Policial assessor de Flávio Bolsonaro atacou empresário em cobrança de dívida no Rio

Policial deixou cargo junto com Queiroz, pivô da investigação do Ministério Público

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Rio de Janeiro

​Um policial militar que atuava como assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro (PSL) é acusado de lesão corporal ao cobrar uma suposta dívida de R$ 50 mil de um empresário do Rio de Janeiro. Esse mesmo PM é suspeito também de outras duas ocorrências (desvio de energia elétrica e delito ambiental).

Esse ex-assessor de Flávio é o sargento Marcos de Freitas Domingos, 46. Ele é um dos 70 assessores e ex-assessores do gabinete do filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que tiveram seus sigilos quebrados por ordem da Justiça do Rio.

Segundo o Ministério Público, há indícios robustos dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de Flávio de 2007 a 2018, na Assembleia Legislativa do Rio.

Domingos foi desligado do gabinete do hoje senador em 15 de outubro passado, mesmo dia da exoneração de Fabrício Queiroz, pivô dessa investigação da Promotoria e amigo do presidente.

A apuração foi aberta após um relatório do governo federal ter apontado movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. Fazem parte do rol dos investigados as filhas de Queiroz e mãe e a mulher de um ex-PM acusado de comandar uma milícia na zona oeste do Rio.

Sargento da PM Marcos de Freitas Domingos, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL)
Sargento da PM Marcos de Freitas Domingos, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL) - Reprodução
A ocorrência de agressão contra o PM foi registrada em uma delegacia da Penha, na zona norte do Rio, região palco de conflitos entre milicianos e traficantes.
 
Localizada pela Folha, a vítima da agressão, o comerciante do setor farmacêutico A., 42, afirma que tudo foi gravado em vídeo e que as imagens foram entregues à Polícia Civil e à Corregedoria da PM.

A reportagem apurou que uma investigação conduzida pela PM concluiu que houve a agressão e recomendou a abertura de processo criminal e medidas administrativas contra Domingos. Também foi aberta uma sindicância na Assembleia do Rio, que resultou na devolução de Domingos para a PM.

Segundo a vítima, Domingos apareceu em sua casa na manhã de 27 de fevereiro de 2018, quando o PM ainda atuava como assessor parlamentar de Flávio. O policial estava acompanhado de um homem até agora não identificado. Ele pediu para falar com A., que os recebeu na área interna do condomínio em que morava, na Penha.
 
Segundo a vítima, Domingos disse que havia emprestado R$ 50 mil a um ex-sócio do comerciante e, por isso, estava ali para cobrar metade da dívida. O comerciante teria dito que a questão deveria ser resolvida com seu ex-sócio, que havia tomado emprestado o dinheiro do policial.

“Eu sentei na cadeira para entender o que ele [Domingos] queria. O cidadão que estava com ele então me desferiu um tapa na cara que jogou meu celular no chão. Eu me levantei e eles vieram para cima de mim. O Marcos [Domingos] me disse: 'Você vai me bater? Eu sou polícia'. Aí a coisa tomou outro rumo."
 
"Eu tentei esquivar, o Marcos [Domingos] partiu para cima de mim, tentando me dar um soco. Toda hora metendo a mão em arma, falando que ia fazer e acontecer”, disse o comerciante. 
 
Na sindicância da Assembleia, A. disse que, na sequência, Domingos também lhe deu um tapa e tentou chutá-lo "várias vezes", havendo "quase uma luta corporal" entre os três.

A. afirmou que, embora passados 15 meses, a agressão “é a única coisa que perturba” a sua vida.
 
“Isso dorme e acorda comigo todos os dias. Eu só não fiz besteira na minha vida porque tenho três filhos e prezo muito pela minha família e pelos meus princípios”, disse o comerciante.
 
Ele afirmou que procurou pelo menos três órgãos públicos em busca de uma providência que, para ele, segue demorando.

A reportagem localizou Domingos, por telefone. Ele disse que trabalhava no gabinete de Flávio em “agenda externa nos batalhões” da Polícia Militar. “Agenda externa é um trabalho de rua”, explicou o PM. Afirmou que nos quartéis explicava os trabalhos do deputado e também recebia demandas da corporação.

“Eu falava da corporação, exatamente”, disse o policial. Ele negou ter feito pagamentos para Fabrício Queiroz ou ter sido orientado a fazer depósitos para ele —Queiroz já admitiu que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete.
Indagado sobre a acusação de lesão corporal, ele disse que as respostas seriam dadas pelo seu advogado, Cláudio dos Santos.

Domingos é alvo de outras duas ocorrências policiais, uma por suposto desvio de energia elétrica para um trailer de lanches e a outra por suposto delito ambiental ao cimentar um pedaço de uma praça.
 
Em entrevista à Folha, o advogado de Domingos disse que a dívida de R$ 50 mil foi feita por volta de 2014 e “não foi um negócio pactuado formalmente, foi tudo verbal”, por isso não há documentos que comprovem o empréstimo.
 

O advogado reconheceu que Domingos “fez um empréstimo a uma determinada pessoa e naturalmente foi querer cobrar”. “Os ânimos se exaltaram evidentemente e ele reconhece que exagerou na medida. E o cara ameaçando, dizendo que ia fazer e acontecer, que não vai pagar porcaria nenhuma mesmo. E os ânimos se exaltaram e ele acabou cometendo um desatino de dar um tapa lá no cidadão”, disse o advogado.

Outro lado

Em nota, a assessoria de Flávio Bolsonaro informou que Domingos foi funcionário no gabinete da Assembleia por dois anos e era qualificado para a função. Disse que os supostos atos cometidos por ele, fora do expediente, eram de responsabilidade dele e que somente Domingos pode responder por essas ações.

O advogado do PM disse que seu cliente “tem ficha limpa, impecável” e que “nunca teve nenhum problema dessa natureza".

Sobre a acusação de furto de energia, disse que Domingos e um amigo "na verdade foram as vítimas” porque teriam acreditado em uma pessoa que se apresentou como funcionário da empresa estatal de energia. Sobre a outra investigação o advogado disse que houve no máximo um problema de natureza administrativa.

"Consistiu num cimentado em torno do quiosque", sem supressão de vegetação, disse o advogado.

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