonaro, uma das guias do passeio orientou os alunos a respeitar o presidente, mesmo que alguém não gostasse dele. Ganhou de presente uma camisa do primeiro uniforme da seleção.

Ao chegar perto dos alunos, Bolsonaro levantou a camisa para mostrar a cicatriz da facada que levou em setembro do ano passado, durante ato de campanha no interior de Minas Gerais.

​Bolsonaro está encurralado por uma relação desgastada com o Congresso, suspeitas que atingem um de seus filhos e manifestações populares contra seu governo.

O compartilhamento do texto elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros Poderes, com interpretações divergentes sobre as intenções do presidente ao endossar a mensagem —publicada no sábado anterior (11) em rede social por um filiado ao Novo-RJ e replicada em outros grupos. 

Na sexta-feira (17), ao comentar o texto por meio de seu porta-voz, Bolsonaro afirmou que, "infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o país de volta ao trilho do futuro promissor". 

Parte dos auxiliares do presidente no Palácio do Planalto diz que ele se deixa levar por teorias da conspiração espalhadas pelo grupo que segue o escritor Olavo de Carvalho e por influência de seus filhos —o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) já havia exposto conceitos do tipo em rede social.

A mensagem chegou a motivar boatos acerca de eventual renúncia do presidente —alguns aliados viram nela um arcabouço narrativo para uma saída do cargo por culpa de resistências à suposta agenda antiestablishment de Bolsonaro.

 

Seria, para eles, uma espécie de “cenário Jânio Quadros” no mundo político, segundo o qual Bolsonaro poderia emular o presidente que renunciou em 1961 após oito meses de inação, colocando a culpa em supostas “forças terríveis”.

Integrantes do Judiciário e do Legislativo dizem que o presidente recorreu à estratégia do ataque ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar “sair das cordas” naquele que é considerado o pior momento de seu governo.

Também viram no gesto dele uma tentativa de “jogar para a plateia” e se eximir da responsabilidade de governar, transferindo para os demais Poderes a causa dos problemas enfrentados pelo país.

Neste sábado, a hashtag #Impeachmentbolsonaro esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter, assim como a reação, #BolsonaroNossoPresidente.

Ao longo do dia, Bolsonaro procurou pedir apoio e demonstrar que conta com sustentação popular.

Na internet, disse que "somente com o apoio de todos vocês poderemos mudar de vez o futuro do nosso Brasil". 

No Alvorada foi até a portaria duas vezes para falar com visitantes.

Saudado como "mito" pelos estudantes, Bolsonaro levou-os para depois da barreira de segurança e fez fotos em grupo e individualmente.

Durante cerca de meia hora, cumprimentou também outros turistas, fez fotos com crianças no colo e gravou vídeos a pedido deles.

Brincou com temas como futebol, desejou feliz aniversário e recomendou que visitantes de Cajati (SP) fizessem compras na loja da irmã dele.

Ao pegar um bebê no colo e ser informado que era do Rio Grande do Sul, respondeu:

"Já nasceu supermacho. É gaúcho." 

Bolsonaro fala com visitantes na porta do Palácio da Alvorada /
Bolsonaro segura bebê na porta do Palácio da Alvorada - Daniel Carvalho/Folhapress

Congresso

Questionado sobre a relação com o Congresso, Bolsonaro respondeu que a pergunta fosse feita ao chefe do Legislativo.

"Pergunta lá pro presidente do Congresso. Os Poderes são independentes e harmônicos entre si. E, pelo que eu estou vendo, eles querem aprovar as reformas. O Brasil precisa disso. Não sou eu não. É esta garotada", disse referindo-se aos alunos.

Boslonaro também disse esperar que o Parlamento aprove as medidas provisórias que caducam nas duas próximas semanas, inclusive a MP que define a estrutura do governo.

"Espero que aprovem as medidas provisórias como eu mandei para lá. Espero. O Congresso é soberano para decidir, mudar, rejeitar. A bola está com eles. Isso é bom. Se tudo o que eu fizer tiver que ser acolhido, não é certo. Alguma coisa tem que dar um polimento, melhorar. Agora, o foco é o Brasil que está acima de todos nós, juntos", afirmou.

Sobre que ponto queria garantir na MP 870, falou daquele que define o número de ministérios.

"Para que aumentar os ministérios? Responda aí. Não precisa aumentar os ministérios. Vinte e dois. Eu gostaria que tivesse menos. Mas um país deste tamanho... Chegou a ter 39 ministérios. Vinte e oito no governo Temer e passamos para 22", disse Bolsonaro.

O presidente afirmou que, com uma Esplanada maior, teria dificuldade de conhecer todos os ministros.

"É também o conhecer. Se eu botar 39 caras, tem cara que eu vou ver uma vez por ano, não conhece. Vinte e dois eu acho que está de bom tamanho. Acho que o futuro presidente, que ganhar as eleições de 2022, pode baixar mais dois ou três e vai arrumando o Brasil."

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