Livro revê trajetória dos irmãos Batista e bastidores da delação que abalou Temer

'Why Not' conta a história da JBS e narra movimentos políticos dos irmãos Joesley e Wesley

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em 2016, às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff (PT), o empresário Joesley Batista jogava em mais de uma posição. Um dia oferecia dinheiro para obter apoio à presidente no Congresso, no outro prometia ajudar seus adversários a financiar uma campanha pela sua deposição nas redes sociais.

Em 2017, dias após começar a negociar um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, Joesley procurou um aliado do presidente Michel Temer (MDB) para incentivá-lo a concorrer à reeleição, embora já soubesse que ele seria o alvo principal das suas acusações.

Como a jornalista Raquel Landim mostra ao narrar os dois episódios em "Why Not", um novo livro sobre a trajetória da família Batista, Joesley se moveu na política com a mesma audácia que marcou sua ascensão no mundo dos negócios. Mesmo quando não se sabia de que lado ele estava, era fácil perceber que os interesses das suas empresas estavam sempre acima de tudo.

O empresário Joesley Batista ao deixar avião da Polícia Federal em Brasília
O empresário Joesley Batista ao deixar avião da Polícia Federal em Brasília - Evaristo Sá - 11.set.2017/AFP

O livro conta a história da JBS desde as origens até os dias de hoje, mostrando como os Batistas transformaram um açougue em Goiás na maior processadora de carnes do planeta, e como conseguiram escapar da ruína e preservar boa parte dos seus negócios mesmo depois da prisão de Joesley e de seu irmão, Wesley.

Repórter associada da Folha, Landim trabalhou por dois anos em suas pesquisas e entrevistou uma centena de pessoas para reconstituir diálogos e episódios que narra no livro, mas optou por manter em sigilo a identidade das suas fontes. O título da obra ("Por que não", em português) remete ao nome de um iate de Joesley.

Em sua delação premiada, Joesley apontou Michel Temer como líder de um esquema de corrupção e disse que ele o incentivou a comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ), que foi preso em 2016 e é acusado de receber propina para facilitar negócios dos irmãos Batista e de outros empresários.

Joesley gravou um encontro com Temer no Palácio do Jaburu e também entregou às autoridades gravações de conversas comprometedoras que teve com o então senador e hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e outros políticos.

Landim faz uma reconstituição minuciosa das negociações dos Batistas com as autoridades e sustenta que o envolvimento do ex-procurador Marcello Miller com o processo foi maior do que ele admite.

Segundo o livro, Miller, que na época estava se desligando da Procuradoria para trabalhar como advogado no setor privado, assessorou os irmãos Batista desde o início e os ajudou a redigir os documentos em que detalharam os fatos que pretendiam revelar com a sua colaboração.

Depois que a extensão do envolvimento de Miller com os Batistas foi revelada, a Procuradoria-Geral da República pediu a rescisão dos acordos assinados com os irmãos e acusou o ex-procurador de corrupção. O Supremo Tribunal Federal deve julgar o caso no segundo semestre.

Landim também sustenta que Joesley decidiu gravar os políticos com quem se relacionava sem que tivesse recebido orientação dos procuradores para fazê-lo. De acordo com o livro, o empresário só revelou às autoridades a existência da gravação com Temer na etapa final das discussões.

Mas a jornalista mostra que o presidente era tratado pelos negociadores como alvo potencial desde o início das conversas. "Se vocês tiverem algo contra o presidente da República, muda o jogo", disse o promotor Sérgio Bruno Cabral Fernandes aos advogados dos Batistas durante uma reunião, de acordo com o livro.

A delação premiada foi a maneira encontrada pelos irmãos Batista para proteger suas empresas num momento crítico, em que se viram acossados por investigações sobre o apoio que a expansão internacional dos seus negócios recebeu de bancos públicos e de fundos de pensão nos anos em que o PT esteve no poder.

Somente o braço de investimentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) desembolsou R$ 5,6 bilhões para apoiar os projetos da JBS.

Mas Landim mostra que nem sempre os Batistas conseguiram o que queriam. Ela conta que, em 2009, quando foi ao BNDES pedir dinheiro para investir na produção de celulose, Joesley revelou tamanho desconhecimento do setor em que desejava entrar que assustou o banco --e voltou para casa de mãos vazias.


Why Not
Autora: Raquel Landim.
Editora: Intrínseca.
R$ 49,90 (432 págs.).
Lançamento nesta quinta (23), a partir de 19 horas, na Livraria da Vila: al. Lorena, 1.731, Jardim Paulista, São Paulo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.