Chamadas de vídeos unem Bolsonaro à mãe no interior de SP

Olinda Bonturi Bolsonaro, 92, tem Alzheimer e vive com a filha caçula em um condomínio fechado

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São Paulo

Aos 92 anos e com Alzheimer, Olinda Bonturi Bolsonaro às vezes esquece quem é o presidente da República. Ela viu a eleição do filho, compareceu à zona eleitoral para votar e foi de cadeira de rodas ao Palácio do Planalto para a posse, mas costuma perguntar à filha caçula quem ocupa o cargo mais importante do Executivo.

Neste Dia das Mães, Olinda vai estar a 1.211 km da casa do filho mais famoso. A mãe do presidente vive em Cajati, cidade de 28 mil habitantes no Vale do Ribeira, que fica 230 km ao sul de São Paulo. Mora num condomínio fechado, com Vânia, a mais nova de seus seis filhos. Na rua, silenciosa e sem saída, circulam só os carros dos moradores.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) posta foto com mãe, Olinda, durante a Páscoa em rede social
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) posta foto com mãe, Olinda, durante a Páscoa em rede social - Reprodução/Instagram

Na última semana, quando esteve lá, a Folha encontrou Vânia num intervalo para o almoço. Ela trabalha perto dali, numa de suas lojas de móveis.

Disse que a mãe gosta de assistir à TV. Vê programas curtos, sobre gastronomia e a vida no campo. Os lapsos de memória a atrapalham para compreender narrativas mais longas.

A pintura, o hobby de que Olinda mais gostava e que aprendeu num curso por correspondência décadas atrás, foi deixada de lado.

Vânia consultou os irmãos, que preferiram que a mãe não desse entrevista. "Ela já é bem de idade, 92 anos é para poucos." Segundo a irmã do presidente, no começo da semana anterior Olinda esteve com uma outra filha, Maria Denise, com quem passou uns dias, numa cidade próxima.

Cinco dos seis filhos —Jair é o terceiro— moram no Vale do Ribeira: além de Vânia e Maria Denise, Renato Antônio, Angelo Guido e Maria Solange estão num raio próximo à mãe e devem se reunir por lá para o tradicional almoço de família neste domingo (12).

Desde que assumiu a Presidência, os encontros de Jair com a mãe são cada vez mais raros. "Hoje, por causa do Alzheimer, não é a mãe que vê o filho. É o filho que vê a mãe", disse a caçula. O próprio Bolsonaro comentou, em entrevista recente à RedeTV!, que a mãe está "com seus problemas de esquecimento e troca o nome do filho".

Para atenuar a distância entre a mãe e o irmão, Vânia lança mão de chamadas de vídeo por celular. A última vez em que os dois se encontraram pessoalmente foi em abril, em Guarujá, durante o feriado de Páscoa. Olinda foi e voltou de carro no mesmo dia e encontrou o presidente no hotel militar onde descansava.

Nas redes sociais, Bolsonaro publicou uma foto com ela e escreveu: "Bom ter você comigo nesta Páscoa, mãe!".

Desde que se elegeu, ele costuma registrar publicamente os encontros com a mãe. No dia da posse, postou uma imagem, com a faixa presidencial e abraçando Olinda. "Obrigado por tudo", escreveu.

Quando voltava de Brasília, Olinda foi abordada por uma eleitora do filho, que gravou um vídeo dentro do avião.

Ela pediu que a mãe do presidente mandasse um beijo para os admiradores paulistas. Com dificuldades, Olinda disse: "Ai, queria falar tanta coisa, mas não sei". Depois, mandou um beijo "no coração de todos" e foi chamada de "mita".

De família imigrante italiana, a dona de casa Olinda Bolsonaro passou parte da vida na zona rural e sempre gostou de ler. Casou-se com o dentista prático Percy Geraldo Bolsonaro, e os dois se estabeleceram em Eldorado (a 230 km de São Paulo, também no Vale do Ribeira). Ali, o marido chegou a disputar a eleição para a prefeitura, mas não se elegeu.

Percy rodava pelo interior em busca de pacientes. "Ninguém passou fome, mas era uma vida bem simples", lembra Vânia. Olinda ficava em casa cuidando das crianças, que estudavam em escola pública. Segundo o presidente, os pais tiveram sete filhos. "Mas perdeu um ainda jovem em Ribeira", disse, em um vídeo.

Vânia conta que a disciplina rígida partia do pai, morto em 1995, sobretudo quando o assunto era a sala de aula. Mas era Olinda quem ajudava a fazer as lições de casa. Nos momentos de lazer, a prole era liberada a frequentar os bailes do Vale do Ribeira.

Mas havia regras claras: as meninas precisavam ir de vestido longo, e todos tinham hora certa para voltar para casa. O objetivo da mãe, diz Vânia, era "criar filhos dignos".

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