O jornalista Clóvis Rossi, morto na madrugada desta sexta-feira (14), aos 76 anos, escreveu na Folha durante quase 40 anos.
Como repórter, fez coberturas de eventos históricos, viagens de vários presidentes brasileiros, Copas do Mundo e Olimpíada e foi correspondente da Folha em Buenos Aires e Madri.
Desde 1987, assinava colunas no jornal sobre variados temas, dentre os quais política brasileira e internacional, além de opiniões sobre economia, esporte ou alguma cena quente do noticiário.
Abaixo, uma seleção de colunas marcantes, da mais recente à mais antiga de todas, publicadas por Rossi na Folha.
Boletim médico
12.jun.2019 - a última coluna
Serve a presente coluna para explicar minha ausência desde domingo (9) nas páginas desta Folha.
É uma satisfação devida ao leitor, se é que há algum. Sofri um micro-infarto na sexta (7), fiz a angioplastia, recebi um stent e, na terça (11), outra angioplastia, com mais quatro stents.
Cenas explícitas de absurdos em exibição em um país perto de você
20.mai.2019
Iniciei minha vida profissional, em 1963, cobrindo momentos da conspiração que desaguaria no golpe de 1964. Tenho, portanto, 56 anos de estrada no acompanhamento de crises neste país tropical que parece viciado nelas.
Com tanta experiência, confesso que jamais vi uma crise como a que se desenrola nestes meses. Não sei dizer se é mais ou menos grave que alguma outra ou que todas as outras. Não há um metro exato para medir cada crise.
Acabou, Nicolás, fuja enquanto dá
23.jan.2019 - a coluna mais lida de Rossi nos últimos dois anos
Nunca vi, em tantos e tantos anos de cobertura de manifestações de massa, uma multidão tão impressionante como a que se reuniu nesta quarta-feira (23) em Caracas para repudiar a ditadura de Nicolás Maduro.
Não resta, pois, a mais remota dúvida de que a Venezuela em massa rejeita Nicolás Maduro.
Só Deus pode salvar o novo Itamaraty
15.nov.2018
Lembra-se do Cabo Daciolo, aquele candidato presidencial cujo bordão permanente era “Glória a Deus"? Pois é, uma versão teoricamente intelectualizada do Cabo acaba de ser escalada para o Itamaraty.
Chama-se Ernesto Henrique Fraga Araújo.
Moro reprovado no teste da mulher de César
2.nov.2018
Não há como provar que Moro condenou Luiz Inácio Lula da Silva para afastá-lo da disputa eleitoral e, assim, abrir o caminho para outro candidato, que acabou sendo Jair Bolsonaro, o que agora convida o juiz para ser um superministro da Justiça.
O próprio Bolsonaro deu corda na suspeição, ao dizer que o trabalho de Moro, "muito bem feito", o ajudara a crescer politicamente.
Um país primitivo prestes a regredir mais
19.out.2018
Não há como não pensar em Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda nazista, ao ler o texto da extraordinária repórter que é Patrícia Campos Mello sobre a máquina de ”fake news” montada por empresários admiradores de Jair Bolsonaro para atacar Fernando Haddad.
A Goebbels se atribui a frase "uma mentira mil vezes repetida vira verdade". Os admiradores de Bolsonaro superaram Goebbels: em vez de "uma mentira" dispararam milhares delas.
A raiva venceu. Apertará confirmo dia 28?
8.out.2018
Para parafrasear um slogan que se tornou viral, como se diz hoje, oresultado do primeiro turno pode ser lido como a raiva venceu a esperança (ou qualquer outro sentimento positivo).
Pensando bem, não é que a raiva venceu no domingo. Na verdade, ela já vinha vencendo antes, desde pelo menos 2013, o ano dos grandes protestos contra, basicamente, tudo o que está aí.
O problema não é Bolsonaro, é quem vota nele
11.set.2018
O problema não é Jair Bolsonaro. O problema são os que se dispõem a votar nele e que constituem, segundo o mais recente Datafolha, um terço dos eleitores (no segundo turno). Ou, mais corretamente, o problema é o sinal enviado por essa parcela do eleitorado.
Desisto, a civilização não é para o Brasil
29.mai.2018
Que Michel Temer é despreparado para presidir a República não chega a ser propriamente uma novidade. Se não fosse um político medíocre, teria sido lembrado (pelo menos lembrado) para ser o candidato de algum partido ao governo do seu Estado (não foi lembrado nem para ser candidato a prefeito de sua cidade).
Ainda assim, choca o colossal fracasso dele e do conjunto do governo para lidar com o locaute das transportadoras, travestido de greve de caminhoneiros.
Quando a democracia era só festa
15.jun.2017
As mulheres despindo-se pouco a pouco nos cartazes dos cinemas na Gran Vía, a principal rua do centro de Madri. Essa é uma das imagens que mais me marcaram na cobertura da transição espanhola do autoritarismo para a democracia, que completa nesta quinta-feira (15) exatos 40 anos, a contar da eleição geral de 1977.
Ditaduras, quaisquer que sejam, impõem um véu de hipocrisia à sociedade, do qual faz parte cobrir o corpo das mulheres (e dos homens também) como se expô-los fosse um grito de liberdade que deveria ser calado.
Memórias da esperança
17.jun.2003
Minha primeira viagem internacional foi justamente a Assunção, para disputar (e ganhar) um sul-americano de basquete (de clubes), pelo E. C. Sírio. Faz mais de 40 anos.
Assunção parecia muito pobre e muito sem futuro, porque capital do único país sob ditadura entre aqueles que cabiam no horizonte de um moleque de 17 para 18 anos (o Uruguai, a Argentina e o próprio Paraguai).
Banespa, cérebro e alma
22.nov.2000
Já escrevi mais de uma vez, neste espaço, que, entre minhas incontáveis e enormes qualidades, não está a de ser nacionalista.
Ainda assim, acabou sendo um choque a ilustração publicada na capa da Folha de ontem, em que a bandeira do banco espanhol Santander substitui a do Estado de São Paulo no topo do edifício do Banespa.
Um mau começo
29.ago.1987
A segunda e decisiva fase dos trabalhos constituintes começou ontem no exato nível do subdesenvolvimento político e cultural do país: o presidente da Comissão de Sistematização, senador Afonso Arinos, recebeu para almoçou e para uma discussão sobre o sistema de governo quatro dos ministros militares, que, como todo mundo o sabe, são as pessoas investidas da representatividade e do saber político e jurídico indicado para debater esse tipo de questão.
O teste de Medeiros
26.ago.1987 - a primeira coluna publicada na Folha
Cinco dias depois da malograda greve geral que o transformou em estrela em ascensão do sindicalismo brasileiro, Luis Antônio de Medeiros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, começou, ontem [25 de junho de 1987] pela manhã, a preparar-se para o verdadeiro teste de sua liderança: a campanha salarial dos metalúrgicos paulistanos, cuja data-base é novembro.
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