Convocadas em apoio ao ministro Sergio Moro, manifestações de rua previstas para este domingo (30) caminham para um repertório mais amplo de bandeiras, que envolvem, além do apoio ao ex-juiz, projetos do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O mote inicial surgiu após a publicação do vazamento de mensagens trocadas por Moro com procuradores da força-tarefa da Lava Jato quando ele ainda atuava na operação. A revelação dos diálogos, iniciada pelo site The Intercept Brasil em 9 de junho, deixou o titular da Justiça sob ataque.
Movimentos como VPR (Vem pra Rua), MBL (Movimento Brasil Livre) e Nas Ruas, que foram indutores de protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), capitaneiam a organização, ao lado de grupos de menor capilaridade, que mantêm páginas em redes sociais.
Organizadores apostam em adesão alta, mas evitaram ao longo da semana fazer estimativas sobre o número de pessoas que devem comparecer aos atos, previstos para cidades em todo o país.
O VPR, com acompanhamento em tempo real, contabilizava até a manhã deste domingo concentrações marcadas em 203 cidades e mais de 318 mil pessoas convidadas. A lista incluía atos fora do Brasil, em lugares como Nova York, Lisboa, Genebra e Buenos Aires
Diferentemente do que ocorreu em 26 de maio, quando motes considerados radicais afastaram o VPR e o MBL das manifestações pró-governo, desta vez os dois grupos estão engajados na mobilização e alinharam as pautas.
Além de Moro, os grupos à frente das convocações inseriram a defesa da reforma da Previdência e a reivindicação pela aprovação do pacote anticrime como bandeiras a serem agitadas nas ruas.
A percepção, contudo, é de que o ministro será a figura de maior evidência, por algumas razões: 1) o discurso anticorrupção é definidor do perfil das pessoas que vão a esse tipo de protesto; 2) a repercussão das mensagens vazadas ocupa o noticiário há três semanas e 3) o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no STF (Supremo Tribunal Federal) deixou em alerta entusiastas da Lava Jato.
Para os grupos, a sessão da corte na terça-feira (25), que esteve perto de terminar com um desfecho favorável para o petista, funcionou como um “esquenta”, ao sinalizar que o combate à corrupção no Brasil estaria ameaçado.
Embora tenha mantido a prisão de Lula, o STF voltará a analisar no segundo semestre o questionamento da defesa do ex-presidente —que aponta falta de imparcialidade do ex-magistrado na Lava Jato.
“Eu estou muito em paz [com a ideia de] que o Sergio Moro, para nós, continua sendo aquela pessoa que nos representa no combate à corrupção”, diz Adelaide Oliveira, coordenadora nacional do VPR. “Estamos indo para a avenida de verde e amarelo para nos manifestarmos por pautas propositivas.”
No caso do MBL, a defesa enfática de Moro neste domingo é também estratégia para mostrar que o movimento se mantém ao lado do ministro, mesmo após a divulgação de uma mensagem em que o então juiz se referia a membros do grupo como tontos.
“Nosso apoio segue intacto”, afirma Renan Santos, um dos fundadores do MBL. “Não dá para avaliar as pessoas por conversas privadas. O certo é julgá-las pelas atitudes delas”, segue ele, minimizando o adjetivo usado por Moro em 2016 em um diálogo com Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa no MPF (Ministério Público Federal).
Embora rechacem a ideia, tanto Adelaide quanto Renan concordam que os atos podem ganhar tintas de marcha pró-Bolsonaro, já que os participantes são livres, por exemplo, para levar cartazes e gritar palavras de ordem.
Também não está descartada a inclusão de outros temas, que aparecem em convites espalhadas nas redes sociais, como o apoio à campanha do governo para facilitar o acesso a armas, o repúdio ao Congresso Nacional —visto pelo núcleo duro do bolsonarismo como um obstáculo para o presidente— e o ataque a ministros do STF.
O grupo Ativistas Independentes, por exemplo, já avisou que irá, sim, disparar contra esses alvos. O movimento estenderá faixas com a frase “Lava Jato prende, STF solta”.
Também anunciou que criticará os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chamados pela organização de “atraso do Brasil”.
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