Todo estudante de jornalismo quer ser o Clóvis Rossi quando crescer. Eu não era diferente.
Quando soube que dividiria minha primeira cobertura com o Rossi —ele pela Folha, eu pelo Estadão, na época em que eu era correspondente em Washington— fiquei em pânico.
Primeiro, porque ia conhecer o mito Clóvis Rossi. Segundo, porque estava morrendo de medo de levar um furo.
Era setembro de 2009, em Pittsburgh, nos EUA, e começava a primeira reunião de cúpula do G20, o grupo das maiores economias do mundo criado após a crise financeira de 2008.
Centenas de jornalistas do mundo todo se acotovelavam na sala de imprensa e tentavam pescar algo nas entrevistas coletivas, mas sabíamos que as verdadeiras notícias só sairiam dos bastidores —e isso, só o Rossi ia conseguir fazer.
Vi o Rossi falando com uma fonte importante. Cheguei perto, neurótica, com medo de levar um furo — jargão jornalístico usado quando o concorrente publica uma informação importante antes de você.
A fonte estava bem mal-humorada comigo, porque eu havia acabado de escrever uma reportagem de que ele não havia gostado. A fonte foi bem ríspida —“Com essa aí eu não falo”.
O Clóvis Rossi nem me conhecia. Eu era uma fedelha do jornal concorrente que tinha chegado junto no meio da conversa dele. O que ele fez?
“Essa aí é uma jornalista que deve ser respeitada”, disse o Rossi. Ele não estava preocupado se iria de indispor com a fonte dele, perder acesso a informações.
Ele me defendeu, e nem me conhecia. E eu era a fedelha do jornal concorrente.
Foi naquele momento que me dei conta de que eu não queria ser apenas a jornalista Clóvis Rossi quando crescesse. Eu queria ser a pessoa Clóvis Rossi quando crescesse.
Já passei dos 40, e ainda estou muito longe disso. Mas vou continuar tentando. É o mínimo que eu devo a ele, depois de tanto que ele me ensinou e me ajudou.
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